Talvez você tenha recebido ou visto nas redes sociais, na semana que passou, publicação de um portal nacional (com redações em São Paulo e Brasília) relatando uma suposta “civilização perdida” nas Cataratas do Iguaçu.
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Logo de cara, chama a atenção o fato de que o texto não tem assinatura e parece ter saído de algum sistema de inteligência artificial. Além disso, não cita fontes ou qualquer trabalho concreto, usando expressões genéricas como “os pesquisadores”, “os estudos”, etc.
A tal “civilização perdida” nas Cataratas, descrita pelo portal, seria apenas o registro dos primeiros povos que passaram pela região, há pelo menos seis mil anos.
Sensacionalismo à parte, trata-se de um fato científico bem conhecido por arqueólogos e historiadores do Brasil, do Paraguai e da Argentina. A suposta notícia, portanto, não traz elementos novos ou de mistério “hollywoodiano”.
Nota da redação: esta carta trata da publicação, por um portal de alcance nacional, de um texto sem assinatura e sem menção a fontes. O H2FOZ não crê que esse tipo de conteúdo, de qualidade editorial questionável, contribua com os debates sobre a história da região.
Pré-história na região de Foz do Iguaçu
Nas décadas de 1970 e 1980, arqueólogos contratados por Itaipu fizeram levantamentos em toda a região, como parte dos trabalhos prévios à formação do lago. Na ocasião, constataram a presença de mais de um povo ou civilização nos vales dos rios da fronteira.
Conforme o inventário, os vestígios mais antigos mostram que povos caçadores-coletores chegaram ao atual Oeste do Paraná no mínimo seis mil anos atrás. O Ecomuseu de Itaipu preserva, em sua reserva técnica, peças do período.
Tais povos nômades deram lugar, nos milênios seguintes, a civilizações agrícolas, como o povo guarani. Quando os primeiros europeus apareceram por aqui, cinco séculos atrás, havia tribos dos troncos guarani e jê vivendo por essas bandas.
Em 2022, pesquisadores da Universidade Nacional de La Plata, da Argentina, coletaram vestígios arqueológicos na margem argentina do Rio Iguaçu, perto das Cataratas. Citando nomes e fontes, o H2FOZ noticiou o fato (clique aqui para ler uma das reportagens).
Ciência e “civilização perdida”
Expressões do tipo “civilização perdida” podem até mexer com a imaginação do público, mas pouco contribuem para debates sérios sobre o tema.
O H2FOZ mantém, inclusive, uma editoria específica sobre ciência, com a divulgação de matérias que mostram a produção acadêmica na região. A meta para 2025 é ampliar o número de conteúdos. Para ler tudo o que já foi publicado, clique aqui.
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Muito obrigado pela leitura e ótima semana!
Guilherme Wojciechowski colabora com o H2FOZ desde 2022 e redige, aos domingos, a edição semanal da Carta ao Leitor. Já escreveu várias matérias para a editoria Ciência, mas nenhuma com termos como “civilização perdida”.
Está e uma pesquisa séria, com arqueólogo técnico responsável, registrada seus direitos de descoberta e documentada no IPHAN Temos provas visuais e físicas além de imagens de satélite e fotos feitas por mim Lindolfo Junior durantes as expedições, mais de 5000 imagens feitas desde 2019, peço que entrem em contato comigo […] Desde já agradeço.’.
Olá, Lindolfo! O que essa carta questiona é a publicação de matérias supostamente jornalísticas, possivelmente produzidas com inteligência artificial, apenas com a intenção de caçar cliques. Infelizmente, é algo que está “na moda” ultimamente. Como citado no texto, o H2FOZ tem uma editoria de Ciência, criada para destacar o trabalho de pesquisadores locais. Temos espaço aberto para que pessoas que produzem conhecimento na região possam divulgar seus trabalhos. Abraço!
Acredito que Foz e as cidades da região trinacional deveriam rever todos estes estudos e organizar, junto às universidades da região, um mega estudo (inclusive com novas pesquisas de campo) objetivando a construção de um novo e grande museu de história natural. Seria muito interessante pro turismo e para a ciência locais um espaço dedicado a contar, minuciosamente, a nossa história arqueológica e a formação de nossas características antropológicas, botanicas e geológicas.
É preciso que se enviem arqueólogos e historiadores para documentar os indícios. O fato de não haver comprometimento com a legitimidade da informação, é um problema que leva à produção de pseudo ciência.
Li a “notícia” que o tal portal publicou (posso dizer o nome?) e fiquei de boca aberta. Como pode um veículo profissional publicar algo sem fonte, sem nada, sem citar uma universidade ou um estudioso sequer? Vale tudo pelo clique? No mínimo uma falta de respeito com estudiosos e leitores, em um país que precisa tanto de divulgação científica de verdade, não de “encheção de linguiça” gerada por IA.
E detalhe, né? O texto nem assinado é. Total irresponsabilidade.
Lamentável mesmo.
Informação sem fonte não é informação.
Não é jornalismo.
Eita,se precisar de ponta flechas do tempo da guerra do Paraguai,bem provável.
Tenho vários achados por Rob mesmo.
A realidade é bem diferente do que essa ciência de gabinete pratica. Devemos enxergar além da ciência atual e ir pra campo identificando todos os vestígios deixados pelas antigas civilizações.