Delegacia de Homicídios investiga mortes em ação da PM no Porto Meira

Familiares de Ismael Flores, de 19 anos, afirmam que ele não tinha arma nem envolvimento com crime e se dirigia à sua moradia ao ser morto.

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A 6.ª Subdivisão de Polícia Civil (SDP) de Foz do Iguaçu apura as circunstâncias da morte de duas pessoas durante ação de policiais militares no Porto Meira, na noite de quinta-feira, 27. As equipes teriam atendido a uma ocorrência de roubo na localidade, resultando na perda de vidas.

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A Polícia Civil não confirma o nome das vítimas. O obituário oficial do município registra que Ismael Moray Flores, de 19 anos, e João Carlos dos Santos, de 34 anos, morreram no mesmo horário, às 23h30, por causa violenta – “perfuração por arma de fogo” –, na Rua Ágata, no Ouro Verde, que faz parte da região do Porto Meira.

As mortes ocorreram após policiais militares abordarem dois suspeitos de roubo que estavam em uma moto. Um se rendeu, e o outro, João Carlos, teria fugido, sendo perseguido pelos policiais, que relatam posterior troca de tiros. Uma terceira pessoa, o jovem Ismael, também morto a tiros, passava pelo local sem ter relação com a ocorrência, afirma a sua família.

“A PCPR foi acionada para dar atendimento a uma ocorrência com duas mortes”, relata a Polícia Civil. “De acordo com o histórico de acionamento, houve um confronto armado com policiais militares, após uma situação de roubo a residência, onde duas pessoas do sexo masculino, aproximadamente 25 anos de idade, entraram em óbito”, segue.

Imediatamente ao tomar conhecimento de seu óbito, familiares e amigos de Ismael usaram as redes sociais para dizer que o atendente em um shopping não tinha arma nem envolvimento com o crime. Ele retornava da casa de sua mãe, que também fica no bairro, e estava perto de chegar à sua moradia, reiteram.

Obituário informa as duas mortes no Porto Meira – foto: Reprodução


Imagens de câmeras de rua veiculadas nas mídias digitais mostram uma pessoa, que seria Ismael, passando perto do local e no horário correspondente à abordagem policial aos dois suspeitos na moto. Ele desceu a rua para a sua casa, sendo morto no cerco das equipes da PM ao homem que não obedeceu à determinação de prisão.

Segundo o comando da PM, os policiais envolvidos passaram por avaliação psicológica e devem ser afastados das funções nas ruas até a conclusão do inquérito. O corpo de Ismael foi velado na rua em que o jovem foi morto, sendo enterrado no Cemitério do Lote Grande. A família de João Carlos o velou na Capela Vila Miranda, mesmo local do sepultamento.

Câmeras das ruas

A Polícia Civil reporta que agentes da Delegacia de Homicídios estiveram no local das mortes, acompanharam os trabalhos periciais e realizaram diligências iniciais. Os policiais começaram a ouvir as testemunhas na investigação que está em curso, que tem prazo de 30 dias para conclusão, se não houver postergação.

“A equipe também já está analisando as imagens de câmeras de vigilância das proximidades do local dos fatos e diligenciando para localizar outras”, expõe a nota. “As investigações visam determinar as circunstâncias do fato”, pontua a nota encaminhada à imprensa pela 6.ª Subdivisão de Polícia Civil em Foz do Iguaçu.

Câmeras nas fardas

Especialistas dizem que o uso de câmeras corporais auxilia no monitoramento das ações de policiais durante atividades nas ruas. Em São Paulo, por exemplo, as chamadas bodycams vêm sendo utilizadas com o intuito de reduzir-se a letalidade policial e estabelecer o acompanhamento visual das intervenções.

No Paraná, a Secretaria de Estado da Segurança Pública anunciou licitação para alugar 300 câmeras corporais, a serem empregadas nas fardas de agentes da Polícia Militar em todo o estado, ao custo previsto de R$ 8 milhões. O equipamento será usado em período de testes durante um ano.

A Fundação Getúlio Vargas (FGV), por meio de estudo realizado no ano passado, endossa o resultado do uso adequado das câmeras acopladas ao fardamento, pela segurança pública paulista. “O uso das câmeras evitou 104 mortes e teve um impacto positivo, ajudando a reduzir em 57% o número de mortes decorrentes de ações policiais”, noticiou a Agência Brasil, citando a FGV.

Letalidade policial

Reportagem exclusiva do H2FOZ mostrou que as chamadas “mortes em confronto” com policiais no Paraná tiveram uma escalada de 97% nos últimos oito anos. Em Foz do Iguaçu, o aumento foi de 144% no triênio 2020–2022. No município, 22 pessoas morreram em confrontos com policiais em 2022, mais que o dobro do ano anterior.

Foram 9 e 12 óbitos, respectivamente, nos anos de 2021 e 2020. Os dados são do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), unidade do Ministério Público do Paraná. O órgão tem o papel de acompanhar a ocorrência desse tipo de violência. O informe se baseia nas ocorrências oficialmente registradas.

Os números colocam Foz do Iguaçu como a segunda mais letal entre as cidades do interior, atrás apenas de Londrina, que registrou 50 vidas perdidas nesse tipo de ocorrência. Setores da polícia preferem referir-se às mortes como resultado da “letalidade criminal”. No Paraná, os óbitos em confronto totalizaram 489 durante o ano de 2022.

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