Rádio Clube
H2FOZ
Início » Últimas Notícias » Quando as cidades não gostam de árvores

Sustentabilidade

Quando as cidades não gostam de árvores

Os gestores públicos ainda não se atentaram ao significado das árvores no meio urbano e as tratam como vilãs.

5 min de leitura
Quando as cidades não gostam de árvores
Mesmo diante de todos seus benefícios, as constantes quedas de árvores as colocam em um patamar de vilãs, nas cidades. Foto: Marcos Labanca
Publicidade

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

A cada tempestade, vendaval ou temporal, vento e ventania, quando árvores ou galhos caem, alguém murmura que a culpa é de quem não deixa cortá-las. E o que é que está sendo feito para preservá-las? Os tais planos de arborização urbana ficam mesmo na primeira palavra, plano, através de uma ideia que não se sustenta. E não é por falta de dinheiro. É ausência de competência mesmo.

Publicidade

A história é sempre igual. Quando ocorre chuva com ventos, as árvores são as primeiras a darem os sinais. Você já escutou o barulho do vento na copa de uma árvore? É encantador. Mas assusta também. Principalmente onde a galhada oferecer risco para transeuntes, imóveis ou algum carro que esteja perto dela.

É bastante comum que ao acontecer algum evento que tire a população da rotina, e esse fato seja negativo, haja a procura de um culpado. Como quando parte da cidade fica sem luz! E a natureza, invariavelmente paga o pato. Porém, o que tem sido feito para prevenir tais situações? O mesmo que o peixe faz: nada.

O modo como as cidades tratam as árvores, tão importantes para minimizar os problemas urbanos, é assustador. Primeiramente, parece haver uma cruzada em torno da substituição de árvores frondosas, por arbustos. É uma espécie de desencargo de consciência. Corta-se uma árvore enorme, para plantar um metro e meio de verde.

Publicidade

Há ainda o problema de transformar as calçadas em extensão do asfalto, com o terreno completamente compactado e o cimento estendendo-se até o caule. Então, vem a justificativa de que a árvore está estourando a calçada e deve ser retirada.

Critério importante, que não é levado em consideração é definir a espécie conforme a existência ou não de fios de energia. Isso gera uma disputa entre a galhada que quer se desenvolver e o funcionário terceirizado escalado para liberar a fiação, com motosserras que avançam sem dó rumo ao verde.

Publicidade

Recentemente, em Cianorte, Paraná, uma empresa terceirizada que atuava em Foz do Iguaçu foi até a cidade fazer a lição de casa que o município não deu conta. A equipe mapeou os principais gargalos e simplesmente passou o rodo, ou melhor, a motosserra com o único objetivo: liberar a fiação da rede elétrica.

Quando um dos prestadores de serviço foi questionado, ele respondeu que só cumpria ordens, mas que entendia a preocupação dos moradores, pois se fizessem o que eles fazem na árvore de frente da casa dele, ele ficaria revoltado. Explicou que foram escalados para fazer em poucos meses, o que não foi feito em anos, no intuito de liberar a fiação.

O resultado? É o que imaginamos e vimos. A copa da árvore, uniforme e contínua, é devastada. Abre-se um túnel para liberar a rede elétrica, e a árvore perde a estabilidade. Normalmente é transformada no formato de um V e está condenada a cair. E assim o jogo segue. Para ajudar, era período de frutificação das mangas. Um desperdício completo com o chão forrado de mangas. Passados alguns dias, havia morador recolhendo manga madura caída, que não foram preservadas nos pés.

A impressão é que os gestores, aqueles que decidem pela arborização das cidades, desconhecem a importância das frutíferas urbanas para a vida das pessoas e dos animais; não se importam com o período de frutificação e floração das árvores e muito menos com a reprodução das aves. Para completar, no método da poda sequencial, não se permite que a equipe saia um quarteirão da rota. Em muitos casos um morador da esquina pede uma poda preventiva, e a informação é de que aquela área não está contemplada. Ainda há um descaso extremo em não perceber os locais onde deveriam plantar ou replantar árvores.

Outro agravante, para compor esse caldo de displicência, é que as mudinhas plantadas, que irão substituir aquelas adultas, que levaram anos para atingir uma copa frondosa, não têm garantia suficiente de que sobreviverão. Não é perceptível o replantio, a transposição, de árvores frondosas pela administração pública, somente em projetos paisagísticos particulares. Parece que desconhecem essa técnica, ou é que realmente não se importam.

“Ah, mas você só sabe reclamar, colocar gosto ruim. Tantas cidades que são muito piores que as nossas”, diriam. Temos que nos comparar com o que há de melhor. E o melhor é uma cidade arborizada, bem cuidada, em que o verde seja nosso aliado o tempo todo, para que não seja tratado como vilão nas tempestades.

Ah, e isso que nem falei da fiação, que se houver investimento, pode ser sim subterrânea. Mas isso é assunto para outra conversa. Um assunto para quem sabe da importância de prever cenários, algo bastante distante, com exceções, da ótica de nossos gestores públicos. Quem gosta cuida, e não é isso que observa-se com nosso verde urbano.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

Quer divulgar a sua opinião. Envie o seu artigo para o e-mail portal@h2foz.com.br

Você lê o H2 diariamente?
Assine no portal e ajude a fortalecer o jornalismo.
Assuntos

Aida Franco de Lima

Aida Franco de Lima é jornalista, professora e escritora. Dra. em Comunicação e Semiótica, especialista em Meio Ambiente.