Sequestro de ex-vice-presidente paraguaio completa dois meses. EPP faz silêncio

O empregado de Óscar Denis, o indígena Adelio Mendoza, que ficou em cativeiro por seis dias, conta o que viu e ouviu.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Há exatamente dois meses, no dia 9 de setembro, o ex-vice-presidente do Paraguai Óscar Denis foi sequestrado por seis homens que se diziam do Exército do Povo Paraguaio. Eles levaram também seu capataz, o índio Adelio Mendoza, liberado seis dias depois.

A Procuradoria do Paraguai já sabe quem são os sequestradores e até abriu processos contra eles, mas nenhum foi localizado.

O líder do grupo seria Esteban Marín López. No grupo, há dois adolescentes, um deles de nacionalidade argentina.

Os sequestradores exigiram que a família do ex-vice-ministro distribuísse o equivalente a US$ 2 milhões em mantimentos para 40 comunidades campesinas do norte do Paraguai. A exigência foi cumprida, mas não houve qualquer resultado.

A ameaça dos sequestradores era que Denis fosse fuzilado, caso a família não distribuísse os mantimentos e o governo paraguaio não libertasse da prisão duas lideranças do EPP. O governo não atendeu, porque a Constituição do Paraguai impede esse tipo de negociação.

Desde então a família pede que os integrantes do grupo entrem em contato ou deem uma prova de vida de Óscar Denis.

Além do ex-vice-ministro, há outros dois reféns mantidos em cativeiro (ou foram assassinados): o oficial de polícia Edelio Morínigo, sequestrado há seis anos pelo EPP, e o fazendeiro Felix Urbieta, que há quatro anos foi levado por uma facção dissidente do EPP.

O relato do capataz

O jovem indígena Adelio Mendoza, de 21 anos, contou à TV Telefuturo como foi o sequestro e o que viu nos seis dias de cativeiro, no esconderijo que os criminosos tinham numa montanha da região. O portal Hoy reproduziu trechos da entrevista.

Segundo Adelio, seis pessoas armadas, com as caras descobertas, levaram ele e seu patrão à montanha. Durante o período de cativeiro, ele só percebeu que os criminosos tinham idades entre 17 e 20 anos.

Todos falavam em guarani e não os maltratavam, mas Adelio disse que teve muito medo. “Senti muito frio e muita fome. Pensei tudo de ruim, que iam nos matar, tive muito medo. Não sei se Denis teve medo, porque não me disse isso”, contou.

O único alimento nos seis dias de cativeiro foi milho moído, no desjejum. “Eu tomava água num recipiente de garrafa de plástico que tinha resto de vinho, e não lhes pedia comida porque tinha medo.”

Tanto ele como Óscar Denis estiveram o tempo todo de olhos vendados e atados por uma corda a uma árvore, perto das redes onde dormiam. Adelio pensou em fugir, mas não teve oportunidade.

Durante os dias de cativeiro, uma vez ele ouviu um helicóptero que sobrevoava a região onde estavam, mas não houve sons de caminhões ou de pessoas que estivessem procurando por eles. Tudo era silencioso e Adelio não sabe se os captores tinham aparelhos para se comunicar com o exterior.

“Eu perguntei a dom Denis como ele estava. Me disse ‘estou bem’, só isso. É um senhor forte. Eu penso que ele continua bem”, disse o capataz.

Depois do sexto dia, três sequestradores o levaram a um ponto que ele desconhece e disseram: “Você vai saber por onde ir”. “Eu não soube em que lugar me libertaram, nem me lembro para onde corri.”

Nos primeiros dias depois da liberdade, Adelio continuou com muito medo. Agora está mais tranquilo, mas ainda temeroso porque continua a trabalhar na Estancia Tranquerita, de seu patrão, onde ocorreu o sequestro.

“Quero um trabalho que não seja tão perigoso.Eu não tenho problemas em trabalhar, porque quero continuar estudando. Quero ser professor e minha esposa também está estudando. Tenho que pagar pelos estudos dela”, disse o capataz, pedindo ajuda para seguir adiante.

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