Sem consenso, ainda não há protocolo pra reabrir a ponte. E Ciudad del Este ameaça “explodir”

A Prefeitura vai fechar em protesto contra a indecisão. E o prefeito prometeu sair às ruas na terça-feira, 22, junto com os trabalhadores.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Da parte da Saúde Pública, não há mais impedimento pra reabertura da Ponte da Amizade, diz matéria distribuída pela Agência de Informação Paraguaia (IP), que é do próprio governo.

Em relação à pandemia, Ciudad del Este e Foz do Iguaçu têm “um risco similar”, garantiu o diretor de Vigilância da Saúde, Guillermo Sequera, embora não se saiba se as outras cidades de fronteira estão em situação semelhante.

Ele, que sempre foi contra, agora defende a reabertura da Ponte da Amizade de forma “escalonada”, utilizando-se um protocolo que deverá criar um cordão sanitário e outras medidas de controle, explicou.

Difícil é chegar ao tal protocolo. A reunião de autoridades, comerciantes e trabalhadores, em Ciudad del Este, terminou sem consenso.

Da reunião, participaram dois vice-ministros, funcionários do Ministério do Exterior e da Presidência da República, o governador de Alto Paraná, Roberto González Vaesken, os prefeitos de Ciudad del Este, Presidente Franco e Hernandarias, além de comerciantes e representantes de trabalhadores.

Na foto da Agência IP, um dia de movimento normal na Ponte da Amizade. Hoje, só caminhões.

O desacordo

Enquanto o governo fala em reabertura “gradual”, permitindo a entrada de um pequeno número de veículos e de pedestres, comerciantes e trabalhadores querem abertura total, sem limitações, noticia o jornal La Nación.

A falta de acordo levou o governador de Alto Paraná, Roberto González Vaesken, a alertar: “Eu represento os paranaenses e, quando entramos em conflito, as pessoas sairão às ruas e não poderemos conter. Eu, lamentavelmente, terei que estar com a gente de Alto Paraná na rua”, afirmou.

González Vaesken pediu aos vice-ministros que estavam na reunião que não fiquem em Ciudad del Este só por algumas horas, mas sim por dois ou três dias, para que conheçam de perto os dados que necesitam para tomar a decisão mais acertada”.

E apelou: “Precisamos da ajuda do governo, não nos desamparem, não nos deixem, porque senão, lamentavelmente, haverá o caos em Alto Paraná”.

“Abrir e ver critérios”

O vice-ministro de Comércio, Pedro Mancuello, que participou do encontro, disse ter observado que há setores contrários à abertura gradual e outros de acordo, mas o que se fará agora é falar da abertura da fronteira com base em alguns critérios para cuidar do aspecto sanitário.

“Vamos começar a abrir a ponte e ver quais critérios são os mais adequados para preservar a economia e a saúde da população. É isso que eu levarei à ministra (da Indústria e Comércio, Liz Cramer)”, disse Mancuello ao La Nación.

O protocolo inicial do governo prevê que, na primeira fase, será permitida a passagem de 600 veículos por dia, que será aumentada gradualmente. E, também, de 500 pessoas a é.

“Com apenas 500 pessoas por dia, acredito que muitas empresas não vão abrir nessas circunstâncias. O que a fronteira recisa é da reabertura total”, disse o empresário Jorbel Griebeler, da Câmara de Comércio e Serviços de Ciudad del Este.

Ele lembrou que, desde que foi permitida a abertura do comércio no Paraguai, nem metade das lojas da cidade abriram suas portas, já que os principais clientes são turistas brasileiros.

Marcha de terça-feira

Mototaxistas e outros trabalhadores do transporte vão participar da manifestação de terça-feira.

Haverá, no entanto, outra reunião entre as partes, marcada para terça-feira, 22, mesmo dia em que trabalhadores de diversas categorias, principalmente de transporte, vão sair às ruas em protesto.

Junto com eles, marchará o prefeito de Ciudad del Este, Miguel Prieto. Na reunião, ele informou que assinou resolução suspendendo atividades da Prefeitura, a partir de terça-feira, até que a Ponte da Amizade esteja liberada.

Segundo a resolução, o fechamento da fronteira com Foz do Iguaçu provocou uma “tremenda crise social e econômica”, como noticia o Última Hora.

A municipalidade de Ciudad del Este, “como gesto de apoio e solidariedade, se soma ao pedido de todos os setores afetados, dispondo o fechamento total da instituição até a abertura da Ponte Internacional da Amizade”, diz a resolução.

CDE contra centros logísticos

Nem o acordo com o Brasil para instalação de centros logísticos, onde ficariam as mercadorias adquiridas por brasileiros no comércio de fronteira paraguaio, via internet, agradou os comerciantes de Ciudad del Este.

Este acordo chegou “no mínimo cinco meses atrasado”, diz o Última Hora, que ouviu comerciantes e empresários.

Se tivesse sido aplicada antes, a medida teria evitado a dispensa de mais de 45 mil empregados e o fechamento de aproximadamente 7 mil pequenos negócios.

“Não acredito que funcione, é muita burocracia, com um sistema de pagamento que não vai ser fácil, desde o recebimento até como se vai entregar (a mercadoria). Além disso, o turista, hoje, quer entrar na cidade, quer circular pelas lojas, buscar opções”, comentou o empresário Jorbel Griebeler.

No momento, segundo ele, não há condições de adotar o “delivery fronteiriço”, como ficou conhecido, ao menos em Ciudad del Este. Ele disse que o prejuízo com quase sete meses de fechamento da fronteira “é incalculável”.

“Estamos em uma situação crítica e caótica, muito desemprego, muitas empresas que fecharam e não vão abrir mais”, disse. Por isso, “não podemos falar de outra coisa que não seja a reabertura da Ponte da Amizade, com os protocolos necessários”.

Mas ele é contra a abertura parcial. Griebeler concorda com a posição do governador e do prefeito de Ciudad del Este, de abertura total, já que essa posição  reflexo do que a população da região pensa.

O empresário Said Taigen, da Câmara de Comércio e Serviços, disse que não faz ideia de como será aplicado o protocolo, mas entende que deve ser aplicável e estar em acordo com o Brasil. Deve ser um protocolo só para ambas as margens, disse.

 

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