Jackson Lima, o alagoano mais iguaçuense que existe

Missionário, guia de turismo, jornalista, ativista e ícone da comunicação trinacional. Conheça brevemente a história de Jackson Lima

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H2FOZ – Renata Thomazi

 

“Foz do Iguaçu é a única cidade em que eu consegui me encontrar.” Com certeza, se a cidade pudesse agradecer por este encontro, ela agradeceria. Para quem ainda não o conhece, peço licença para apresentar: Jackson Lima.

Nascido em 30 de agosto de 1955, natural de Coruripe, em Maceió, o alagoano se despediu da família de origem humilde para, ainda jovem, viver como um missionário. Acompanhado apenas por suas crenças, livros e uma bagagem de mão, o jovem percorreu diversas cidades da América Latina e incontáveis municípios brasileiros até que em 1977 chegou a São Paulo.

O tempo dele na capital paulista foi rápido o suficiente para aceitar uma missão em outra capital: Assunção, no Paraguai. Missão cumprida, e os planos de retorno ao Brasil o levaram a comprar uma passagem de ônibus até Ciudad del Este. A ideia era seguir para Foz do Iguaçu e continuar na peregrinação religiosa da época. Todavia, os planos não deram certo.

Desembarcou na rodoviária da fronteira paraguaia e foi imediatamente vítima de furto. Levaram a mesma mala que o acompanhava desde Maceió. Em apuros, sem dinheiro e sem ter a quem recorrer no país vizinho, Jackson decidiu sair da rodoviária e realizar toda a travessia a pé da Ponte da Amizade até chegar à Avenida Brasil, em Foz. Conseguiu contato com um membro da Igreja, que ofereceu pouso por apenas uma noite.

Jackson Lima na redação do jornal Gazeta Diário / Foto: Roger Meireles

“Hoje ou hoje”

Acordou cedo e bateu de hotel em hotel na principal avenida da cidade em busca de emprego. Mesmo sem ter concluído o segundo grau, Jackson dominava a língua inglesa, espanhola e francesa. Diante das habilidades, aconselharam-no a pedir emprego no Hotel das Cataratas, localizado dentro do Parque Nacional do Iguaçu, e ele foi.

No mesmo dia, com roupa limpa emprestada e apenas o dinheiro da passagem de ida, Jackson foi de ônibus até o Hotel das Cataratas. “Eu não sabia nem que pagava entrada, muito menos que existia um parque ali.”

Não podiam entrevistá-lo naquele momento, apenas no dia seguinte, mas com forte argumento Jackson mudou o próprio destino. “Se eu sair hoje daqui, não tem dia seguinte. A entrevista precisa ser hoje ou hoje.”

Vibrando com a beleza das Cataratas do Iguaçu / Foto: Kiko Sierich

Guia de turismo

Jackson estava contratado e nem voltou para o centro de Foz. Dormiu e ficou por lá mesmo, no luxuoso Hotel das Cataratas. O começo foi imediato, no dia seguinte, às 9h, ele estava devidamente uniformizado e atuando diretamente com os clientes mais exigentes do hotel. “Eu era tipo um relações-públicas, resolvia os problemas dos hóspedes. Geralmente deixavam os mais ricos e chatos para eu lidar.”

Além de atender os hóspedes, Jackson também ensinava inglês aos colaboradores. O tato para lidar com os mais diversos tipos de pessoas naturalmente o encaminhou para a profissão de guia turístico na cidade.

Networking

Ainda quando pequeno, Jackson recebeu do pai um grande aprendizado: o respeito pelos livros; resultado, desenvolveu o gosto pela escrita. “Antes de ser jornalista já escrevia, fazia sermões religiosos e ia escrevendo outras coisas”, conta. E foi com os colegas da profissão do turismo que surgiram outros trabalhos e com eles a oportunidade, em 1990, de trabalhar no extinto jornal impresso A Gazeta do Iguaçu, ou Gazetinha.

Jackson na década de 90 em meio aos jornalistas iguaçuenses / Foto: reprodução Facebook,  Montezuma Cruz

Jornalismo

Jackson correu atrás dos estudos: terminou o segundo grau e depois de uma década, em 2000, veio a primeira turma de jornalismo de Foz do Iguaçu, na UDC (Centro Universitário Dinâmica das Cataratas). E ele estava lá, escrevendo mais uma vez seu nome na história do jornalismo da cidade. Encontrou muitos colegas de profissão na faculdade, entre eles Robson Meireles e Kiko Sierich.

Jackson Lima e os colegas da turma de Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo – UDC / Foto: reprodução Facebook – Maris Sampaio

150 anos de história

Com a sua conduta e profissionalismo, Jackson contribui para um jornalismo iguaçuense mais humano, inteligente e transparente. Ele é referência na classe, e quem afirma isso é o repórter fotográfico Kiko Sierich. “Na época da faculdade, ele já tinha seus quase 50 anos de idade e pelo menos mais uns 150 anos de história. Hoje diria que ele é um Google humano. Quem conhece a história dele sabe que ele é um ser iluminado, de uma humildade sem limites. A inteligência desse cara é algo inexplicável. O Jack é, sem dúvida, uma das melhores pessoas que eu conheço. Pra mim é uma grande honra saber que posso entrar na casa dele e pedir um conselho.”

Os jornalistas Kiko Sierich, Tamara Soares, Jackson Lima, Roque Ovelar, Renata Thomazi e Elson Marques na redação do jornal Gazeta do Iguaçu / Foto: Kiko Sierich

Unanimidade

Ele é um eterno estudioso. E com toda a humildade, disponibilidade e conhecimento, Jackson conquista as pessoas. “Não há quem não goste do Jackson. Eu pelo menos não conheço.” É o que conta a colega de profissão e amiga pessoal Daniela Valiente. “O interesse dele por temas universais é muito ímpar, e é muito bom estar perto dele, energeticamente, intelectualmente. Ele é uma pessoa bastante amorosa e ele se doa para você. Ele não se importa em dividir conhecimento. Se ele descobre algo, ele conta. É muito legal compartilhar isso. O Jackson contribui imensamente para a imprensa local.” Valiente começou a trabalhar com Jackson em 2001, também na Gazetinha.

Equipe do extinto jornal Gazeta do Iguaçu / Foto: Reprodução Facebook – Roger Meireles

Os desafios do jornalismo

Atualmente Jackson Lima trabalha para o jornal Gazeta Diário, e com ele também o editor-chefe do tabloide iguaçuense, Robson Meireles. “Eu conheci ele em 1996, quando entrei na Gazeta do Iguaçu. Eu era fotógrafo e eu acompanhava ele em todos os lugares. O que me mais me admirava era a quantidade de idiomas que ele falava.”

Segundo Robson, certa vez a dupla foi desprezada por um figurão da cidade que fez a recepção dos turistas que chegaram a Foz de Concorde – avião mais rápido do mundo na época. “Tinha gente de tudo quanto é nação. E os seis intérpretes foram almoçar, quando os turistas começaram a pedir informações para o rapaz. Ele não entendia absolutamente nada. Mal falava o português. Nisso, o Jackson foi respondendo um a um em alemão, inglês, japonês, francês. Depois disso o tratamento com a nossa equipe mudou e fomos valorizados.”

Meireles relembra algumas aventuras jornalísticas, como quando eles toparam realizar a primeira cobertura sobre a reabertura da Estrada do Colono em 2003. “Tínhamos carona para ir até o acampamento em Capanema, mas não havia carona para a volta. Sabíamos que seriam aproximadamente 17,5 quilômetros, mais de cinco ou seis horas de caminhada no meio da mata. Sem lanterna, sem água, sem nada. Mesmo assim ele topou participar.”

“Hoje ele é a minha referência. Como editor do jornal, eu sei que posso contar ele” – Robson Meireles, jornalista e editor do jornal Gazeta Diário

Robson Meireles e Jackson Lima na redação do jornal Gazeta Diário / Foto: Arquivo Pessoal Robson Meireles

Conectado

No alto dos 63 anos, Jackson não fica para trás. Lê sobre tudo e procura estar atualizado. “Ele está no mundo dos jovens”, diz Robson. Além de escrever o editorial do Gazeta Diário, Jackson deixa também suas reflexões, pensamentos e indignações no blogue chamado O Blog de Foz.

Focado nas causas ambientais, turísticas, sobre as minorias, raciais e questões humanitárias, o blogue é um guia da Tríplice Fronteira desde 2007. Quem quiser continuar conhecendo este ícone do jornalismo iguaçuense pode acompanhá-lo também nas redes sociais.

Durante as Olimpíadas Rio 2016, Jackson Lima foi um dos selecionados para correr com a tocha olímpica pela cidade de Foz do Iguaçu

Casado, pai de seis filhos, Jackson trabalhou para outros veículos de comunicação, mas ele não se resume, afinal tem tanta influência positiva por onde passa que, ao longo de toda a sua trajetória em Foz, o jornalista acumulou infinitas e agradáveis histórias. Nós, equipe do Portal H2FOZ, buscamos descrever até aqui, mesmo que brevemente, a vida deste homem que ainda está em construção. Ele merece estar no Vidas do Iguaçu, pois afinal ele é o alagoano mais iguaçuense que existe! 

 

 

 

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