Semana da Consciência Negra sofre ataque racista, misógino e homofóbico

Foram oito minutos de vandalismo on-line; uma das participantes do ataque teve sua imagem capturada.

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Foram oito minutos de vandalismo on-line; uma das participantes do ataque teve sua imagem capturada.

A onda de vandalismo na internet continua a fazer ataques virtuais de forma criminosa. Dessa vez, os marginais atingiram um evento em Foz do Iguaçu. A 11ª Semana da Consciência Negra teve a sala on-line invadida por vândalos, que fizeram insultos racistas, misóginos e homofóbicos, além de proferir palavras de baixo calão.

A atividade integra o projeto de extensão “Vozes Negras Femininas na América Latina”, promovido pelo Núcleo de Estudos Afro-Latino-Americanos da Universidade Federal da Integração Latino Americana. A mesa de discussão fez parte da Semana da Consciência Negra da Unila, um espaço de debate sobre as questões étnico-raciais.

Foram oito minutos de vandalismo on-line praticado por um grupo de brasileiros. Durante o ataque foram expostos vídeos de sexo explícito e brinquedos sexuais. Os invasores gritaram o nome do presidente da República; um deles utilizou o chat da live para escrever mais de 30 vezes o nome de Jair Bolsonaro.

Uma das participantes do ataque teve sua imagem capturada. A imagem deve ajudar na identificação dos meliantes. Apesar de o exército invisível que dissemina ódio na internet utilizar fotos e nomes falsos, o Núcleo de Combate aos Cibercrimes da Polícia Civil tem ferramentas para rastrear os endereços dos computadores usados no ataque.

“Foi horrível”

Além de professores e alunos da Unila, a 11ª Semana da Consciência Negra contou com participação de convidados de diferentes regiões do Brasil e da Argentina. Para a professora Julia Alves, “foi a prova de que o Dia da Consciência Negra precisa ser todos os dias. A discussão sobre o racismo estrutural no Brasil deve ser um projeto de toda a sociedade”.

Já a professora Flávia Dorneles disse que o crime “foi horrível, me fez perder o sono algumas noites. Estamos bastante assustadas com o crime e que ocorra, justamente, no mês em que a cidade de Foz de Iguaçu, orgulhosa de sua multiculturalidade, realiza sua 1ª Mostra Cultural Afro-Brasileira na Feira Internacional do Livro”

A acadêmica Anna Beatriz, do curso de Antropologia, por sua vez, contou que estava gravando o encontro quando começaram a projetar vários vídeos descontroladamente até provocarem o travamento do computador dela. 

“O que assusta mais é saber que são pessoas com acesso à informação usando palavras violentas como se estivessem em um assalto. No início entraram fingindo ser pessoas do público-alvo, e de repente fizeram o que fizeram”, revelou a estudante.

Para Flávia Dorneles, é preciso ampliar a celebração do Novembro Negro, afinal ainda são poucas as vitórias conquistadas pela população negra após os 134 anos de um dos maiores crimes contra a humanidade que foi a desumanização e a comercialização de homens, mulheres e crianças africanas para alavancar a economia do Ocidente.

A 11ª Semana da Consciência Negra é o encerramento de atividades que ocorrem o ano inteiro com mulheres afrodescendentes do Brasil, Paraguai, Argentina e Colômbia. Segundo a coordenadora do projeto e diretora do Instituto Latino-Americano de Arte, Cultura e História (ILAACH), Ângela Souza, a discussão vem fortalecendo-se com excelentes resultados desse trabalho conjunto.

“A proposta era finalizar no dia 20 de novembro com a questão da população afro-argentina e seus desafios, mas fomos violentamente surpreendidas por esses criminosos que invadiram nossa página e fizeram parar o trabalho realizado. Porém não vão nos parar, muito pelo contrário! Nossa luta é ancestral, e a resistência é o que nos move. O debate étnico-racial entre populações latino-americanas é o nosso objetivo, é um direito à cidadania, são direitos humanos”, concluiu.

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