Bebê reborn x celular. Qual a diferença?

Bonecos de borracha assim como redes sociais competem com a vida real.

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

De umas semanas para cá, uma onda de pessoas sensatas voltou seus olhares para as pessoas que resolveram ter um bebê reborn para chamar de seu. Para quem não sabe, são aquelas bonecas e bonecos hiper-realistas que se assemelham a um bebê.

Mas qual é a diferença das pessoas consideradas “anormais”, que resolvem ter uma rotina com seres inanimados, para essa outra leva de zumbis que grudam no telefone e não desviam o olhar?

Qual é a diferença de quem resolveu trocar fralda de bebê inanimado e de quem muda a face para ficar semelhante a seu ídolo? E qual é mesmo a diferença entre quem coleciona bonecos daqueles e de outras coleções e aqueles fanáticos por carro, que surtam no trânsito por conta de um arranhão?

Mas vamos voltar ao título, aos dois objetos em questão. O celular, está ainda mais presente na vida das pessoas, na verdade as redes sociais, ou antissociais e os que ganham dinheiro em virtude do clique generalizado, dos jogos de azar, entre outros, agora julgam e condenam os “reborneiros”.

Claro que tudo não passa de comércio. Agora são os bebês de borracha, talvez no futuro possa ser qualquer outra coisa que prenda a atenção, seja caro ao ponto de transformar-se em objeto de desejo e status.

O fato é que são os sujos, que não desgrudam do celular, falando dos mal-lavados, que até trocam fraldas de seus bebês imaginários.

Se tudo continuar como está, em algum futuro não muito distante nossas digitais serão deformadas e teremos nosso pescoço naturalmente curvo para baixo. Nossa genética se adaptará para olhar mais para o chão que às estrelas.

Se o problema do uso excessivo de celular em sala de aula está sendo minimizado entre os estudantes até o ensino médio, no mundo universitário, no qual se espera um senso crítico e um autocontrole, sem que o professor peça para guardar o objeto luminoso, a coisa anda de mal a pior.

Entre um celular e um boneco de borracha na sala de aula, eu ficaria com o primeiro. Ao menos o foco seria um só. Diferentemente da luz do celular, que tem se assemelhado muito à luz que atrai e mata as mariposas.

Na atual circunstância, em que nesta semana presenciamos uma influenciadora depor na CPI das Bets e ser tietada por aqueles que deveriam questionar a indecência dos jogos de azar, bebê reborn no olho de tanta alienação é refresco!

Assisti a diversas falas de psicólogos, psiquiatras, entre outros, alertando para a falta de afeto, a necessidade do controle, e mesmo previsibilidade, e como o apego a uma boneca emborrachada reflete uma sociedade doente.

Mas se esse fosse nosso único problema… Nossa sociedade doentia, consumista, que impõe padrões de beleza e de comportamento nas redes sociais, em que as pessoas precisam mudar o cabelo, a face, em que todos querem viver, porém sem envelhecer. A vida em busca do momento instagramável, que faz com que determinadas regiões expulsem as romarias digitais, que querem a selfie perfeita e tiram o sossego dos moradores… É tanto problema que nem cabe em um texto só.

Cuidar de um bebê de borracha é fichinha, perto da destruição do planeta e dos estudantes que se encantam mais com o celular que com a formação. Ou dos pais que dão celulares para as crianças, para que possam ter tempo para o universo do Instagram, TikTok…

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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