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Diagnósticos estão na moda? E o sujeito, onde fica?

Estão nas redes sociais, nas conversas informais, nas escolas, nos ambientes de trabalho e por aí vai…

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Diagnósticos estão na moda? E o sujeito, onde fica?
Virou moda dar diagnóstico em tudo. Foto: Divulgação.

Nos últimos anos, expressões como autismo, TDAH e transtornos de ansiedade passaram a aparecer com grande frequência. Estão nas redes sociais, nas conversas informais, nas escolas, nos ambientes de trabalho e por aí vai…

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O tema ganhou visibilidade — mas também trouxe uma dúvida que se impõe quase naturalmente: será que esses diagnósticos realmente aumentaram ou será que, em algum grau, começamos a buscar neles uma explicação rápida para comportamentos, angústias e dificuldades que são próprias da vida?

A reflexão não busca negar a importância de identificar quadros clínicos; ao contrário, ela convida a pensar se, por vezes, o rótulo não chega antes da escuta, antes da história singular de cada sujeito.

A tendência de recorrer a diagnósticos como primeira resposta também é percebida dentro das escolas e universidades. Para Lucas, estudante de 19 anos, o assunto precisa ser enfrentado com mais seriedade. “É urgente falar sobre a banalização do diagnóstico. Como estudante, vejo isso acontecer o tempo todo. Existem muitos diagnósticos, sim, mas parece que está tudo muito rápido, muito fácil. Às vezes, antes mesmo de entender o contexto, já há alguém dizendo que ‘é TDAH’, que ‘é ansiedade’. Isso preocupa”, afirma.

O estudante Lucas, de 19 anos, comenta sobre a rapidez como hoje os diagnósticos são feitos. 

O psiquiatra Antônio Aranha, ouvido pela reportagem, concorda que há um movimento de excesso — e, principalmente, de pressa — no processo diagnóstico.

Segundo ele, etapas básicas da investigação acabam sendo ignoradas. “Hoje, existe, sim, um excesso de diagnósticos. E uma parte disso nasce da pressa. Muitas vezes, não se faz o básico antes de rotular uma criança ou um adolescente. Perguntas simples, mas fundamentais, ficam pelo caminho: como essa criança se comporta em sala de aula? Ela é acolhida? O professor é empático? Está dormindo bem? Como estão as relações dentro de casa? Há um conjunto de fatores que precisam ser observados antes de se chegar a qualquer conclusão clínica”, destaca.

Essa aceleração, apontam especialistas, pode transformar o diagnóstico em uma espécie de atalho para algo mais complexo. Uma explicação que chega rápido, porém que nem sempre dá conta do que realmente está acontecendo.

Aranha reforça que, em muitos casos, a criança ou o adolescente acabam carregando tensões familiares que não são percebidas de imediato. “Em muitos casos, a criança ou o adolescente acabam funcionando como um para-raio de uma estrutura familiar disfuncional. Isso gera um incômodo enorme nos pais — e, junto com ele, culpa. O diagnóstico, nesse contexto, pode oferecer uma espécie de alívio: ele organiza, enquadra, dá um nome para algo que é mais complexo. Mas, ao mesmo tempo, corre o risco de mascarar questões que não são só da criança, mas do ambiente ao redor dela”, explica o psiquiatra.

Para o psiquiatra Antônio Aranha, há um movimento de excesso — e, principalmente, de pressa — no processo diagnóstico. 

O uso de medicação, outro ponto frequentemente associado ao diagnóstico, também merece cautela. Para Aranha, o remédio tem sua função, contudo não pode ser encarado como solução definitiva. “O medicamento tem seu papel e pode ser muito útil, especialmente em determinados períodos. Mas ele está longe de ser uma pílula mágica, uma varinha de condão que resolve tudo. Isso não existe. Somos seres em constante desenvolvimento: precisamos evoluir, nos transformar, amadurecer. O remédio, quando necessário, ajuda — mas não substitui o processo”, completa.

No centro de todas essas reflexões está o sujeito — com sua trajetória, suas nuances, suas relações e seu contexto. O debate sobre diagnósticos não deve ser entendido como negação ou desqualificação da clínica, e sim como um chamado à responsabilidade: olhar para cada pessoa em sua complexidade, sem reduzir sua experiência à categoria na qual melhor pareça encaixar-se.

Em um tempo que pede respostas rápidas, talvez o maior gesto de cuidado seja justamente desacelerar, escutar e lembrar que nenhum rótulo, por mais preciso que seja, dá conta sozinho de quem alguém é.

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    Isabela Collares

    Isabela Collares é jornalista em Foz do Iguaçu e apresentadora do quadro "Quem foi que te disse?".