Com 8 meses de fronteira fechada, comércio de Puerto Iguazú agoniza

Aparência é de cidade fantasma; alguns lojistas trabalham só para pagar despesas básicas

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Denise Paro –  H2FOZ

Na década de 1990, Puerto Iguazú ficou conhecida como cidade fantasma em razão de uma crise econômica severa que atingiu a Argentina. Agora, nos idos de 2020, a situação se repete não só por questões financeiras, mas também sanitárias envolvendo a covid-19. O fechamento da fronteira com o Brasil, há cerca de oito meses, em decorrência da pandemia, colocou o comércio de Puerto Iguazú em estado terminal.

Dados da Câmara de Comércio de Puerto Iguazú indicam que de 20% a 30% dos 2.300 restaurantes, hotéis e lojas da cidade estão fechados. A economia local, dependente dos turistas estrangeiros, agoniza. Para o presidente da entidade, Joaquin Barreto Bonetti, se a passagem na fronteira com o Brasil não for liberada, a situação vai piorar. “Se o fechamento da ponte continuar, o comércio vai seguir agonizando e a porcentagem de negócios fechados será muito maior.”

Comerciante em Puerto Iguazú no ramo de gêneros alimentícios, Victor Enrique diz que mantém as portas abertas para conseguir pagar luz e água. Para ele, a cidade não é sustentável sem os turistas estrangeiros, até porque o turismo regional interno não consegue movimentar a economia.

Hoteleiro há mais de 30 anos, Gaston Monsalve está com três estabelecimentos de hospedagem fechados por falta de movimento. Ele calcula que a situação possa melhorar a partir de janeiro, período de férias. No entanto, o cenário é difícil porque o turismo exige planejamento e o governo argentino não sabe governar, porque não planeja o turismo, afirma. “Vender turismo não é vender caramelos em um mercado. Turismo precisa de planejamento e ofertas com muito tempo de antecipação”, ressalta.

Outro comerciante que sente os efeitos do fechamento da fronteira é Pablo Bazuà, proprietário do restaurante La Rueda, bastante frequentado por brasileiros. “Estamos no limite e muito preocupados porque não se vê um horizonte”, revela. Acostumado a receber reservas de brasileiros no final de ano, Bazuà afirma estar ansioso para que a fronteira abra, possibilitando aos comerciantes voltar a trabalhar.

Com comércio em baixa, trade turístico questiona medidas adotadas pelo governo. Crédito: Emmanuel Leones

Medidas radicais do governo são questionadas

As duras medidas do governo argentino para conter o avanço da covid-19 explicam em parte a situação caótica de Puerto Iguazú. O acesso à cidade é livre apenas para quem mora na província de Misiones, ou seja, não está liberada a circulação de argentinos de outras localidades em Puerto Iguazú, a não ser que apresentem teste negativo para a doença. Isso vale para todas as províncias.

O trade turístico já fez diversos protestos para questionar a política sanitária, porém até agora não surtiu resultado. O turismo da cidade depende dos visitantes estrangeiros, incluindo brasileiros, proibidos de entrar pelas fronteiras.

Em razão da política adotada pelo governo, a movimentação de turistas em Puerto Iguazú fica restrita a quem mora em Misiones e só ocorre em âmbito regional. O Parque Nacional Iguazú, principal atrativo local, reabriu em 11 de julho, mas apenas aos sábados e domingos, com limite de público de no máximo 500 pessoas ao dia. O número é ínfimo se comparado ao lado brasileiro, onde o funcionamento é diário e é permitida a entrada de 525 turistas por hora.

Os empresários do setor esperam que em dezembro o governo libere o acesso para turistas nacionais, o que proporcionaria um pequeno alívio na cidade. Representantes do Parque Iguazú enviaram ao governo nacional uma proposta para abrir a reserva diariamente, ampliando a capacidade para quatro mil pessoas. Eles aguardam retorno.

Sobre a reabertura da Ponte Tancredo Neves, na fronteira com Foz do Iguaçu, não há esperança que isso ocorra tão cedo, pelo menos por parte do governo argentino. Já se fala em liberação da fronteira a partir de março de 2021.

O aeroporto local retomou os voos no final de outubro, porém o movimento é fraco. São dois voos semanais partindo do terminal de Ezeiza, em Buenos Aires. O embarque é restrito às Forças Armadas, equipes de saúde, segurança e bombeiros. Não é permitido embarque de turistas. Para aqueles que chegam a Buenos Aires, o trânsito é limitado à capital portenha. Os viajantes não podem transitar em outras cidades e são obrigados a ficar apenas na capital. Os empresários aguardam para o início de dezembro a permissão de embarque de turistas nos voos.

Até agora, Puerto Iguazú contabilizou 152 casos de covid e uma morte.  Crédito fotos: Emmanuel Leones

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