A Madonna e a Dona de Casa

Envelhecer deveria ser uma comemoração. Mas o que temos é uma cobrança em torno de padrões que fogem ao controle das celebridades assim como às mulheres anônimas.

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Por AIDA FRANCO LIMA | OPINIÃO

Mais uma vez, a Madonna (64) causou. Como sempre fez desde sua primeira aparição, desde o início dos anos 1980. Mas agora foi porque uma parte da sociedade não aceita a imagem que as marcas do tempo deixam e que a medicina não resolve. E a mídia e as redes sociais julgam sem dó.

O estranhamento do corpo do outro, daquele estereótipo de que as estrelas precisam manter-se sempre em estado de perfeição, é desde sempre. Conseguem imaginar Marilyn Monroe “velha”? Fica apenas a imagem de um símbolo sexual no seu auge. Seus demônios internos não ganham campo.

As celebridades, ao morrerem jovens, permanecem assim no imaginário coletivo. E quando essas crescem e envelhecem aos olhos da mídia, sem que sejam relegadas às casas dos artistas, o lar dos velhinhos do cidadão comum, outra luta árdua acontece. 

Talvez, só talvez, seja uma batalha menos árdua que enfrenta a dona de casa, aquela pessoa anônima que sempre ficou na plateia vendo as celebridades de aparência perfeita. Aliás, o termo dona de casa deveria ter uma outra conotação. Porque a Dona de Casa dá o seu suor para manter um ambiente, uma família, sem ser remunerada. Ela é apenas mais uma trabalhadora, não remunerada. Mas isso é outra discussão…

Retomando a suposição sobre ser menos dolorido para a mulher anônima envelhecer que a celebridade, a única diferença mesmo é da condição de cobrança. Porque no seu momento de solidão, diante do espelho de seus sentimentos, ela também sofre. E não deveria ser assim!

A cada aniversário, a cada ano que passa, a cada dia de envelhecimento, ao invés de haver uma comemoração, há uma espécie de luto interior. E a mídia tem sim culpa nisso. Porque mesmo no jornalismo se cobra um recorte do que é irreal. Com padrões perfeitos.

Na universidade de Jornalismo, dos anos 1990, aprendemos como tinham de ser nossos cabelos, porte físico e sotaque. Não podia puxar o erre do interior do Paraná, não podia ter cabelo encaracolado, precisava-se ser magra, não podia… Tudo era não. Hoje isso dá processo, porém silenciosamente as coisas ainda acontecem.

A mídia faz da exceção um padrão de envelhecimento e se espelha em Bruna Lombardi (70) e Cher (76), e no Photoshop, para ditar normas. E quem não as atinge sofre duras consequências. Como Madonna, um ícone que se reinventa com o passar dos anos e ainda assim não está à altura.

E a dona de casa? Ela ainda é influenciada a arranjar um tempo entre os afazeres diários e acompanhar o que há de mais inovador no mercado de beleza, que um dia decide que a moda é cabelo encaracolado e no outro é liso… Mas há um fio de esperança! Muitas mulheres estão aceitando os cabelos grisalhos.

A pandemia quebrou alguns elos das correntes que condicionavam o retoque mensal para esconder o platinado dos janeiros. Tá certo que também virou moda a meninada tingindo o cabelo de branco.

Madonna mandou textão dizendo que o julgamento de sua aparência é nada mais que etarismo, preconceito contra a idade e mesmo contra as mulheres. Vai ver, quem escreve contra quem envelhece o faz dentro de um poço da juventude.

Talvez devêssemos ver o passar dos anos sob uma outra ótica, no entanto para isso vai tempo. Até lá, quem escreve essas sandices por aí já morreu, não em corpo, mas em espírito mesmo. Como quem fez questão de divulgar a idade da jornalista Glória Maria. Se para ela era importante não citar, por qual motivo não respeitaram seu desejo?

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