Monjolo: nascentes, parque e cachoeira do rio urbano em Foz do Iguaçu

No Dia Mundial da Água, o H2FOZ percorre o parque ambiental que leva o nome do rio e a sua foz, no Paranazão. Assista ao vídeo.

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Cada pessoa gerou, em média, 64 quilos de resíduos plásticos nas cidades do país, ano passado, totalizando 13,7 milhões de toneladas, mostra pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O material está entre os piores inimigos dos recursos hídricos.

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Assista ao vídeo:

Em nível local, parte desse lixo polui mananciais, seguindo para os mares e transformando-se em um problema global. O Rio Monjolo, afluente do Paranazão, não escapa à realidade. No Dia Mundial da Água, em 22 de março, o H2FOZ percorre o parque que leva o nome do arroio e a sua foz, após cortar o centro de Foz do Iguaçu.

O Monjolo nasce na região do Jardim Central, entre a Mesquita Omar Ibn Al-Khattab e a Avenida JK, em uma área irrigada de corpos d’água, que foram e seguem sendo severamente afetados pelo avanço da ocupação urbana. Ainda hoje, terrenos que o circunvizinham possuem lagoas, nascentes e espelhos que precisam de manejo e conservação.

Em área acessível e perto do centro, o Parque Monjolo – foto: Marcos Labanca

O Parque Monjolo contempla um lago, formado nos anos 1990 para auxiliar na proteção do ambiente. A partir daí, o riacho segue à área verde pertencente ao 34.º Batalhão do Exército, em que tem contato com a luz do sol. É canalizado na Avenida República Argentina, cortando todo o centro até a terceira pista da Avenida JK, quando retorna à superfície.

O Monjolo tem cerca de 3,6 quilômetros de extensão. Da JK, percorre 450 metros até desaguar no Rio Paraná, o principal formador da Bacia do Prata, que banha cinco países sul-americanos. A conexão com o Paranazão ocorre por meio de uma cachoeira, cuja beleza nem mesmo a poluição da água consegue ofuscar.

O nascer do rio

O Monjolo é eivado de corpos d’água que vêm sucumbindo à ação humana, com muitas das suas exsurgências já soterradas ou fragilizadas. No entorno, a impermeabilização do solo é outro problema, agravado por ser uma área baixa, que recebe água da chuva que desce da parte mais alta do bairro, além de efluentes.

Água e lixo brotam no Parque Monjolo – foto: Marcos Labanca

Para reduzir o problema, a prefeitura concluiu em 2020 a construção de galerias pluviais, ao custo de R$ 1,2 milhão, que moradores dizem não ter solucionado completamente a situação. A gestão implantou uma unidade de contenção de resíduos, a fim de auxiliar na redução de alagamentos e na sobrecarga do rio. O bairro é atendido, em sua totalidade, pela rede de coleta e tratamento de esgoto e pela coleta de resíduos, conforme o município.

Estação de contenção de materiais instalada pela prefeitura – foto: Marcos Labanca

Vizinho do Parque Remador, um morador – que pede para não ser identificado na matéria – diz que a região era toda formada de mananciais há pelo menos 30 anos. “Dava para andar de canoa na parte em que hoje fica uma escola, que na época era um lugar de criações”, rememora, acompanhado da esposa.

Segundo ele, o poder público não foi efetivo na proteção. “Há casas aqui por perto [próximas ao parque] com fonte de água potável dentro dos terrenos”, afirma. “Acabaram com a água. Mas ainda há áreas com nascentes e lagoas que precisam ser fiscalizadas para não desaparecerem”, pontua.

Pesque e não pague

O vendedor Augusto Quiroga sai com frequência do Porto Belo, na Região Norte, para desfrutar o Parque Remador. Ele pesca para passar o tempo e interagir com a natureza. Tilapiazinhas e lambaris são alguns dos peixes que Augusto fisga e solta novamente no lago. O lugar o fascina, por isso ele também cobra manutenção.

“Venho pescar, tirar hora e distrair a mente. É um diferencial ter um parque no meio da cidade, sem pagar e que dá para pescar, com vertente de água. Quando o Sol bate à tarde, fica lindo”, frisa. “Mas falta cuidado e limpeza. Tem muito lixo. Dá vergonha trazer um turista aqui”, declara Augusto, que atua com venda de produtos a visitantes de Foz do Iguaçu.

Alta quantidade de lixo espalhado no parque e postes lançados no lago – foto: Marcos Labanca

A reportagem percorreu toda a dimensão do parque, encontrando muito lixo jogado no gramado e na água, principalmente garrafas PET, papelão e embalagem de marmitex. A vegetação aquática avança, advertência de poluição. Há falta de roçada e os postes de luminárias foram vandalizados e enterrados no lago (veja abaixo o que diz a prefeitura).

O pedaço de natureza é a morada de garças-brancas, frangos-d´água, bem-te-vis, joões-de-barro e martins-pescadores, entre outros, além de um jacaré-do-papo-amarelo. O vereador Kalito Stoeckl (PSD) pediu à prefeitura, recentemente, o “manejo do jacaré”, solicitando a transferência do animal para um local mais adequado, em seu entender.

O lago do Parque Monjolo em janeiro de 2020:

O lago do Parque Monjolo em março de 2023:


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Foz e cachoeira, Monjolo e Paranazão

Antes de concluir seu trajeto derradeiro, de aproximadamente meio quilômetro e novamente ao ar livre, da Avenida JK ao Rio Paraná, o Monjolo se esforça em seu curso contra o lixo e o despejo irregular de esgoto e de outros poluentes. Na maior parte do percurso, o rio se resume a uma tênue lâmina de água.

Antes de desaguar no Rio Paraná, pouca água no leito do Monjolo – foto: Marcos Labanca

Em boa parte desse trecho, o leito tem cerca de dez metros de largura, sobre um piso rochoso. Porém, sua água ocupa de 1,5 metro a 3 metros, raramente ganhando toda a dimensão da área. Pelo caminho, o H2FOZ encontrou muitas garrafas plásticas jogadas, roupas, papelão, forro de PVC e até um vaso sanitário.

Muito lixo e pouca água no trecho derradeiro do afluente do Rio Paraná – foto: Marcos Labanca

Mais ou menos no meio do caminho, o Rio Monjolo passa por trás da residência de Harry Shinke, pioneiro de Foz do Iguaçu, profilático e considerado o primeiro a registrar a cidade em fotos. Na moradia, abandonada e à espera de tombamento pelo poder público, morreu o renomado cientista suíço Moisés Bertoni, que morava na fronteira, no Paraguai.

Perto do Rio Monjolo, a casa do pioneiro Harry Shinke, patrimônio que espera a proteção pelo poder público – foto: Marcos Labanca

Finalmente Monjolo e Paranazão se entrelaçam para seguir por horizontes distantes. Como despedida, o rio urbano iguaçuense se exibe em uma cachoeira. Após tantos ataques, a água tem mau cheiro e tinge o Paraná, indicando poluição. Do topo da queda-d’água é possível contemplar lindamente o Rio Paraná e o Paraguai.

Rio Monjolo encontra o Paranazão com uma cachoeira – foto: Marcos Labanca

O que diz a prefeitura

Em relação ao Parque Remador, a prefeitura afirma que a limpeza é realizada todas as quintas-feiras pela concessionária de serviços urbanos. Já a roçada é feita a cada 45 dias. Quanto aos postes de iluminação, compromete-se a fazer a retirada nesta semana.

Sobre a preservação dos recursos hídricos, a gestão municipal informa que “adota a política de preservação dos fundos de vale de áreas de preservação ambiental, com delimitação de 30 metros de faixa de preservação exigida pelo Código Florestal”. E pede a colaboração da população.

Tubulação junto ao logo do Monjolo – foto: Marcos Labanca

“A Prefeitura de Foz do Iguaçu pede a conscientização da população para a manutenção dos espaços públicos, como o Parque Remador, em boas condições, para que todos possam usufruir da área”, enfatiza. A administração reforça que o cidadão deve fazer o descarte correto dos resíduos e denunciar vandalismo.

Projetos no papel

No começo de 2021, a prefeitura anunciou o que seria o “maior plano ambiental da história” de Foz do Iguaçu, com a criação de parques lineares e revitalização de rios, cursos d’água e matas. Parte dos recursos de parcerias seria usada para implantar o Parque do Monjolo, na terceira pista da Avenida JK, para a requalificação do espaço e a vivência da comunidade.

Vegetação avança sobre o lago no Parque Monjolo – foto: Marcos Labanca

Antes, em 2018, o prefeito Chico Brasileiro reuniu a imprensa no Parque Monjolo para anunciar o Programa Reinventando Foz, destinado à criação de corredores da biodiversidade, renaturalização da mata ciliar e construção de ciclovias, pistas de caminhada, parques e jardins na extensão dos rios. A revitalização do Rio Monjolo estava incluída na ação.

Dia da Água

A Organização das Nações Unidas (ONU) faz alerta para o mundo sobre o risco de escassez de água. Hoje, de 2 bilhões a 3 bilhões de pessoas já sofrem com a falta do recurso hídrico em pelo menos um mês do ano, diz a instituição. Essa carência é motivadora de guerras e conflitos, conforme a organização.

No Brasil, a Fundação SOS Mata Atlântica afirma que apenas 7% dos rios da Mata Atlântica monitorados pela ONG possuem água de boa qualidade. O bioma concentra 70% da população brasileira. Quase 20% dos pontos analisados não têm condições mínimas para os usos múltiplos da água, da agricultura ao consumo humano.

A cachoeira do Rio Monjolo emoldurada pelo centro de Foz do Iguaçu – foto: Marcos Labanca
Vaso sanitário entre os poluentes do Rio Monjolo – foto: Marcos Labanca
A situação do rio à altura de uma estação de tratamento da Sanepar – foto: Marcos Labanca
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