E agora José? Fama de matador de animais o obriga a sair de Foz

José Vicente Tezza, de editor de revista sobre a memória de Foz, entrou para a história policial.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Ganhou espaço na mídia e redes sociais o caso da veterinária de Foz do Iguaçu Giovana Nantes Giacomini e boa parte dos seus vizinhos, que por anos viraram reféns de José Vicente Tezza, de 76 anos. A impressão é a de que José se ampara no peso de sua idade para sair impune, após ameaçar, perturbar o sossego e cometer dano ao patrimônio particular e crime ambiental. Ele é acusado de usar métodos diversos para matar animais, como estrangulamento, veneno e pauladas.

Mas parece que agora o jogo virou. O dia da caça chegou. Circula vídeo nas redes sociais de motoristas e motoqueiros buzinando e acelerando os motores em frente à casa do homem, o qual prova que os cafajestes também envelhecem. Cartazes foram colados no seu portão. Não houve depredação, e sim uma espécie de basta coletivo. A comunidade resolveu ela própria mostrar para José que ele ultrapassou todos os limites. Que não é mais ele o incomodado com os vizinhos. É a população incomodada com sua maldade.

Depois que a população se reuniu e decidiu por conta própria dar o troco, filhos de Tezza, preocupados com a repercussão do caso, tiraram-no de sua casa. Não se sabe o destino, se apenas mudou de casa, de cidade, estado, país ou planeta. Mas José, certamente, não será bem-vindo em nenhum outro lugar no qual ele queira praticar seu esporte preferido: não respeitar o entorno. Se ele queria fama, conseguiu.

Ah, mas cafajeste é um termo pesado. Não é canalha? Canalha está ligado aos cães, e não podemos rebaixá-los. Isso é especismo, algo muito errado que fazemos quando queremos ofender um humano e lhes damos referências de animais, como burro, quadrúpede, anta… E já falei disso aqui.

Como pode uma pessoa cometer as mais variadas crueldades, e o peso da mão da Justiça não alcançá-la? São 12 boletins de ocorrência registrados por Giovana. Na Justiça do Paraná, somam-se oito processos. Mas as vítimas acabam desanimando, pois enquanto o tempo do Judiciário é mais lento, aquele dos incomodados é acelerado. O problema se repete continuamente, que desistem de esperar justiça. E as denúncias ganham espaço em gavetas.

No vídeo em que a comunidade se revolta e tenta dar o troco ao citado senhor, os carros e motos são dispersados com a chegada da viatura da polícia. Por quantas vezes essa mesma polícia foi acionada e não foi possível dispersar a maldade que tal pessoa cometeu contra animais inocentes, vizinhos e crianças assustadas com as bombinhas que ele soltava?

A situação é tão surreal que mesmo que a veterinária tivesse o cuidado de não mostrar seu rosto, nas gravações em que comprovavam os absurdos cometidos, José Tezza ameaçou processar a profissional caso ela não apagasse das redes sociais os registros dele cometendo os crimes. Alega que sua dignidade humana foi ferida e que ela estava fomentando o ódio. Ódio, convenhamos, faz parte de seu histórico de vida! Já em 1998, quando tinha 51 anos, a mídia local noticiou que, enquanto a vizinha viajava, ele invadiu o domicílio e espancou dois animais a pauladas. Um deles morreu.

Na notificação extrajudicial que foi recebida por Giovana, a justificativa para José praticar seus crimes é que ele teve um AVC (acidente vascular cerebral), toma remédio e frequenta psicólogo. Mas já escrevi sobre isso aqui também. Quem maltrata animais tem indícios de psicopatia. Nunca vi alguém com AVC mudar o caráter.

De acordo com Giovana, José tentou matar suas duas calopsitas. Ela foi denunciada por ele na Prefeitura de Foz do Iguaçu. Para tentar matá-las, ele usou estilingue com bolinha de gude. Quando chegou à clínica, estava cheio de bolinhas no chão e nas gaiolas, com as aves feridas. Um fiscal foi até o local. Quando ela indagou ao fiscal o que fazer, ele mandou fritá-las. Percebendo que o homem estava desrespeitando-a, por ser mulher, foi até um cliente, procurador da República, que estava saindo da clínica, e contou a situação. Quando o procurador chegou, o fiscal alegou que era apenas uma brincadeira, porém escutou do procurador que ali ele estava a trabalho e não era momento de brincar.

A comunidade de Foz não brincou. Correu com José. Mas e quantos outros Josés estão impunes por aí, perturbando a vida das pessoas e matando animais inocentes? Todo mundo conhece um desses Josés. Eu, infelizmente, conheço vários. Um deles marcou bastante. Eu era criança. Meus gatos, que peguei na rua abandonados, foram até o vizinho e mataram os canários que ele mantinha presos em gaiolas. Então, ele deu veneno aos felinos. Eles vomitaram, não morreram, contudo a minha Pelúcia, uma cachorrinha que parecia realmente um bichinho peludo, lambeu o vômito e morreu.

Eu nunca esqueço isso. Eu era muito jovem, não sabia como acionar a Justiça. Porém acho que o destino deu a ele o troco. Anda cambaleando pelas ruas. Sua filha, em vez de pagar a prestação da casa, torrou o dinheiro. Ele vive de favor. Não é vingança, mas eu sempre penso que aqui se faz e aqui se paga, seja por meio da justiça humana, da divina ou da população, como a de Foz. Não devemos dar palco para maluco, entretanto, de vez em quando, os 15 minutos de fama fazem bem. Para a comunidade, para os animais. Remédio para maluco é maluco e meio, diria, quem sabe, São Francisco de Assis.

Mas, voltando ao José. Para quem não sabe, é figura conhecida em Foz do Iguaçu, como editor da Revista Painel, que circulou entre os anos de anos de 1973 e 2017. Inclusive doou coleção praticamente completa para a Unila, sendo a Revista uma espécie de memórial deste período. Agora, muitos links com seu nome já estão quebrados, inacessíveis. O homem que colecionou a história de Foz, entrou para para suas páginas, na editoria policial.

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