Por Professor Caverna | OPINIÃO
Você já parou para pensar no que realmente são os sonhos? Aqueles momentos intrigantes da nossa mente que nos transportam para cenários surreais, nos fazem reviver situações do cotidiano sob uma nova perspectiva ou mesmo criam realidades que parecem impossíveis. Pois é, o ato de sonhar tem despertado curiosidade e reflexão ao longo da história, não apenas entre cientistas e psicólogos, mas também entre filósofos. E um desses pensadores foi Platão, o filósofo grego que revolucionou o pensamento ocidental com suas ideias profundas e atemporais.
Para Platão, os sonhos não eram meros devaneios noturnos ou distrações da mente durante o sono. Ele enxergava os sonhos como algo muito mais significativo: uma porta de acesso às profundezas da alma humana e, talvez, ao próprio Mundo das Ideias. Parece complexo? Vamos entender melhor.
Platão acreditava que a alma humana era composta por três partes distintas: a racional, a irascível e a apetitiva. A parte racional é aquela que busca a verdade, a sabedoria e o entendimento, como se fosse o condutor de uma carruagem. A parte irascível está ligada às emoções fortes, como a coragem e a fúria, funcionando como o cavalo que impulsiona a carruagem. Por fim, a parte apetitiva é aquela que se conecta aos desejos e prazeres, como a fome, o amor e a vontade de desfrutar a vida — o cavalo que muitas vezes tenta puxar a carruagem para o lado errado. Durante o dia, a parte racional costuma exercer seu papel de controle, guiando as ações e pensamentos. Mas à noite, quando dormimos, essa parte também entra em repouso.
E o que acontece quando o piloto da alma “desliga”? Seguindo a lógica de Platão, é nesse momento que as outras partes da alma ganham espaço para se manifestar, muitas vezes através dos sonhos. Desejos reprimidos, medos ocultos e até mesmo sentimentos não reconhecidos podem emergir nessa fase, criando narrativas que variam entre o bizarro e o revelador. Mas, para Platão, os sonhos não eram apenas isso.
Um dos pontos centrais do pensamento platônico é sua famosa teoria do Mundo das Ideias. Segundo ele, tudo que existe no mundo físico é uma cópia imperfeita de ideias perfeitas que residem em um plano metafísico. Imagine, por exemplo, uma cadeira. Qualquer cadeira no mundo real é apenas uma representação imperfeita da ideia de “cadeira” que existe no mundo ideal. Para Platão, nossos sentidos nos enganam, e apenas a razão é capaz de acessar essas verdades eternas.
E os sonhos? Platão via neles uma possibilidade única de contato com esse mundo superior. Quando a parte racional da alma relaxa, é como se uma porta se abrisse, permitindo vislumbres dessas ideias perfeitas. Sonhar, portanto, não é apenas reviver experiências ou dar vazão aos desejos, mas também uma chance de explorar algo mais profundo e transcendental. Durante os sonhos, talvez possamos nos aproximar de verdades universais ou compreender algo sobre nossa própria essência.
Em sua obra A República, Platão aborda os sonhos como um reflexo de nosso caráter e das escolhas que fazemos em vigília. Ele sugere que, durante o sono, os desejos mais primitivos e selvagens da alma podem surgir. Contudo, uma pessoa justa é aquela que consegue manter esses impulsos sob controle, mesmo nos sonhos, enquanto uma pessoa injusta permite que esses desejos dominem sua experiência onírica. Assim, os sonhos não são apenas um estado passivo; são um espelho de nossa condição moral e espiritual.
Platão também nos convida a refletir sobre a importância de cultivar uma vida equilibrada e virtuosa, pois isso influencia diretamente não apenas nosso comportamento diurno, mas também o que emerge durante o sono. Se vivermos em busca da verdade e da harmonia, nossos sonhos podem ser espaços de aprendizado e crescimento. Caso contrário, podemos nos deparar com pesadelos que não trazem iluminação, mas sim confusão e inquietação.
No final das contas, Platão nos convida a ver os sonhos como muito mais do que fenômenos aleatórios. Eles são uma ferramenta valiosa para compreendermos nossa própria alma e, quem sabe, nos aproximarmos de verdades universais. Da próxima vez que você acordar de um sonho estranho ou incrível, tente pensar no que ele pode estar revelando. Será que sua alma deu um passeio pelo Mundo das Ideias? Ou talvez esteja apenas colocando seus desejos para dançar?
E, como diria Platão, refletir sobre isso é sempre um bom caminho para o autoconhecimento. Afinal, filosofar é sonhar acordado com as grandes perguntas da vida?
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Obs. Caro leitor, o objetivo aqui é estimular a sua reflexão filosófica, nada mais! mais nada!
“Tiraram o primata da selva, mas não a selva do primata” Prof Caverna
Caverna é professor de Filosofia, criador de conteúdo digital e coordenador do projeto “Café Filosófico” em Foz do Iguaçu.
Caro Maestro, reflito sempre, porém o sempre é pouco quando se trata de refletir. Provocações assim sempre trazem resultados positivos. Estou estudando Freud, Yung e Lacan, o mundo das ideias é infinito. Pobres dos que pensam que pensar não é preciso.
Excelente abordagem sobre o Sonho, fundamentado no pensamento de Platão! Sigmund Freud, indiscutivelmente, conhecia bem o pensamento de Platão. Considerando-se a estreita correlação no pensar dos dois gênios, sobre a gênese do sonho!