Diagnóstico preocupante. Professor expõe desafios do curso de Medicina da Unila

Defasagem no número de docentes e falta de perspectivas na formação são alguns dos problemas elencados pelo médico Carlos Eduardo Ficht de Oliveira; assista à entrevista.

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Defasagem no número de docentes e falta de perspectivas de progressão na formação são alguns dos problemas elencados pelo médico Carlos Eduardo Ficht de Oliveira; assista à entrevista.

Considerado estratégico e uma conquista para Foz do Iguaçu, o curso de Medicina da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) foi implantado em 2014. Desde então, houve a formação de duas turmas, com os alunos obtendo índice de 90% de aprovação em provas de residência médica, acima da média nacional e de instituições mais antigas.

A importância dessa formação ganha realce na pandemia, pela integração do curso à linha de frente de enfrentamento à covid-19, do atendimento a exames laboratoriais. Além disso, médicos formados na Unila já atendem a comunidade por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e integram projetos de pesquisa e extensão.

Dificuldades, porém, começam a prejudicar a consolidação e o desenvolvimento da formação de médicos. Nascido em Foz do Iguaçu, o professor Carlos Eduardo Ficht de Oliveira, do curso de Medicina da Unila, expõe um diagnóstico preocupante, aponta desafios e convoca a comunidade a atuar na proteção da graduação, em entrevista durante o programa Marco Zero.

Assista à entrevista:

Um dos problemas é a falta de professores. O projeto pedagógico prevê 63 docentes, mas hoje são apenas 33, praticamente a metade do quadro funcional previsto. “Nós estamos com 100% das turmas em andamento, com formação integral. Precisamos de 50% a mais de professores para fechar as turmas como foi idealizado lá atrás”, frisa o médico.

Essa defasagem impacta o volume de trabalho docente e a qualidade de ensino. “Mais profissionais diminui o número de alunos pelo qual cada um fica responsável, isso aumenta a qualidade do ensino. O que estamos vendo é uma sobrecarga de trabalho”, pontua o médico e professor Carlos Eduardo Ficht de Oliveira.

Ampliando a reflexão, ele relata que o professor médico que fosse contratado receberia o estímulo para a progressão acadêmica, por meio de mestrado e doutorado. “Não se consegue isso porque, com número reduzido de docentes, não dá para abrir mão do profissional para que ele faça a sua qualificação e retorne. Isso é um entrave importante”, reporta.

Implicações

Na entrevista ao Marco Zero, o professor explicou que chegou a ser solicitada a redução do ingresso de novos alunos até se completar o quadro de profissionais. O diagnóstico encaminhado à reitoria pedia a diminuição de 50% da oferta de vagas. “Não foi aprovado na instância superior. Continuamos com 60 ingressantes, divididos entre hispanohablantes e brasileiros”, contextualiza.

O Ministério da Educação (MEC) tem conhecimento desses entraves, pois o órgão fez a avaliação completa do curso neste ano. “Sabemos que não é uma realidade só nossa, é um fenômeno no Brasil inteiro, que afeta principalmente as instituições mais novas, criadas a partir de 2013”, avalia Carlos Eduardo.

Há outras pedras no caminho que também foram relatadas ao MEC. “Além dos recursos humanos adequados, remuneração é bastante defasada e há falta de perspectivas de progressão na carreira, o que é um ponto-chave”, frisa o professor. “Não temos condições, com o número de docentes que temos hoje, de permanecer sem o professor no tempo que ele precisa para fazer a qualificação e voltar”, enfatiza.

Cortes orçamentários

O recente bloqueio orçamentário feito pelo MEC às universidades brasileiras afeta o curso de Medicina da Unila. Para Carlos Eduardo Ficht de Oliveira, a medida prejudica a aquisição de insumos de laboratórios, que são caros. “Temos várias pesquisas em andamento e que precisam desse material. Há uma preocupação quanto a isso”, expõe.

A própria estruturação dos laboratórios pode ser prejudicada. O médico cita como exemplo a prática em cirurgia. “Eu preciso mostrar aos alunos os materiais cirúrgicos. Emprestamos do Hospital Municipal, pois pedimos para a Unila desde 2018. Depois do corte dessa verba, não sabemos se esse material virá”, desabafa.

Mobilização da sociedade

O professor afirma que há uma grande demanda para o curso de Medicina da Unila e que o projeto prevê a expansão de vagas, o que não é a realidade do momento. O médico ressalta as vantagens da formação para suprir a região com profissionais bem formados e qualificados, e tem a estagnação.

Para Carlos Eduardo Ficht de Oliveira, é preciso uma mobilização das forças políticas e sociais pelo curso de Medicina da Unila. Hoje Foz do Iguaçu tem uma instituição federal e isso precisa ser mais bem dimensionado. Se todas as esferas se unirem, nós vamos avançar. As forças políticas e sociais são fundamentais”, aponta.

“Todas as esferas devem se unir na proteção do curso de Medicina da Unila.”

“Todas as esferas devem se unir na proteção do curso. Se ficarmos só na dependência do ministério [MEC], isso não vai acontecer. Precisamos de força externa”, analisa o professor. “A reitoria é uma força que deve estar muito perto de nós, e sinto que isso acontece”, pondera o professor do curso de Medicina da Unila.

“A gente vê pessoas muito bem capacitadas saindo da Unila por falta de perspectivas. Esse é o ponto”, sublinha. “Não se consegue vislumbrar algo diferente a curto e médio prazo. Sim, se a gente não conseguir mudar isso, a chance de perder o curso é grande. É o momento de debate mais amplo para, ao invés de o curso de Medicina minguar, crescer”, conclui Carlos Eduardo Ficht de Oliveira.

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