Fronteiras sem radar facilitam que Paraguai seja um país de trânsito de cocaína

As apreensões de grandes quantidades, no próprio Paraguai, no Brasil e no destino final – a Europa – comprovam que o tráfico da droga tem forte esquema de logística.

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Olhe bem para estes homens da foto. Eles foram presos durante uma apreensão de 1.344 quilos de cocaína num imóvel rural do departamento de Alto Paraguay, na região que faz fronteira com a Bolívia, grande produtor da droga.

Na sexta-feira, 26, os quatro homens se apresentaram para fazer declarações à Unidade Fiscal contra o Narcotráfico, em Assunção, mas se abstiveram de prestar qualquer informação.

A pergunta é: o tráfico de cocaína é altamente lucrativo. Estes quatro homens têm cara de que estão nadando em dinheiro? Pelo menos à primeira vista, parecem fazer parte apenas da mão de obra mal paga pelos grandes traficantes.

Os quatro foram processados por posse, comercialização e tráfico de substâncias estupefacientes, depois de detidos numa estância chamada “El Tigre”, que conta inclusive com duas pistas de aterrissagem, uma das quais habilitada com autorização.

É por essas pistas que vem da Bolívia a cocaína. No máximo, ela era purificada na estância, já que foram encontrados também 34 barris contendo 6.800 litros de acetona. A acetona é utilizada como precursor químico para o refinamento e elaboração da cocaína.

A promotoria já pediu a prisão dos quatro homens. O que se espera, agora, é que a investigação prossiga para se chegar ao dono da estância e aos responsáveis, de fato, pelo tráfico, para que a justiça não seja feita apenas com os “bois de piranha”, que muitas vezes vão para o mundo do tráfico por absoluta falta de opções, principalmente nesta região do

FRONTEIRAS SEM CONTROLE

O departamento de Alto Paraguay (a capital é Fuerte Olimpo, perto da fronteira com o Brasil), tem localização privilegiada para o tráfico.

A falta de equipamentos nas fronteiras e as diversas estratégias adotadas pelos traficantes de drogas para burlar os controles fazem do Paraguai um país de livre trânsito da droga, admitiu a ministra da Secretaria Nacional Antidrogas,
Zully Rolón, em entrevista ao programa “Fogo Cruzado, do Canal GEN, conforme noticia o jornal La Nación.

A ministra comentou sobre o carregamento de 23 toneladas de cocaína, encontradas nos portos de Hamburgo, Alemanha, e Antuérpia, na Bélgica, no início desta semana.

Segundo Zully Rolón, carregamentos desta envergadura podem de fato sair do Paraguai, burlando os mecanismos de controle, porque o crime organizado “tem uma estrutura financeira muito importante” e porque procura estratégias que confundem as autoridades, como a criação de empresas de fachada para exportar produtos a países europeus.

De acordo com ministra, as fronteiras paraguaias estão “vulneráveis”, pela falta de radares e também de escâneres nos principais portos do país. Os poucos que existem estão em manutenção e já defasados, acrescentou.

Para amenizar a situação, o Paraguai está trabalhando com autoridades da Bolívia para replicar o mesmo sistema de radares que está instalado nas fronteiras terrestres daquele país, graças a um milionário investimento do governo.

PAÍS DE TRÂNSITO

Zully Rolón: faltam ao Paraguai radares nas fronteiras e escâneres nos portos. Foto Agência IP

A ministra disse que o Paraguai, até o momento, ainda é considerado um país de trânsito de cocaína, e ainda não pode ser levado em conta como um centro de produção da droga. No entanto, embora não existam plantações de coca no país, ainda assim pode ser feito, em solo paraguaio, um trabalho de processamento ou dissolução para baixar a pureza da droga.

Ela afirmou, também, que o Paraguai trabalha com a Polícia Federal do Brasil, no combate ao narcotráfico, além de contar com o apoio permanente da Embaixada dos Estados Unidos, recebendo constantes capacitações para o pessoal de operação.

OS QUATRO HOMENS

Voltando à prisão dos quatro homens: claro que precisam ser processados e presos, conforme determina a legislação. Mas e os grandes traficantes?

Só a última apreensão de uma tonelada de cocaína procedente do Paraguai, na Costa do Marfim, foi avaliada em US$ 47 milhões (ou cerca de R$ 256 milhões). Quanto foi pros bolsos desses quatro homens?

O Departamento de Alto Paraguai, na região do Chaco, é um dos mais pobres do Paraguai, onde há até problemas sérios de falta de energia elétrica e onde apenas um terço da população tem acesso a água tratada.

Mas tem uma localização privilegiada para o crime organizado. Faz fronteira com a Bolívia, produtora de cocaína; e com o Brasil (separado pelo Rio Paraguai), com suas grandes extensões de áreas também pouco fiscalizadas.

Estabelecer uma rota de saída da droga, pra quem entende de logística e conhece toda a região, não deve ser difícil

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