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Pesquisa, imaginário e arte

Marco das Três Fronteiras traduz ancestralidade, história e mitos em espetáculo de dança

Show ao ar livre mescla lendas indígenas, folclore, histórias e tradições populares que unem Brasil, Paraguai e Argentina.

6 min de leitura
Marco das Três Fronteiras traduz ancestralidade, história e mitos em espetáculo de dança
Lenda das Cataratas abre o show, apresentado diariamente - foto: Marcos Labanca/H2FOZ

Ancestralidade indígena, lendas, mitos, folclore e histórias dos povos da região são desnovelados e reconstruídos pela criatividade humana: a arte. Com os espetáculos culturais diários, o Marco das Três Fronteiras dá novo simbolismo à geografia que une Argentina, Brasil e Paraguai, constituindo pontes para encontros e celebrações.

Imaginário, fazeres e aventuras, personagens míticos e historiográficos, enredos que bebem na inesgotável fonte do folclore e da cultura popular são traduzidos por um elenco de 15 bailarinos e figurinos fantásticos. As danças diárias são apresentadas no espaço que o retrovisor da história ensina ser palco de marcantes eventos de contato (veja abaixo), em diferentes épocas.

O show ao ar livre do Marco das Três Fronteiras abre com a Lenda das Cataratas, um balé que perfaz a história de amor proibido entre Naipi e Tarobá. Conta-se que o jovem casal desafiou o impedimento do deus-serpente M’boi, que, em sua fúria, sulcou o leito do Rio Iguaçu, formando as quedas-d’água mais bonitas do mundo.

Personagem que luta, que tem conexão com a natureza, o tempo e a água, descreve a bailarina Katheryne Souza, que interpreta Naipi. “Apresento movimentos leves, mesclando com a bravura, com a força que esse povo tem. Mostro a paixão e a coragem que Naipi precisou ter para se unir a Tarobá e seguir com esse romance”, conta.

Mosaico de culturas

O espetáculo é uma apresentação da DY Produções Artísticas, dirigida por Jean Milan e Dayse Beverly. Quem descortina a narrativa é o próprio Álvar Núñez Cabeza de Vaca, desbravador espanhol considerado o primeiro a avistar as Cataratas do Iguaçu, fazendo contato com os indígenas da região no século 16. O ator Petrúquio Pamplona atua como narrador e, ao anunciar o relato artístico, reconstrói parte da história da região trinacional.

A lenda indígena da criação das Cataratas do Iguaçu – foto: Marcos Labanca

“Transformamos o Marco em um grande mosaico cultural. A Lenda das Cataratas valoriza a ancestralidade indígena. Percorremos pelo folclore da Argentina, resgatamos as manifestações típicas do Paraguai e encontramos a cultura brasileira”, expõe. “E nosso palco é no encontro dos rios Iguaçu e Paraná, na união de três povos e países: Argentina, Brasil e Paraguai”, conclui.

“É sensacional, muito colorido e diversificado, com artistas que são muito bons”, recomenda a turista Tarsila Miranda.

“É sensacional, muito colorido e diversificado, com artistas que são muito bons”, recomenda Tarsila Miranda, veterinária e moradora de Carpina (PE). Além de belo para assistir, o espetáculo contribui para manter viva a cultura do país, da região e das tradições de matriz indígena, aponta.

“É necessário cada vez mais investir em arte e cultura, pois isso faz com que as pessoas conheçam e entendam mais o que está ao redor, mantendo vivas as expressões”, realça. “Me vi parte do show como brasileira, porque o nosso Brasil é isso: diversidade e cores”, sublinha a turista, que está em viagem na fronteira com a família.

O ator Petrúquio Pamplona narra aventuras, lendas, história e arte – foto: Marcos Labanca

Pesquisa e encantamento

Jean Milan explica que as produções apresentadas a moradores de Foz do Iguaçu e turistas no Marco das Três Fronteiras resultam de meses de pesquisa. Isso porque, ao reunir o folclore das Américas, o passo seguinte é fazer com que as manifestações se diferenciem de um país para outro. É o primeiro desafio criativo, revela.

“O que é significativo para o Paraguai? A dança das garrafas. E para a Argentina? Os bumbos, as boleadeiras, o tango e as milongas”, relata. “E a música que eu vou usar? Tem de ser aquela que chegue ao coração de quem vai assistir. Queremos emocionar o público não só pelo visual, mas também pela parte acústica.”

O espatáculo é apresentado junto ao pôr do sol, a céu aberto – foto: Marcos Labanca

Outro ponto relevante é a pesquisa sobre as culturas do Brasil, um repertório vasto em danças, músicas, ritos e lendas. “Por tudo isso, passamos meses pesquisando. Buscamos o inédito e até fabricamos música. A nossa aquarela é única, feita especialmente para o espetáculo. Temos um carinho imenso pelo público, e todo esse trabalho é feito para quem nos assiste. Queremos encantá-los”, termina Jean Milan.

Contato: história, povos e culturas

O historiador e professor universitário em Foz do Iguaçu Micael Alvino da Silva acrescenta o rigor das pesquisas e registros historiográficos. Ele contextualiza a região trinacional como espaço de contato, onde, no período colonial, houve o primeiro registro do encontro entre povos originários e europeus, narrados por Cabeza de Vaca em um descritivo que virou livro.

Já sobre a Lenda das Cataratas, prossegue Micael, o primeiro relato foi recolhido em 1897 por Florêncio de Balsadúa, que organizava uma expedição na região, principalmente nas Cataratas do Iguaçu. Ele coletava amostras da fauna, flora, rochas e outros materiais, que seriam expostos na França em 1900, no estande da Argentina da Exposição Universal de Paris, um grande evento na época.

“Foi quando ele fez o primeiro registro conhecido da Lenda das Cataratas, contada no acampamento por um indígena chamado Yarú, já ancião”, relata Micael. “Balsadúa registrou a lenda em seu livro, um documento único até então”, complementa o professor, que estuda o tema e possui obras que ajudam a desvendar acontecimentos e personagens da região trinacional.

Marco das Três Fronteias é espaço de contato entre povos e culturas – foto: Marcos Labanca

“O interessante é que já naquela época se buscava dar visibilidade àquilo que formava o imaginário dos povos nativos da região”, prossegue. “Outro detalhe: esse relato foi exposto junto a outros materiais enviados da Argentina para a exposição na França, realizada em paralelo a um evento de aviação.”

Com base em pesquisas, o historiador iguaçuense avança. “Minha hipótese é que o primeiro contato que Santos Dumont teve com as Cataratas possa ter sido nesse evento, com a exposição. Pelo menos um contato visual ele teve. Inclusive, Florêncio de Balsadúa fotografou várias vistas das Cataratas – talvez as primeiras, já que câmeras eram raras. É apenas uma hipótese ainda”, conclui Micael, acrescentando mais um capítulo à rica história da região das Três Fronteiras.

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    Paulo Bogler

    Paulo Bogler é repórter do H2FOZ. Com enfoque em pautas comunitárias, atua na cobertura de temas relacionados à cidade, política, cidadania, desenvolvimento e cultura local. Tem interesse em promover histórias, vozes e o cotidiano da população. E-mail: bogler@h2foz.com.br.

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