Uma moradora de Cianorte pediu ajuda para resolver um problema que ela e vizinhos vêm enfrentando há meses. Sua casa é próxima de uma das áreas que compõem o Parque Municipal do Cinturão Verde, e ela tem sua residência invadida por macacos-prego em busca de comida.
O que pode parecer até engraçado é uma situação gravíssima, e já falei deste assunto aqui, que mostra a necessidade de as autoridades públicas cuidarem do parque com mais responsabilidade. Dinheiro para isso não falta. A unidade de conservação, criada oficialmente no ano 2000, gera em torno de R$ 6.000.000,00 ao ano de ICMS Ecológico. Isso, seis milhões de reais ao ano. Quantas empresas em sua cidade são capazes de gerar esse valor no caixa?
A moradora relatou que, para ter sossego, ela precisa ficar presa em sua própria casa. Ela e o esposo tiveram de adaptar as janelas para evitar que os macacos as abram. Eles forçam as janelas na tentativa de adentrar a cozinha. Basta um descuido, e pronto…
Ela narrou que já encontrou a casa toda revirada. Os animais foram até a sala e deixaram marcas nas almofadas e sofás. Mas até então ela imaginava que poderia ser resultado de alguma briga de gato. Ela saía cedo e deixava a janela aberta. Quando chegava, a residência estava bagunçada e com lama. E ela começou a estranhar as marcas de dedo nos móveis. Um dia, deixou a janela aberta, e entraram seis macacos. Foi quando ela passou a deixar tudo fechado. Ela falava com o filho que as frutas estavam sumindo, bolacha fechada, pães… E então foi quando descobriu quem eram os autores das cenas.
Na série de vídeos aqui mostrados, os macacos tentam forçar a entrada pela janela, que está travada com pedaços de madeira. Em outro momento, com a janela aberta, eles entram e passeiam pela geladeira, mesa e pia. Em outra ocasião, a janela está fechada. Eles não se acanham e entram mesmo pela porta.
Esta não é a primeira vez que a comunidade fala do problema. Talvez seja mesmo a primeira vez que as imagens são divulgadas. Muita gente prefere não se indispor, fica com medo de sofrer represálias. Imaginem, a pessoa vivencia o problema e tem que ficar calada?
Quem anda no entorno do parque lê placas que dizem: “Não alimente os animais. Há comida suficiente na mata.” Só se esqueceram de combinar com os bichos. São frequentes as cenas de quatis e macacos revirando lixo. As lixeiras das redondezas, tanto das casas como as públicas, são um convite a um banquete farto e tóxico. É frequente verificar animais obesos, mortos. VEJA VÍDEO.
Inclusive na própria sede da Secretaria de Meio Ambiente e Divisão de Bem-Estar Animal os animais fazem a festa (tóxica) revirando lixo em veículos usados para colher detritos da zona rural. VEJA VÍDEO.
Recentemente, quando houve um grande incêndio no Cinturão Verde, ativista de Maringá, especializada em resgate de animais domésticos e silvestres, ofereceu ajuda para suplementar a alimentação dos animais. Foi praticamente ‘excomungada’, inclusive convidada a retirar-se do grupo formado para proteger a área.
E o que fazer? O trabalho não é fácil, mas não é impossível. Primeiramente, os órgãos responsáveis precisam parar de tentar tapar o Sol com a peneira e reconhecer os problemas gritantes do parque, entre os quais estão as erosões, as espécies exóticas invasoras, poluição, despejo de esgoto, lixo, caça, invasão de animais domésticos etc.
É essencial um trabalho sério de educação ambiental, principalmente com a comunidade do entorno, inclusive para que ela ajude a monitorar a área. Já foi observado morador jogando o que sobrou da poda da jardinagem dentro do parque, bem na área onde ficam a sede da Secretaria de Meio Ambiente, da Divisão de Bem-Estar Animal e Polícia Ambiental. Parece piada, mas não é.
As lixeiras residenciais e as públicas deveriam ser adaptadas para que os animais não tivessem acesso. O lixo orgânico deveria ter destino diferenciado do lixo reciclável.
Deveria haver uma equipe de pesquisadores estudando o parque, percebendo suas necessidades e potencialidades, de modo contínuo. E sim, entre outros, traçar um plano de reposição florestal com frutíferas nativas e a supervisão dessas plantas. Paralelamente a isso, a suplementação alimentar, atraindo para dentro da mata os animais que buscam comida nas lixeiras e residências.
De outro modo, é preciso um trabalho efetivo para evitar que cães e gatos adentrem a área em busca de caça, abrigo, ou que sejam desovados no local.
Essas medidas vão acontecer? Não, pois o ego dos envolvidos é maior que a busca por soluções. Quando os gestores públicos preferem administrar para as redes sociais e colocam no lixo as propostas que promovem a sustentabilidade, deparamo-nos com essas cenas.
O morador, que deveria ter o parque como um presente, percebe-o como uma arapuca. No caso, a isca acaba sendo a comunidade. Essa se vê refém de uma fauna, que está a cada dia mais ameaçada e na luta pela sobrevivência, em busca de alimentos que não encontra mais na floresta e procura nas residências.