Quanto riso, quanta gravação

Íntegra de vídeo de reunião, em que Bolsonaro discutiu golpe de Estado com ministros, foi liberada pelo STF.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

VÍDEO: O que sabemos sobre nós mesmos? Assista à nova história da série Vidas do Iguaçu.

O Brasil não é para amadores, e essa frase já virou senso comum. Para quem é da mídia e até um pouco tempo atrás escutava que dezembro e janeiro eram meses de vacas magras, sem pautas, porque os três poderes praticamente estavam em recesso e tudo parava, os tempos são outros. Temos avalanches diárias de notícias – nacionais e internacionais.

E para quem dizia que no Brasil o ano só começa depois do carnaval, com a divulgação das últimas operações da PF (Polícia Federal), que colocou seu bloco na rua no último dia 8, há muita gente que talvez não esteja em ritmo de festa. E não só a quarta, mas os outros dias estão com cara de cinzas.

Nas últimas horas, a PF fechou o cerco em relação ao que se chamava de alto escalão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que tramava um golpe de estado, ainda no mês de julho de 2022, mais exatamente no dia 5, em virtude da possível derrota nas urnas – que surgia no horizonte de outubro daquele ano.

Há uma parcela da sociedade alegando que as coisas estão sendo tiradas de contexto. Mas o vídeo na íntegra está em todas as redes. E certamente tem dado um trabalhão aos editores, que precisam sinalizar com um bip os palavrões.

Em determinados momentos, os vídeos parecem mesmo alarmes dos sinais vitais de um paciente em uma UTI (unidade de terapia intensiva). E era, sendo que quem estava na condição de doente era a nossa boa e velha democracia. A divulgação dos vídeos é um show de horrores, por querer jogar a democracia no lixo, e de palavrões, pois mostra o que a falta da chamada liturgia do cargo provoca.

Para quem não sabe, liturgia do cargo é quando você assume uma função e precisa seguir um comportamento adequado no desempenho dela. contudo não é isso que temos presenciado ao longo dos anos, diante de inúmeras instituições, entre elas a presidência. 

Lembro-me das eleições presidenciais após a redemocratização do Brasil. Assistia aos debates e ficava pensando em como os candidatos precisavam preparar-se tanto para que conseguissem responder a incontáveis temas. Tinham de saber dados do eixo político, social, econômico e outros. Sempre pensei que, independentemente de quem levasse a eleição, precisaria ser alguém muito bem preparado, muito bem assessorado. Que nada!

O vídeo na íntegra daquela reunião ministerial, liberado pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Alexandre de Moraes, após a mídia divulgar trechos editados, é uma “aula” de xingamentos. Como se o vocabulário formal fosse jogado na latrina e, de lá, peneirados os termos mais chulos para moldar um encontro cujo alvo era o regime democrático brasileiro.

Claro que os palavrões, por si só, não são os aspectos mais agravantes de um esquema que, segundo os relatórios da PF, era organizado em seis núcleos, sendo eles: núcleo de desinformação e ataques ao sistema eleitoral; núcleo responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de estado; núcleo jurídico; núcleo operacional de apoio às ações golpistas; núcleo de inteligência paralela; núcleo de oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos, todos eles bastante autodescritivos. Se tudo fosse um bolo, palavrões seriam a cereja.


As revelações que já vieram à tona atravessaram o samba de gente graúda. A investigação segue. O desfecho desse enredo deverá ser de sangue, suor e muitas lágrimas (os desmaios já começaram). Me lembrei do trecho de uma música: “Sorria que estou te filmando…”, mas isso é pagode romântico. Cai melhor: “Quanto riso, oh, quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão. Arlequim está chorando.”

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