Violência com vítima mulher cresce 30% em Foz: 3.032 ocorrências no 1º semestre

Foram 1.018 registros de violência doméstica. Pandemia pode ter dificultado acesso aos meios de denúncia.

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H2FOZ – Paulo Bogler

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A violência contra mulheres cresceu no primeiro semestre do ano em Foz do Iguaçu. De janeiro a junho, foram 3.032 ocorrências de crimes em que a vítima é mulher. Esse número representa aumento de 30% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram 2.330 registros.

Os dados são da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (SESP), com base em boletins unificados das instituições policiais. Abrangem somente ocorrências de mulheres com 18 anos ou mais.

Neste ano, foram cometidos dois feminicídios em Foz do Iguaçu, ambos durante a pandemia. Em todo o ano de 2019, houve uma ocorrência. Esse tipo de crime é hediondo, cometido “contra a mulher por razões da condição de sexo feminino”, isto é, pelo fato de ela ser mulher.

3.032 ocorrências de crimes em que a
vítima é mulher, no primeiro semestre.

As três principais causas das denúncias em que a mulher é a vítima foram devido à ameaça (876 casos), injúria (409) e lesão corporal (393). Os boletins incluem também furto qualificado e simples, estelionato, roubo, dano, perturbação da tranquilidade, difamação e outros.

Do total de 3.032 casos, foram identificadas como violência doméstica 1.018 denúncias formalizadas à autoridade policial, na primeira metade do ano. Houve estabilidade em relação às 1.042 ocorrências aferidas em 2019 pelo levantamento da SESP.

No período, das 1.018 denúncias, foram 415 ameaças e 393 lesões corporais no ambiente doméstico, além de 248 situações de injúria e 75 vias de fato. Ocorreu aumento do número de descumprimento de medidas judiciais protetivas, passando de 52 no primeiro semestre de 2019 para 68 nos seis primeiros meses de 2020.

Violência “real” acima das estatísticas

Para a coordenadora da Patrulha Maria da Penha, Iraci Pereira Conceição, as mulheres se sentem mais encorajadas em denunciar situações envolvendo segurança pública de forma geral do que a violência doméstica, por isso a estagnação desse índice nas estatísticas. Para ela, a pandemia também pode ter dificultado o acesso às denúncias.

“Essa estabilidade quanto aos números da violência doméstica [apontada no levantamento da SESP] vai na contramão do resto do país e do mundo durante a pandemia”, expõe Iraci. “Com um apanhado geral do Brasil e do mundo, vemos que as ocorrências aumentaram”, completa.

“Já no município, os números estagnaram nos primeiros meses da pandemia. Mas isso serve de alerta, porque não significa necessariamente que a violência doméstica diminuiu, mas sim que as denúncias não chegaram aos órgãos competentes”, enfatiza a guarda municipal.

“Não podemos nos iludir que os números de violência doméstica estagnaram ou diminuíram.”  

Para Iraci, os dados estão abaixo do quadro real de violência de gênero. “Tivemos muitas mulheres que não puderam sair para trabalhar. Seus filhos não foram à escola, seu companheiro estava também na residência. O número de ônibus diminuiu. Acredito que esses fatores contribuíram para dificultar o acesso às denúncias”, reflete.

“Há também a condição financeira, porque as mulheres sem ter seu sustento garantido ficam preocupadas sobre como vão fazer para manter seus filhos”, expõe. “Precisamos trabalhar mais, para que essas vítimas cheguem ao sistema protetivo e às políticas públicas.”

Conforme Iraci, as mulheres também foram penalizadas com as restrições resultantes de medidas de contenção à covid-19. Ele cita o contingente feminino que trabalha no segmento turístico, afetado pela pandemia, e em atividades na Argentina e Paraguai, países que fecharam as fronteiras com o Brasil.

Iraci Pereira conta que a Patrulha Maria da Penha recebe muitos pedidos de orientação e ajuda durante a pandemia, mas que muitas dessas situações são são registradas junto aos órgãos protetivos – foto Marcos Labanca/Arquivo/H2FOZ

Chamadas durante a pandemia 

A servidora pública revela que, desde o início da pandemia, a equipe da Patrulha Maria da Penha recebe muitos pedidos de orientação, informação e até de ajuda, via celular. “Não podemos nos iludir que os números de violência doméstica estagnaram ou diminuíram”, sublinha.

“E, mesmo com todas as orientações que prestamos, essas mulheres não chegaram até nós para atendimento. Isso significa que elas não deram o passo principal, que era fazer a denúncia”, completa Iraci Pereira Conceição.

Rede de proteção 

A cidade de Foz do Iguaçu dispõe de uma rede diversificada de serviços de atendimento à mulher vítima de violência doméstica.

Serviços de proteção à mulher em Foz: 

– Delegacia da Mulher: (45) 3521-2150

– Patrulha Maria da Penha: (45) 98401-6287

– CRAM (Centro Referência em Atendimento à Mulher em Situação de Violência): (45) 3526-8857

– Disque-180: denúncia de casos de violência doméstica

– Guarda Municipal: 153

– Polícia Militar: 190

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