Varíola e outros vírus: a natureza paga o pato

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Nem saímos oficialmente da pandemia do Covid 19 e já embarcamos em outro surto de doença, a chamada ‘varíola dos macacos’. E mais uma vez, a conta vai para a natureza.

Participei uma vez de um congresso de jornalismo científico e a grande reclamação era de que os jornalistas querem traduzir em cinco linhas o que cientistas levam cinco anos de pesquisa. E então, saem coisas sensacionalistas na mídia.

Mas agora com as redes sociais e essa doença das notícias falsas, a classe científica precisa ter mais cuidado ainda, quando tratar de nomenclaturas de doenças. Uma vez dito, aquele termo inicial terá o efeito de uma pandemia… É essencial repensar quais as palavras, expressões e termos sairão dos laboratórios para o resto do mundo. Uma vez propagados, não tem volta.

Macacos já são vitimas da desinformação
Contato direto de humanos doentes com outros humanos é o problema maior na transmissão da chamada varíola dos macacos. Mas muitos animais já estão sendo vítimas da ignorância humana Arte: Gabriella B.F Soraggi

Me lembro muito bem quando há alguns anos começamos a nos preocuparmos com o mosquito da dengue. E para quem sobrou? Para as bromélias ! Sim, as pessoas começaram a se desfazer dessa planta, os produtores tiveram baixas nas vendas e teve uma cruzada contra essa flor espetacular.

Depois de o estrago feito, inclusive por propaganda oficial do governo, as entidades científicas tiveram o trabalho de desdizer o que havia sido dito antes. A água acumulada nas bromélias não é ambiente ideal para a larva do mosquito da dengue crescer. Até porque, em seu ambiente natural, ali há toda uma cadeia alimentar em que essa larva seria a refeição de outras espécies. E mesmo no ambiente alterado pelo homem, entre uma bromélia e o lixo, o último é mais atrativo.

O vírus monkeypox foi descoberto pela primeira vez em 1958, quando dois surtos de uma doença semelhante à varíola ocorreram em macacos transportados da África para a Dinamarca para serem usados em estudos.

O primeiro caso humano de varíola dos macacos foi registrado em 1970, na República Democrática do Congo. Desde então, tem sido relatada em pessoas de vários outros países da África Central e Ocidental. O número de casos vem aumentando exponencialmente nos últimos 20 anos, e já excedeu o número de casos acumulados durante os primeiros 45 anos desde sua identificação. Antes do surto de 2022, quase todos os casos em pessoas fora da África estavam ligados a viagens internacionais para países onde a doença ocorre comumente, ou através de animais importados. De acordo com dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC/EUA), já foram confirmados mais de três mil casos em 41 países não endêmicos. (Escola Paulista de Medicina)

Mas é mais prático delegar a culpa a uma planta, que os humanos assumirem suas responsabilidades. E assim, um ciclo vicioso se constitui, e em busca de eliminar a leishimaniose, a dengue, febre amarela, covid ou varíola, ataca-se o cachorro, a bromélia, os macacos, o morcego, os macacos novamente, respectivamente.

O ser humano é o bicho que mais faz mal ao Planeta. O único que se sair da cadeia alimentar não fará falta. E é o único também que depreda sua casa. Com relação à ‘varíola dos macacos’, o resultado já está aparecendo, com animais morrendo, vítimas de espancamento!

Importante lembrar que essa doença foi detectada em 1970 no Congo e outros países africanos. E como ela estava restrita a um continente pobre, não foi fonte de preocupação mundial. Porém, como passou a se alastrar a outro países, a coisa mudou.

É uma zoonose (doença que se transmite entre animais e pessoas) causada por um vírus chamado Monkeypox (MPXV), mais conhecido como vírus da varíola dos macacos. Apesar do nome, esse vírus é encontrado em roedores (ratos, esquilos, etc), que podem transmitir para macacos e humanos por mordeduras e arranhões. Assim como os seres humanos, os macacos são considerados hospedeiros, mas são necessários mais estudos para identificar o(s) reservatório(s) exato (s) e como a circulação do vírus é mantida na natureza.

Quando as florestas são destruídas, os animais são transportados de uma região para outra, tratados como simples objetos, abre-se ali também, uma espécie de ‘caixa de Pandora’, pois o que era harmonia, se desfaz… Paga o pato a natureza, mas no fim das contas, os humanos também precisam dividir essa conta, com mais doenças e dor. Até quando ?

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