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Por que os carros no Paraguai custam menos do que no Brasil?

Carga tributária enxuta permite que preço seja de 30% a 40% menor que deste lado da fronteira.

6 min de leitura
Por que os carros no Paraguai custam menos do que no Brasil?
Mercado no Paraguai tem mais diversidade de modelos. Foto: Marcos Labanca/H2Foz
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Todo mundo já sabe que o Paraguai é quase um oásis para empreender quando comparado com o Brasil, onde predominam a burocracia e a carga tributária. Mas não é só isso. Do outro lado da fronteira, há outras facilidades econômicas, e uma delas é comprar veículos mais baratos.

Enquanto no Brasil um carro popular zero-quilômetro é vendido por cerca de R$ 72 mil em diante, no Paraguai é possível adquirir automóveis a partir de R$ 55 mil. O país ainda apresenta uma diversidade de modelos e preços.  

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Com aproximadamente 6,1 milhões de habitantes de acordo com o Censo de 2022, o Paraguai não tem montadoras de veículos, por isso lá há um mercado aberto para importação de automóveis novos e usados. A carga tributária enxuta contribui para que esses bens tenham um preço final mais em conta que no Brasil, conforme a marca.

No território brasileiro, a carga tributária representa de 30% a 50% no valor final dos veículos. Já no país vizinho, o total é de 10%, relativo ao Imposto sobre Valor Agregado (IVA).

Para o diretor do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), o economista Wagner Enis, a diferença de preço entre os dois países se deve ao fato de o Paraguai não ter montadora e proteção à indústria.

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Outro fator favorável é a competitividade. Enis lembra que revendedores de carros zero-quilômetro precisam competir com os importados usados.

carros paraguai
No Paraguai, carros são cerca de 30% a 40% mais em conta que no Brasil. Foto: Marcos Labanca

Presidente do Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF), Luciano Barros também atribui a diferença à carga tributária. “O Brasil ainda concorre com uma carga tributária maior, faz com que um veículo, mesmo produzido em território brasileiro e exportado ao Paraguai, seja comercializado no Paraguai com 30% a 40% do valor do mesmo veículo comercializado no Brasil”, diz.

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Novos e usados

Enquanto a atual estratégia do mercado automotivo brasileiro é priorizar carros de nicho e deixar de lado os populares, cuja margem de lucro não é atraente, no Paraguai há opções para todos os perfis, desde automóveis usados baratos até Mercedes, Porches e SUVs de luxo.  

Segundo a Direção de Registros Automotores do Paraguai, o país tem uma frota de 2.952.884 veículos, entre automóveis e motocicletas novos e usados, além de maquinário. Desse total, 61,16% correspondem a carros; 36%, a motocicletas; e 2,31%, a tratores e maquinário. Os dados são de novembro de 2023.

A média de importações de veículos no Paraguai é de 80 mil unidades ao ano. Por ironia ou não, o principal exportador de automóveis novos é o Brasil. Já quando se trata de usados, a maioria é procedente do Japão, principalmente da marca Toyota.   

Diversidade

Não é só o preço que atrai compradores de automóveis no Paraguai. A diversidade de modelos, preços e tipos também. Lá, boa parte dos carros possui câmbio automático e airbag duplo. Essa variedade se deve às importações.

Presidente da Câmara de Importadores de Veículos e Maquinárias Usadas do Paraguai (Civemup), Rolando Álvarez Spinassi informa que os veículos usados são importados de vários países, incluindo Coreia, Taiwan, China e Estados Unidos. Muitos caminhões são trazidos da Alemanha.

Os automóveis chegam por três pontos: o Porto de Iquique, no Chile; o Porto de Paranaguá, no litoral no Paraná; e via Uruguai. Neste caso, o transporte até o Paraguai é feito por via fluvial até Assunção.

Antes de serem comercializados, alguns carros usados procedentes do Japão passam por adaptação para troca de volante do lado direito para o esquerdo. O procedimento é realizado no próprio Paraguai.  

As marcas mais presentes no país são: Toyota, Kia, Hyundai, Nissan, Mercedes (caminhões) e Scania (ônibus). A variedade de modelos e preços propicia aos paraguaios escolher desde carros populares aos de luxo.

Na linha Toyota, por exemplo, muitos bens não são comercializados no Brasil, a exemplo dos modelos Runx, Vitz e Sienta.

Gerente da concessionária Diesa S.A. em Santa Rita, a 70 quilômetros de Foz do Iguaçu, Derlis Collante revende a linha Volkswagen e caminhões Scania zero-quilômetro. Segundo ele, o mercado está bem aquecido quando se trata de SUVs, cujo preço varia de US$ 25 mil a US$ 120 mil.

Um caminhão da marca Volks que comporta 1.500 quilos custa em torno de US$ 25,1 mil.

Carros elétricos

Os carros elétricos já são realidade no país. Veículos de pequeno porte e ônibus circulam por lá. Alguns municípios, inclusive, têm frotas de ônibus com essa tecnologia. A prefeitura de Ciudad del Este adquiriu, no ano passado, 20 ônibus elétricos da empresa chinesa Zhongtong Bus.

Entre os modelos de automóveis elétricos estão o Quantun, com capacidade para três pessoas e que custa R$ 40 mil. A BYD também já está no mercado paraguaio com quatro modelos, incluindo elétricos e híbridos.

Outra marca presente é a JMC, que vende caminhões utilitários 100% elétricos a partir de US$ 79 mil.

Em 2023, foram patenteados no Paraguai 1.560 veículos elétricos e híbridos – 20,8% a mais que em 2022. O país dispõe de pontos de recarga em várias cidades, incluindo Ciudad del Este e Santa Rita.

Irregularidade

Como o preço do carro é atrativo, muitos brasileiros costumam burlar a legislação e adquirir o bem para circular deste lado da fronteira, prática proibida. Conforme a Receita Federal do Brasil (RFB), só pode adquirir veículo no Paraguai quem possui domicílio tributário lá.

Isso significa que, se a pessoa declara o Imposto de Renda no Brasil, o domicílio dela não é o Paraguai. Apesar da regra, muitos brasileiros ignoram a lei apropriando-se de endereços de parentes ou conhecidos para tirar carteira de habilitação no Paraguai e alegar ter o direito de circular com os carros deste lado da fronteira.  

No lado brasileiro, eventualmente são feitas blitze por fiscais da Receita Federal, órgão que pode aplicar multas e apreender os veículos em situação irregular.

Veja alguns modelos e preços de usados (valores em guarani)

Chevrolet Agile 2011 – 25 mil

Toyota Ractis 2006 – 39.500

Toyota Auris 2009 – 65 mil

Hyundai Grand i10 2019 – 55 mil

Kia New Picanto MT 2024 0km – 999 mil

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Denise Paro

Denise Paro é jornalista pela UEL e doutoranda em Integração Contemporânea na América Latina. Atua há mais de duas décadas nas Três Fronteiras e tem experiência em reportagens especias. E-mail: deniseparo@h2foz.com.br

5 comentários em “Por que os carros no Paraguai custam menos do que no Brasil?”

  1. Cassel

    Deveria custar bem mais barato pela diferença dos impostos tanto citados.
    Digo o mesmo dos produtos nos mercados, Ciudad del Este é uma cidade muito cara para produtos naturais como frutas, verduras e legumes.

  2. Guilherme Wojciechowski

    Aqui tem um detalhe interessante: a produção paraguaia de hortifruti costuma ser insuficiente para abastecer o mercado interno. Um dos casos mais emblemáticos é o do tomate, que tem preço pouco competitivo e sofre com o contrabando de tomates brasileiros e argentinos.

  3. Mauro

    O Paraguai abriu mão de ter indústria, é um simples importador de bens móveis e de alimentos. Triste situação, povo ou trabalha no comércio, governo ou rural.

  4. Paraguaio Griladão!!

    Resumindo o Problema do Paraguai é fazer fronteira com o Brasil ! Py já é o maior exportador de cânhamo do mundo para a china! Chupa Brasil! Brilha meu Paraguay!!! Será o japão da América do sul!!!!

  5. Anne

    A jornalista só esqueceu de um detalhe: com o dólar passando de R$ 5,00 o valor dos carros são praticamente o mesmo, considerando mesma marca e ano. O imposto é sim mais barato, mas observem a precariedade dos serviços públicos lá!!!! Foi o tempo que compensava comprar carro no Paraguay . Agora, modelo chinês barato tem um monte, se vcs conhecerem a porcaria vcs não compram! Claro, tem modelo chinês com melhor qualidade mas caros, inclusive os elétricos! Carro barato só na cabeça de brasileiro que não conhece o Paraguay!

Os comentários estão encerrado.