Quando as cidades não gostam de árvores

Os gestores públicos ainda não se atentaram ao significado das árvores no meio urbano e as tratam como vilãs.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

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A cada tempestade, vendaval ou temporal, vento e ventania, quando árvores ou galhos caem, alguém murmura que a culpa é de quem não deixa cortá-las. E o que é que está sendo feito para preservá-las? Os tais planos de arborização urbana ficam mesmo na primeira palavra, plano, através de uma ideia que não se sustenta. E não é por falta de dinheiro. É ausência de competência mesmo.

A história é sempre igual. Quando ocorre chuva com ventos, as árvores são as primeiras a darem os sinais. Você já escutou o barulho do vento na copa de uma árvore? É encantador. Mas assusta também. Principalmente onde a galhada oferecer risco para transeuntes, imóveis ou algum carro que esteja perto dela.

É bastante comum que ao acontecer algum evento que tire a população da rotina, e esse fato seja negativo, haja a procura de um culpado. Como quando parte da cidade fica sem luz! E a natureza, invariavelmente paga o pato. Porém, o que tem sido feito para prevenir tais situações? O mesmo que o peixe faz: nada.

O modo como as cidades tratam as árvores, tão importantes para minimizar os problemas urbanos, é assustador. Primeiramente, parece haver uma cruzada em torno da substituição de árvores frondosas, por arbustos. É uma espécie de desencargo de consciência. Corta-se uma árvore enorme, para plantar um metro e meio de verde.

Há ainda o problema de transformar as calçadas em extensão do asfalto, com o terreno completamente compactado e o cimento estendendo-se até o caule. Então, vem a justificativa de que a árvore está estourando a calçada e deve ser retirada.

Critério importante, que não é levado em consideração é definir a espécie conforme a existência ou não de fios de energia. Isso gera uma disputa entre a galhada que quer se desenvolver e o funcionário terceirizado escalado para liberar a fiação, com motosserras que avançam sem dó rumo ao verde.

Recentemente, em Cianorte, Paraná, uma empresa terceirizada que atuava em Foz do Iguaçu foi até a cidade fazer a lição de casa que o município não deu conta. A equipe mapeou os principais gargalos e simplesmente passou o rodo, ou melhor, a motosserra com o único objetivo: liberar a fiação da rede elétrica.

Quando um dos prestadores de serviço foi questionado, ele respondeu que só cumpria ordens, mas que entendia a preocupação dos moradores, pois se fizessem o que eles fazem na árvore de frente da casa dele, ele ficaria revoltado. Explicou que foram escalados para fazer em poucos meses, o que não foi feito em anos, no intuito de liberar a fiação.

O resultado? É o que imaginamos e vimos. A copa da árvore, uniforme e contínua, é devastada. Abre-se um túnel para liberar a rede elétrica, e a árvore perde a estabilidade. Normalmente é transformada no formato de um V e está condenada a cair. E assim o jogo segue. Para ajudar, era período de frutificação das mangas. Um desperdício completo com o chão forrado de mangas. Passados alguns dias, havia morador recolhendo manga madura caída, que não foram preservadas nos pés.

A impressão é que os gestores, aqueles que decidem pela arborização das cidades, desconhecem a importância das frutíferas urbanas para a vida das pessoas e dos animais; não se importam com o período de frutificação e floração das árvores e muito menos com a reprodução das aves. Para completar, no método da poda sequencial, não se permite que a equipe saia um quarteirão da rota. Em muitos casos um morador da esquina pede uma poda preventiva, e a informação é de que aquela área não está contemplada. Ainda há um descaso extremo em não perceber os locais onde deveriam plantar ou replantar árvores.

Outro agravante, para compor esse caldo de displicência, é que as mudinhas plantadas, que irão substituir aquelas adultas, que levaram anos para atingir uma copa frondosa, não têm garantia suficiente de que sobreviverão. Não é perceptível o replantio, a transposição, de árvores frondosas pela administração pública, somente em projetos paisagísticos particulares. Parece que desconhecem essa técnica, ou é que realmente não se importam.

“Ah, mas você só sabe reclamar, colocar gosto ruim. Tantas cidades que são muito piores que as nossas”, diriam. Temos que nos comparar com o que há de melhor. E o melhor é uma cidade arborizada, bem cuidada, em que o verde seja nosso aliado o tempo todo, para que não seja tratado como vilão nas tempestades.

Ah, e isso que nem falei da fiação, que se houver investimento, pode ser sim subterrânea. Mas isso é assunto para outra conversa. Um assunto para quem sabe da importância de prever cenários, algo bastante distante, com exceções, da ótica de nossos gestores públicos. Quem gosta cuida, e não é isso que observa-se com nosso verde urbano.

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