Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Quem diria que um cachorro da raça border collie seria o pivô de uma revelação política que beira à improbidade administrativa? Trouxe o assunto para esta coluna porque todas as ações políticas afetam o meio em que vivemos. Vamos lá, que vem história.
Pergunte para a inteligência artificial, e ela vai responder: “Em termos jurídicos, o encontro fortuito de provas, também conhecido como serendipidade, refere-se à descoberta acidental de evidências relacionadas a um crime durante uma investigação de outro crime, quando a investigação original já foi devidamente autorizada. É uma situação em que a prova do novo crime não era o objetivo inicial da investigação, mas é descoberta inesperadamente durante a sua execução.”
Mas nem estamos, inicialmente, falando de crime. A conversa começa porque um cachorro fofo chamado Jack acha mesmo que a grama do vizinho é melhor que a de sua mansão. Por acaso, sua tutora é a cantora sertaneja Simone Mendes, que formava a dupla Simone e Simara.
- Em sua curiosidade e energia nata, Jack fugiu de sua casa, e não foi uma nem duas vezes. E na terceira vez, o seu vizinho e a esposa o encontraram caído no buraco de uma piscina em obras. O vizinho é o deputado federal Fábio Teruel (MDB). Mas talvez você o conheça como o influencer mensageiro de Deus, que mantém diálogos matinais com milhares de seguidores que buscam uma palavra de apoio. No YouTube, ele tem mais de oito milhões de inscritos, e no Instagram, cinco milhões. Sua esposa, Ely Teruel (MDB), cujo estado civil foi declarado solteira, mesmo anunciando que estão juntos desde 1995, foi reeleita vereadora em São Paulo. A sertaneja e o político moram em um condomínio luxuoso, apelidado de “Beverly Hills paulista”, o Residencial Tamboré I, na região de Alphaville, em Barueri (SP).
Estamos na era das redes sociais, em que as conversas privadas ganham conotações públicas e, por acaso, também na onda pet, em que as pessoas surfam e se aproveitam para ganhar curtidas com frases fofas e fotos ao lado de bichinhos.
Com o mensageiro de Deus não foi diferente. Ele resolveu passar sermão na cantora em plena rede social, dando um puxão de orelha virtual, aconselhando-a a cuidar melhor do Jack.
Houve a réplica, por parte do marido de Simone, o empresário Kaká Diniz, que falou que o político queria aproveitar-se da situação para ganhar voto. E, como já escrevi por aqui, errado ele não está. Castração e resgate de animais viraram a nova dentadura e cadeira de rodas, quando lembramos o tempo em que era comum esse tipo de promessa em troca de votos.
Jack saiu do foco, e o que veio à tona foram revelações pecaminosas: omissão da propriedade em Barueri e parte dos R$ 11 milhões das emendas parlamentares que ele enviou para a cidade onde mora, usada para recapear as ruas do luxuoso condomínio em que reside. No total, foram R$ 2,2 milhões destinados a pavimentar o residencial onde moram famosos como Deolane Bezerra, Fiuk, Carlinhos Maia e outros.
Emenda PIX é aquela verba que deputados e senadores recebem e repassam para quem bem querem, a qual entra no bolo geral dos cofres públicos, cujo destino final é de difícil rastreamento.
Toda fábula tem uma moral. Mas aqui não estamos falando de fábula, portanto não encontramos moral, ela está em falta. Se há algum inocente na história, é Jack. Porém, se estamos falando de quem se intitula mensageiro de Deus, uma passagem bíblica até que cai bem: “Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm a vocês vestidos de peles de ovelhas, mas por dentro são lobos devoradores. Vocês os reconhecerão por seus frutos.” Matheus, 7:15-23
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