O isolamento domiciliar e as condições dos lares iguaçuenses

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A pandemia não criou o caos, ela apenas revelou o caos que sempre vivemos e ninguém quer ver.

A pandemia do coronavírus conseguiu trazer realidades que sempre existiram, porém pouco percebidas pelo poder público e por parte da sociedade iguaçuense.

Os famosos invisíveis, que nunca foram invisíveis, até mesmo porque eles sempre transitaram entre nós no dia a dia, quer nos semáforos como vendedores ambulantes em busca do sustento, ou nas calçadas por não terem aonde ir, nos ônibus lotados ou até mesmo nas filas em busca dos direitos constitucionais. A questão é que investir na melhoria da qualidade de vida do pobre, para o poder público, é desgastante. Escondê-lo e afastá-lo do centro, como pessoas contagiosas, sempre foi a maior estratégia política dos governantes, assim o problema é deixado de lado e fica longe dos olhos dos milhares de turistas.

A condição dos domicílios em Foz do Iguaçu

Boa parte dos domicílios em Foz do Iguaçu não tem espaço para o isolamento domiciliar. Manter um familiar infectado pela covid-19 em casa é uma das grandes dificuldades que os iguaçuenses têm vivido neste período da pandemia. O número de infectados de acordo ao boletim da Secretaria da Saúde de Foz do Iguaçu, a cidade tem hoje 3.430 pessoas em isolamento domiciliar.

Esse número é preocupante principalmente pelas características dos domicílios iguaçuenses, afinal manter uma pessoa em isolamento social quando boa parte dos lares tem apenas um ou dois cômodos é muito difícil.

Segundo o IBGE, Foz do Iguaçu possui um total de 188 domicílios com apenas um cômodo, 2.154 com dois cômodos, 6.688 com três cômodos, 10.575 com quatro cômodos, e 19.838 com cinco cômodos. Tentando entender esses números, 17.585 domicílios não teriam condições de manter um familiar em isolamento domiciliar, pois o risco de contágio aos outros familiares é enorme.

Existe um ouro agravante em tudo isso, que seria o número de dormitórios dentro de cada domicílio. Os dados do IBGE mostram que 20.458 domicílios têm apenas um dormitório; 33.830, dois dormitórios; 21.543 domicílios, três dormitórios; e 3.330 domicílios com quatro dormitórios ou mais. Em outras palavras, na cidade que tem um total de 87.541 domicílios, com 78.578 ocupados, apenas 3.330 teriam condições mínimas de manter alguém em isolamento domiciliar. E se levarmos em consideração o número de habitantes por domicílio, a preocupação aumenta muito. O número de habitantes por domicílio é de duas a seis pessoas. Na sua maioria, três ou quatro por domicílio, segundo dados do Ipardes.

Talvez o poder público e a sociedade não tenham ideia do transtorno causado quando é preciso manter um familiar em isolamento social, pois a mudança é total e completa, desde o cuidado com a pessoa infectada até o cuidado de não se infectar. Sem espaço, parentes não têm como impedir que o vírus se alastre dentro de casa. Muitos familiares precisam ir para a casa de outros parentes por falta de espaço dentro de sua própria casa, e muitas pessoas não aceitam familiares em suas casas por estarem vindo de um lar com alguém infectado e em isolamento domiciliar. E tem aqueles que aceitam por ser solidários, mas com medo de que sua família também se infecte, até mesmo porque a capacidade de transmissão é ainda maior em ambientes fechados.

No começo da pandemia, o poder público municipal criou o projeto do uso de alguns quartos de hotéis que estavam vazios. Era uma ótima ideia, porém a dúvida que pairou na sociedade era se a ação do poder público era para ajudar economicamente os hotéis que estavam sem hóspedes ou realmente com o ideal de contribuir com os que tinham necessidade de isolamento domiciliar.

A situação da população neste período pandêmico é agravada porque nunca houve uma proposta de planejamento urbano, além do fato de a prefeitura não construir casas populares. Nesse mesmo sentido, não há políticas públicas municipais que efetivamente melhorem as condições de vida dos que mais precisam. E são esses iguaçuenses os que têm a situação agravada pela desigualdade social, a baixa renda dos trabalhadores e a carência de moradia, nunca resolvida de verdade em Foz do Iguaçu.

A pandemia não criou o caos, ela apenas o revelou.

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