Muitos adultos — pais, professores, educadores — repetem que os adolescentes não gostam de ler. Mas, se olharmos com atenção, veremos que isso nem sempre é verdade. Há inúmeros best-sellers de suspense, romance e ficção que fazem grande sucesso entre o público adolescente, o que indica que eles leem sim — mas talvez as escolhas oferecidas ou impostas não dialoguem com seus interesses.
Assista o novo episódio:
O panorama da leitura entre jovens
Segundo o Relatório Jovens na Ibero-América 2021, 67% dos jovens brasileiros entre 15 e 29 anos dizem gostar de ler, porém leem, em média, apenas dois livros por ano. Por outro lado, a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2024) revela que 53% dos brasileiros não leram sequer uma página de livro nos três meses anteriores à pesquisa.
Outro dado que chama atenção: entre os alunos de 15 e 16 anos, 66,3% nunca leram um livro com mais de dez páginas — o que sugere que muitos jovens até “experimentam” a leitura, contudo abandonam projetos mais longos.
Esses números não significam, necessariamente, que os adolescentes “não leem”, e sim apontam para uma lacuna (como veremos a seguir) de gênero, formato, aprofundamento — ou uma desmotivação causada pela imposição de leituras que não correspondem às afinidades deles.
A psicopedagoga Gabriela Bueno traz um ponto essencial: “A primeira questão para a gente instigar a leitura nos adolescentes é avaliar se nós, enquanto pais ou educadores, estamos lendo. O exemplo arrasta. Então não adianta eu querer que o meu filho leia se eu mesmo ainda não construí esse hábito.”

Essa frase é poderosa, porque mostra que o ato de ler não é só uma obrigação para o outro, mas uma cultura que precisa ser vivida. Em gestos pequenos, o adulto pode despertar o interesse.
Além disso, Gabriela recomenda um passo bastante prático para quem quer começar com adolescentes ou crianças que ainda não têm hábito de leitura: “No início, para o adolescente que ainda não criou o hábito da leitura — ou da própria criança que não tem esse hábito —, é construir um momento de leitura conjunta com os pais, ou com o professor, em que possa existir essa troca depois da leitura. Na sala de aula, cada um lê uma narrativa que goste mais e depois compartilha; em casa, o pai lê um trecho, a criança ou o adolescente lê outro trecho. A partir disso, essa autonomia vai sendo conquistada aos poucos”, pondera.
No vídeo do Quem foi que Disse?, você acompanhará relatos de adolescentes que leem, sim — especialmente quando encontram histórias que ressoam com suas vivências, emoções e curiosidades.
A leitura entre adolescentes talvez não seja um problema de desinteresse, mas de conexão. Quando a escola e a família oferecem espaço para a escolha e o diálogo, os jovens mostram que querem, sim, ler — desde que possam reconhecer-se nas histórias. O desafio, então, é coletivo: descobrir quais narrativas despertam o olhar de cada leitor em formação.
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