Foz do Iguaçu e a sanha de destruição de suas áreas verdes (II)

A parábola sobre a Verdade e a Mentira.

Por Amâncio Ivan de Camargo Melo – OPINIÃO

Quem tem acompanhado a diuturna luta dos moradores do Jardim Social, no Bairro Yolanda, para evitar a destruição da linda e imponente Praça das Aroeiras, situada em uma área de 4.698m2, doada ao município na década de 1970 com a finalidade exclusiva de ser uma praça, deve estar se perguntando o porquê de versões tão distintas feitas pelas partes envolvidas.

A resposta é de facílima compreensão.  Temos de um lado, os moradores demonstrando o seu direito líquido, certo e inequívoco à praça, inclusive com comprovação documental, em contrapartida às narrativas absolutamente distorcidas e eivadas de contradições lançadas pelo senhor prefeito municipal quando comparece aos meios de comunicação para defender mais uma das tantas devastações de áreas verdes de Foz do Iguaçu.

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Isso nos traz imediatamente à mente a conhecida parábola sobre a Verdade e a Mentira que, em apertada síntese, conta a história de que a Mentira, ao se encontrar com a Verdade em uma tarde de extremo calor, incentivou-a a tomarem banho em um poço de águas límpidas e refrescantes para aplacarem o calor. Como realmente estava muito quente, a Verdade resolveu não desconfiar da Mentira e, ato contínuo, ambas despiram-se e mergulharam suavemente no poço. Valendo-se de um momento de descuido da sua companheira de banho, sorrateiramente a Mentira furtou e vestiu-se com as roupas da Verdade e saiu pelas ruas da cidade a espalhar  falsidades como verdades definitivas.  E assim, todos passaram a dar crédito a tudo quanto a Mentira dizia.

Quando se deu conta do que ocorrera, por óbvio que a Verdade não quis se utilizar das vestes da Mentira.  Preferiu, então, sair nua pelas ruas, incorrrendo em grande descrédito pelo que dizia, pois que é sabido que a maioria das pessoas prefere a mentira do que dar de frente com a verdade nua e crua.

E assim tem agido o prefeito de Foz do Iguaçu.  Veste-se com a as roupas da verdade para espalhar a mentira, em tentativa de dar ares de veracidade ao seu discurso justificativo das incompreensíveis atitudes que tem tomado no aniquilamento do meio ambiente.  Quer simplesmente passar a motoserra em uma praça com meio século de existência e plena de vida em flora e fauna.   Tudo para construir uma escola em seu lugar, quando já está comprovada à exaustão a existência de várias outras áreas disponíveis, sem árvores, dentro dos requisitos necessários à edificação do estabelecimento de ensino.  Imaginem todos, o tempo que precisa uma árvore para atingir o porte das que hoje dão vida e belezaà Praça das Aroeiras? 

Prova de que mente pode ser constatada em entrevistas que deu nas últimas semanas, destacando-se as que concedeu à rádio Cultura de Foz do Iguaçu em que, de modo dissimulado, dentre tantas falácias disse:  que a escola ocupará tão somente 1.730m2 de uma área de 4.698m2, o que é totalmente falso, já que basta examinar o projeto para ver-se que, por ser uma obra espalhada, toda a área da praça será ocupada na sua totalidade. Não inclui nos seus dissimulados argumentos, por exemplo, todas as áreas internas de circulação e uma extensa área de estacionamento.   

Diz ainda, que à população restará parte da área, de que poderá fazer uso compartilhado.  Qual espaço, se a área será totalmente ocupada?   Ainda assim, admitindo-se que algum espaço restasse – o que não ocorrerá e se  aduz apenas ao sabor do argumento -, pergunta-se:  como poderia ser compartilhada se o projeto aprovado mostra a totalidade da área murada?  Cada morador teria as chaves dos portões?  Ou o prefeito estaria se referindo às calçadas externas?

Francamente, é inacreditável o comportamento do chefe do executivo iguaçuense.  Inobstante, diante de tantas outras áreas já indicadas pelos moradores, inclusive com suas plantas, descrições e fotografias publicadas na imprensa e comprovadas com as matrículas correspondentes, a alegação é simplesmente de que tais áreas não servem.  Nada serve, diga-se de passagem, a não ser a Praça das Aroeiras, que virou fetiche do prefeito.

E mais ainda:  leva à comunidade em geral, em especial à escolar interessada, um sem-número de outras versões e inverdades de toda espécie, fazendo com que pais, professores e alunos,   ingenuamente e/ou de boa-fé acreditem e  as fiquem repetindo às mãos cheias nos seus órgãos informativos e grupos de mídias sociais interessados na construção da escola na praça das Aroeiras.

Para a comunidade escolar, ao que se deduz de seus noticiários, o início da derrubada já tem data e hora certas para começar.  Mesmo que todos saibam, que além de sub-judice, a área está hoje em processo de pedido de tombamento, não podendo sofrer qualquer intervenção até o término dos trâmites legais de ingresso, para posterior decisão pelos seríssimos e competentes membros do conselho decisório.   

Por outro lado, é bom que mais uma vez se deixe claro que não há sequer um morador do bairro ou frequentador da praça, que não seja a favor da construção de uma escola.  Como já se disse, todos são a favor de uma escola, mas não no lugar de uma praça! As duas são essenciais e se completam.

Só para não deixar passar batido, é de ser lembrado, ainda, que o ilustre juiz de primeiro grau que examinou a causa, não liberou a construção da escola, como alardeiam os órgãos da municipalidade.  Apenas deliberou de passar a decisão para a 2a. Instância (TJPR), sob o argumento, em outras palavras, de que tal tema nem deveria estar submetido à justiça, por ser assunto para ser resolvido entre a prefeitura e toda a comunidade.

E cá entre nós:  Destruir uma praça, consolidada há cerca de 50 anos, repita-se, simplesmente para construir um outro estabelecimento público em seu lugar?  É inacreditável!  O que há com o prefeito, que se arvora contra tudo e contra todos, com tanta obstinação, para querer acabar com a Praça das Aroeiras?  Está na hora dele devolver as roupas da Verdade, já que não as está honrando dignamente.  Fica à reflexão dos leitores.   Mas que tem gato na tuba, aí tem!

Amâncio Ivan de Camargo Melo é advogado, defensor do meio ambiente, morador do Jardim Social.

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