Lembranças da 2ª Guerra estão vivas na memória de inglês que vive em Foz do Iguaçu

Robert Stephenson conta como foi enfrentar a 2ª Guerra Mundial quando era criança.

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Por Denise Paro – H2FOZ
Vídeo e fotos: Marcos Labanca
Colaborou: Ricardo Zaslavsky
Tradução: Juan Jose Dichio

Em meados do século 20, era comum os ingleses ouvirem estouros de bombas pelo país afora. Era a 2ª Guerra Mundial (1939–1945) que chegava trazendo insegurança, incerteza e medo. Naquela época, um menino de 4 anos acompanhou tudo. Ele vivia em um vilarejo nos arredores de Londres, Harold Wood. Assim que ouvia os alertas de ataque, ele ia para abrigos, porões ou se escondia embaixo de mesas. Era a rotina.

Hoje, aos 87 anos, o biólogo inglês Robert Stephenson lembra detalhes da infância em meio à guerra. Em uma entrevista concedida ao portal H2FOZ, ele conta um pouco sobre si e fala das memórias ainda vivas daquele tempo um tanto sombrio para a humanidade.

Quando o senhor chegou a Foz do Iguaçu e por que veio para a cidade?
Bem, nós estávamos morando na Argentina, e Puerto Iguazú é uma cidadezinha legal, mas é muito pequena. Eu morei em Nova York por muitos anos, e Foz era um pouco mais parecida que morar em Nova York do que Puerto Iguazú. Minha esposa faz hambúrgueres vegetarianos e ela os vendia em Puerto Iguazú, mas não vendia muito. E eu disse a ela: “Olha, Betty, Foz é uma cidade muito maior, e a probabilidade é que você venda mais lá.” Então esse foi outro fator. Chegamos em Foz em 2003.

VIDEOENTREVISTA – Robert Stephenson

Vídeo e fotos: Marcos Labanca / Colaborou: Ricardo Zaslavsky / Tradução: Juan Jose Dichio

Então Foz do Iguaçu foi uma opção melhor do que Puerto Iguazú?
Sim, quero dizer, eu me envolvi logo de início fazendo bustos para a Conscienciologia, e isso me manteve ocupado. Sabe, eu conseguia fazer mais ou menos um busto por mês. Então essa é basicamente a razão pela qual nos mudamos, parecia uma opção melhor do que Iguazú.

O senhor tem memórias sobre a 2ª Guerra Mundial? Onde estava naquele momento?
Eu tinha 4 anos quando a 2ª Guerra Mundial começou, e meu pai não estava qualificado para servir, ele só tinha um olho. E ele estava no Departamento de Guerra em Londres. E nós estávamos vivendo em família, minha irmã, eu e outro irmão que era um pouco mais velho do que nós dois. Nós três estávamos com minha mãe.

O senhor relata ter visto minas terrestres durante a 2ª Guerra? Foi perto da sua casa?
Provavelmente teria sido no início dos anos 40, 42, 43. E sim, era daqui até a estrada. O que para uma arma grande, bem grande, era bastante perto.

O senhor sentiu medo?
Se eu senti medo? Não, porque acho que tínhamos fé nos nossos pais, sabe? Estávamos protegidos – talvez algumas das crianças mais velhas se sentissem mais nervosas, mas você sabe, por volta de 5 ou 6 anos, nós realmente fazíamos o que nossos pais pediam, o que a professora pedia.

O senhor disse que tinha um vizinho alemão e teve um episódio envolvendo um cavalo. Como foi isso?
Vivíamos em uma casa que ficava do outro lado da estrada de uma fazenda, onde na verdade o fazendeiro era alemão, um alemão, sim. E o que, esta noite minha irmã e eu estávamos na janela, olhando as luzes, você sabe, porque os holofotes estavam indo e para trás e para a frente. E então elas começaram a cair e explodir, você sabe, em torno de nós, ao nosso redor, e um cavalo, um cavalo de carroça, um daqueles grandes, bem grandes, veio galopando para o jardim com flores e saltou direito sobre ele, eu nunca esqueci disso.

Considerando que a guerra foi da Inglaterra contra a Alemanha, como foi o seu relacionamento com essa família?
Ele tinha uma má reputação por não ser amigável, e eu não acho que eu o vi mais do que duas vezes em todo esse tempo. Sua esposa era muito legal, e imagino que ela era britânica. Mas você sabe, eu amava os animais, a fazenda. Nós tínhamos o que chamávamos de meninas da terra (land girls), elas tinham um uniforme, como um uniforme militar, mas o trabalho delas era ajudar os fazendeiros em tempos de guerra.

E todos os dias elas estavam nos fundos da nossa casa. Elas tinham que passar por esta estrada, e do outro lado, e na terra dele. Então, todos os dias eu estava ajudando-as a trazer o gado, e assim, e eu acho que não foi tenso a situação, foi bastante tranquila. Porque eles não podiam ir a lugar nenhum, e nós não tínhamos nada de interesse, sabe, para falar com eles.

“Nós brincamos com os italianos e nós não vimos muitos alemães na Inglaterra”, lembra Robert Stephenson – Foto: Marcos Labanca

Quando a guerra acabou, qual era o sentimento geral da sociedade no país?
Bem, eu acho que eles ficaram felizes com o fim da guerra, que era a coisa mais importante, e isso dependia da educação e do quanto eles sofreram. Se você perdeu alguém na guerra, então talvez você teria um pensamento menos amigável sobre isso.

Mas em geral, minha família, de qualquer maneira, como eu disse a você, nós brincamos com os italianos e nós não vimos muitos alemães na Inglaterra. Meus pais eram meio liberais politicamente, então eles não eram antialemães ou qualquer coisa. Eu acho que foi fácil para os britânicos esquecer o que aconteceu, quero dizer, o que você não pode perdoar foi a maneira como eles trataram os judeus.

A sua família perdeu alguém na guerra?
Não, só o pai de uma amiga da minha irmã, ele era um piloto. Foi para um combate e não voltou. Isso foi o mais próximo. Ficamos sentidos na época.

Churchill era um líder, certo? Como o senhor fala sobre Churchill?
Quero dizer, é difícil criticar Churchill, porque ele era um indivíduo com o pensamento claro. E ele conduziu a guerra, você sabe, da maneira certa [ri dos cães latindo]. E, recentemente, estava estes tempos na televisão, em 1946, eu acho, foi logo após a guerra, houve uma enorme neblina de poluição, poluição do ar, e foi pela queima de carvão.

Todos nós queimávamos carvão, você sabe, carvão era tudo. De manhã, era meu trabalho acender o fogo do carvão, era apenas ignorância, na verdade. Ele disse bem, esta névoa vai embora, sabe? E que as pessoas devem ter carvão, porque é com isso que elas cozinham e o que as mantém aquecidas no inverno. Mas foi interessante, cerca de três dias depois que ele fez essa declaração no rádio, a névoa desapareceu. O vento veio e a levou embora.

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