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Filosofia

Conhecimento Simbólico

Professor Caverna convida André Marques para refletir sobre conhecimento simbólico.

8 min de leitura
Conhecimento Simbólico

Por André Marques

Há várias formas de conhecimento, e muitas delas foram esquecidas atualmente. Isso porque no mundo contemporâneo valoriza-se muito o conhecimento científico experimental, bem como a exatidão matemática. Consequentemente, outras formas de compreender o mundo foram esquecidas, ou acabam estigmatizadas como sem importância. É o que ocorre com o simbolismo.

Ora, podemos conhecer o mundo e apreender a realidade de diversas formas. Todas essas formas de conhecimento possuem suas especificidades, umas são superiores a outras, e são muitas vezes distintas mas complementares. Podemos entender o mundo de maneira científica – o mais comum hoje em dia – onde há um método experimental e a tentativa de explicar como as coisas funcionam. Também há um conhecimento metafísico, que, por meio especulativo busca entender os primeiros princípios, e a finalidade das coisas. Nesse caso, não é o “como” que está em jogo, como no conhecimento científico, mas sim o “porquê” das coisas.

Sendo assim, é possível analisar a realidade de várias formas. Aqui foram citadas duas, mas pode-se, a depender da finalidade de quem analisa, observar os fenômenos de um modo estritamente biológico; em outros casos, a análise pode ser sociológica ou teológica etc.

Mas, há uma forma de compreensão das coisas que, embora importantíssima, no mundo contemporâneo se perdeu: a compreensão simbólica da realidade. Nossa mente acostumou-se à praticidade, funcionalidade e exatidão científica, de modo que o simbolismo não tem lugar, ou quando aparece, é tido como um tipo de conhecimento inferior e fantasioso.

Acontece que esse tipo de conhecimento é imprescindível ao homem. Como a filósofa Susanne Langer bem explicou – sobretudo em seu livro Philosophy in a New Key – o símbolo é o que possibilita o conhecimento humano, ele atua como uma espécie de fermento na inteligência, possibilitando a formação de conceitos, a intelecção e a compreensão de diversas experiências, sendo desse modo, não o fim mas o início do processo cognitivo e aquilo que possibilita ao homem fazer filosofia, ciência e arte.

Bom, mas o que é um símbolo afinal? Aqui não darei uma explicação conceitual e difícil de se entender, mas já mostrarei como isso funciona na prática: pense em um carro. Pensou? Certo, agora pense em uma mulher. Ótimo. O que acabou de acontecer? Normalmente ao pensar em um carro, não pensamos em um modelo específico como um Celta ou um Opala, mas sim em um esquema geral de carro (claro que há exceções, especialmente para entusiastas de um Opala antigo; estes certamente pensarão neste carro especificamente). O mesmo ocorre quando se pensa em uma mulher: provavelmente você não visualizou sua mãe, irmã ou esposa especificamente (salvo algumas exceções, mas exceções existem para comprovar a regra) e sim em uma forma arquetípica de mulher, um esquema do que seria uma mulher – cabelos longos, cintura fina, pequena, alguém que tem sempre razão etc.

Isto, esses esquemas de mulher ou de carro, ou de qualquer outra coisa, são símbolos. E aqui já é possível notar a importância destes para a inteligência humana. Eles são o que possibilitam nossa intelecção, e possibilitam inclusive o pensamento científico ou matemático.

Mas há um problema: nossa educação simbólica, por assim dizer, é quase nula. Quase ninguém dá muita atenção a esse ponto hoje em dia. Essa educação simbólica se dá através da literatura, ficção, das histórias ricas de simbolismo profundo como O senhor dos anéis ou algo semelhante. E é visível que atualmente isso não acontece. Preocupamo-nos mais com o aprendizado de matemática, biologia ou química. Há uma supervalorização desses conhecimentos em detrimento do simbolismo, e acabamos como naqueles versos de Adélia Prado onde “De vez em quando Deus me tira a poesia. Olho pedra, vejo pedra mesmo”. E assim seguimos, observando o mundo e vendo só aquilo que é literal, com uma inteligência profundamente limitada no plano simbólico.

Isso se manifesta em vários âmbitos da vida: no campo político, moral, nos relacionamentos, e também no psicológico. Uma inteligência limitada simbolicamente irá expressar esta limitação em diversas esferas da ação humana.

No âmbito político e moral, vemos a impossibilidade de ver os “tons de cinza” de cada situação, nossa mente está muito acostumada com o pró e o contra, o x ou o y, e não captamos os intermediários. Ora, não há em nosso mundo um bem ou mal completos, preto e branco, mas vários tons intermediários em cada situação. E aqui, para exemplificar uma maneira simbólica de compreender esses intermediários, lembremos do simbolismo do yin e yang, onde o mal possui algo de bom – o pontinho branco na parte preta da figura – e o bem igualmente possui algo de mal – o pontinho preto na parte branca da figura chinesa. Não que o yin e yang representem necessariamente bem e mal, a ideia é muito mais profunda que isso, mas é uma forma de mostrar como o conhecimento do simbolismo funciona nesse ponto em questão.

De igual modo, nos relacionamentos acontece algo complicado: perdemos grande parte do simbolismo homem e mulher, e da relação dos dois. Os antigos tinham isso muito mais nítido do que o homem contemporâneo, e era possível observar Marte – deus da guerra – como uma figura que carregava muito da simbologia do homem; em contrapartida Vênus – deusa do amor – trazia em si uma carga simbólica feminina impressionante. Essas figuras moldam muito do comportamento humano. Atualmente, sem muitos parâmetros simbólicos, os papéis tornam-se confusos, e os relacionamentos até um tanto quanto complicados. Estes funcionam, quando totalmente desprovidos de significado transcendente, inclusive, como um comércio, ou uma troca, mas isso já é conversa para outra ocasião.

Além do campo moral, político ou dos relacionamentos humanos, há vários outros âmbitos da vida onde a falta de uma educação simbólica atrapalha bastante; mas falemos a respeito do psicológico, que creio ser importantíssimo, para finalizar esta explicação: A compreensão do que se passa na psiqué humana nunca irá se dar de forma literal, ao menos não inicialmente. Os conteúdos oníricos, esses do sonho, da imaginação ou fantasia são todos símbolos. Bem como a expressão deles também o é. Não é à toa que Freud e Jung, quando estudavam e desenvolviam suas teorias a respeito do inconsciente – tanto o individual quando o coletivo – baseavam-se muito em mitologias e explicações não tão literais. Isso porque os símbolos – e aqui está muito do papel da mitologia numa sociedade – são o que nos permitem organizar a experiência bruta, dando-lhe forma e significado. Ou seja, são imprescindíveis à nossa expressão pessoal também.

Portanto, é óbvio que o estudo da matemática, das diversas ciências, a análise empírica é importante. Mas, fica claro que não podemos sacrificar aquilo que há no ser humano de poesia – podemos chamar assim, trazendo um pouco da expressão de Adélia Prado. A leitura de belas obras de ficção, o consumo da mais alta poesia – bons filmes também entram nessa lista – tudo isso é muito importante na formação do ser humano. Para que depois, após termos este conteúdo simbólico cristalizado em nossa mente, possamos julgar as experiências particulares e individuais que se nos apresentam no dia a dia. Julgar de maneira mais adequada o bem, o mal, o justo ou injusto, a beleza e a feiúra, e fazê-lo sem cair em estigmas ou em polarizações, por vezes ridículas.

Convite Especial: Café Filosófico

Reflexões para Pais e Filhos


Prezadas famílias!
Temos o prazer de convidá-los para o V Café Filosófico, um encontro especial onde pais e filhos poderão compartilhar um momento de reflexão e diálogo sobre os dilemas da vida.


Em um mundo repleto de desafios e mudanças constantes, criar espaços para conversas significativas fortalece os laços familiares e amplia nossa visão de mundo. Neste evento, vamos explorar juntos questões que nos fazem pensar, crescer e nos conectar de maneira mais profunda.


Por que participar?
✔ Fortaleça a relação com seu filho(a) por meio do diálogo
✔ Reflita sobre valores, escolhas e desafios da vida
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Data e local: Zeppelin

Contaremos com um ambiente descontraído e um delicioso café para tornar este momento ainda mais especial!
Venha viver essa experiência enriquecedora conosco! Sua presença fará toda a diferença.
Esperamos você e sua família!

Ingressos para o V Café Filosófico:

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Comunidade do “Café Filosófico” no WHATSAPP:

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Obs. Caro leitor, o objetivo aqui é estimular a sua reflexão filosófica, nada mais! mais nada!

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Assuntos

Professor Caverna

Caverna é professor de Filosofia, criador de conteúdo digital e coordenador do projeto “Café Filosófico” em Foz do Iguaçu.