Por Guilherme Wojciechowski
Fotos: – Arquivo: Nosso Tempo
Diferentes, pero no mucho. Eternos rivais no esporte e potências regionais com interesses conflitantes durante grande parte da segunda metade do século 20, Brasil e Argentina eram mais parecidos, em 13 de janeiro de 1983, do que muitos imaginam.
Na data em questão, os militares que governavam os dois países e foram os últimos de seus regimes ditatoriais, João Baptista de Oliveira Figueiredo e Reynaldo Benito Antonio Bignone, reuniram-se em Foz do Iguaçu para a simbólica instalação da pedra fundamental da futura Ponte da Fraternidade.
Mais que uma jogada política ou o atendimento a uma demanda local dos moradores da região de fronteira, a nova via de ligação, reivindicada desde o início da década de 1970, estava cercada por grande expectativa econômica.
No caso do Brasil, significava, por exemplo, acesso mais rápido ao segundo maior mercado do continente, já que, até a década de 1980, a travessia dos caminhões ocorria por Uruguaiana (RS). Uma ponte no Paraná encurtaria o caminho para os produtos fabricados pela indústria instalada no Sudeste.
Naquela quinta-feira de verão, a recepção aos presidentes ocorreu no Aeroporto Internacional de Foz do Iguaçu. Na sequência, as comitivas seguiram até a esplanada próxima ao Hotel Carimã, em movimentação marcada por grande aparato de segurança e com acesso restrito aos moradores não convidados.
Os discursos foram um termômetro do momento político vivido pelos regimes dos dois países. Bignone, impopular, admitiu que seria o último presidente não eleito pelo voto, na esteira da acachapante derrota na Guerra das Malvinas. Figueiredo expressou amizade e solidariedade pela agressão colonialista britânica.
Outro ato importante do encontro ocorreu no Hotel das Cataratas, com os generais firmando comunicado de cooperação mútua para o comércio, investigação tecnológica e venda de energia elétrica do Brasil para a Argentina (a construção de Itaipu, cujo lago fora formado três meses antes, foi foco de grande tensão).
Nem Bignone, nem Figueiredo sobreviveram tempo suficiente no cargo para inaugurar a Ponte da Fraternidade, cujo prazo inicial era de 22 meses, mas estendeu-se por 34.
Durante todo o ano de 1983, a Argentina foi sacudida por manifestações pedindo a volta da democracia, com a consequente queda do regime militar no dia 10 de dezembro.
O período até 1985, no Brasil, passou à história pela adesão popular ao movimento Diretas Já e pelo fim dos 21 anos de ditadura, com a vitória, no colégio eleitoral, da chapa opositora Tancredo Neves/José Sarney, derrotando a dupla Paulo Maluf/Flávio Marcílio.
Primeiros presidentes civis do novo período de democracia em seus países, José Sarney (Brasil) e Raúl Alfonsín (Argentina) encontram-se em Foz do Iguaçu, em 29 de novembro de 1985, para a inauguração da Ponte Tancredo Neves. (Acervo Museu da Imagem e do Som, Câmara Municipal de Cascavel.)
Com a morte de Tancredo, a Ponte da Fraternidade foi rebatizada com seu nome. Em 29 de novembro de 1985, os primeiros presidentes civis do novo período democrático de Brasil e Argentina, José Sarney e Raúl Alfonsín, inauguraram oficialmente a obra, em clima de festa e de grandes sonhos de integração.
Um dia após a inauguração da Ponte Tancredo Neves, os presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín assinam a Declaração de Foz do Iguaçu, considerada por pesquisadores como o embrião do Mercosul. (Acervo Presidência da República)
Em entrevista ao semanário Nosso Tempo, o empresário Ermínio Gatti, proprietário do hotel localizado ao lado do atual acesso à ponte, resumiu o sentimento de esperança. Visualizo desde já uma explosão de progresso nesta região, que acabará beneficiando toda a população das três fronteiras, opinou.
Hiperinflação, crises econômicas e desilusões com a democracia ajudaram a frustrar ou adiar parte dos sonhos, que seguem, neste aniversário de 30 anos da Ponte da Fraternidade, mais vivos que nunca.
* Guilherme Wojciechowski é radialista e apresenta, todos os sábados, o programa Front (das 10h às 12h) na Transamérica Foz 104,5 FM. Foi, anteriormente, diretor de jornalismo da rádio CBN e editor do blog Sopa Brasiguaia, dedicado às notícias da fronteira.
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