ONU: O fracasso de um objetivo?

Waldson de Almeida Dias, servidor público municipal, fala sobre o fracasso da ONU.

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 Waldson de Almeida Dias – OPINIÃO

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VÁCUO: O QUE É VAZIO! O adjetivo utilizado pelo Ex-Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, retrata muito bem o atual estado de existência das Nações Unidas, ou seja, a Onu, não passa de uma estrutura de prédios e salas gigantescas totalmente vazias de importância perante o mundo e distante do objetivo para que foi criada.

Vácuo, na acepção correta da palavra, significa desprovida de conteúdo, espaço sem matéria, vazio total. Uma região cujo ar é extremamente rarefeito e de pressão quase inexistente. Temos um paradoxo no tocante a pressão, pois em se tratando de Onu, a pressão dos países que realmente a dominam foi tanta que ela atingiu seu ponto mínimo, deveria ter expandido, crescido, pelo contrário, se contraiu dentro de sua mesmice e está fadada ao fracasso diante do genocídio em rede nacional e internacional que ocorre em pleno o século XXI com o povo Palestino.

Ao final da segunda guerra mundial, conflito militar que foi considerado o mais mortal da história da humanidade, onde se estima a morte de aproximadamente 85 milhões de pessoas, perfazendo mais ou menos 3% da população humana à época, entre 1939 e 1945. Os países, as nações com um pensamento na paz e desejando evitar que não mais acontecesse conflitos e guerras no mundo, resolveram criar um órgão intergovernamental cuja finalidade seria promover a cooperação internacional e relações amistosas entre os países.

No dia 24 de outubro de 1945, sobre os escombros de muitos países, milhões de cadáveres e as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki devastadas por uma bomba atômica, foi criada na cidade estadunidense de São Francisco a Organização das Nações Unidas – ONU. Inicialmente a composição era de cinquenta e um países e não contemplava a presença dos países que faziam parte do chamado “Eixo” na segunda guerra, Alemanha, Itália e Japão.

No ato de criação das Nações Unidas, os países membros assinaram uma carta de intenções que no seu preâmbulo dizia: “Nós, os povos das Nações Unidas, decidimos: a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes, no espaço de uma vida humana, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade; a reafirmar a nossa fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana, na igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, grandes e pequenas.”

Em seu primeiro e importante objetivo na carta está escrito: “Manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim tomar medidas coletivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os atos e agressão, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que possam levar a uma perturbação da paz”.

Maravilhosamente redigido o documento, aprendi desde criança que o papel aceita tudo, realmente fazer valer o que está escrito é que são elas, nesse caso é o que são eles, pois em sua história a ONU nunca teve em seu cargo maior, uma mulher como Secretária- Geral das Nações Unidas, cargo que sempre foi ocupado por homens e a que o Presidente Estadunidense Franklin D. Roosevelt, um dos criadores das Nações Unidas, se referia como o “moderador do Mundo”. O mundo de hoje está precisando mais do que nunca não somente de moderadores, mas de líderes que realmente possam honrar os princípios escritos na carta de criação das Nações Unidas.

Em minha “nada modesta” opinião, o primeiro grande erro da ONU é ter sua sede principal dentro da grande maçã (Big Apple), assim chamada a cidade de Nova Iorque, consequentemente dentro dos Estados Unidos da América do Norte, a maior economia do mundo e uma das maiores potências política e militar do planeta. 

Sede da ONU. Foto: Waldson de Almeida Dias

Sem falar que os Estados Unidos é um dos países que possuí poder de veto dentro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ou seja, uma mini Onu dentre da Onu.

Segundo, novamente a minha “nada modesta” opinião. O Conselho de Segurança das Nações Unidas é um organismo “dedicado a mediar e resolver Conflitos Internacionais”, o Conselho de Segurança, que teve sua primeira reunião em 17 de janeiro de 1946, na Church House, em Westminster, na cidade de Londres, possui nos dias de hoje 15 países membros, sendo que cinco destes países, a saber: Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia e China, são países que possuem poder de veto, uma vez que eles são os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança.

Mas aí está, novamente em “minha nada modesta” opinião, que a votação não é democrática, ou seja, ela tem que ser de consenso, pois se um dos cinco países membros permanente vetar a decisão dos demais, a decisão não acontece. No Conselho de Segurança da Onu a maioria não vence. Quem manda mais chora menos!

Não vou me deter em analisar todo o papel da ONU, não seria um crônica e sim um livro, mas as missões de paz que as Nações Unidas tiveram a frente geralmente foram rechaçadas pelos próprios países. Vejamos a “Minustah”, força da ONU de estabilização no Haiti, segundo o Doutor em Relações Internacionais pelo Instituto de Altos Estudos Internacionais da Universidade de Genebra, Ricardo Seitenfus, “A Principal marca da Missão das Nações Unidas para estabilização no Haiti (Minustah), comandada pelas tropas do Brasil durante treze anos (2004 -2017), são milhares de vítimas de uma epidemia de cólera, a miséria e a instabilidade política no Haiti”.

Coloquei a missão ao Haiti devido ao fato de não conhecermos os irmãos haitianos que migraram para o Brasil e o quanto somos responsáveis pelo que acontece a esse país tão próximo e agora sempre presente. E as missões da ONU não foram somente no Haiti, estiveram em Ruanda, Afeganistão, Congo, Egito, Libano, Somália, Timor Leste e muitas outras.

A existência da Organização das Nações Unidas – ONU, nesse momento, ano de 2023 tem ou deveria ter um papel fundamental no sentido de parar o genocídio que acontece com o povo Palestino na faixa de Gaza. Crianças estão sendo mortas em números altíssimos com os bombardeios perpetrados pelo exército de Israel.

Hospitais são bombardeados com a alegação de que existem tuneis no subsolo que abrigam os inimigos de Israel. No sábado, dia 4 de novembro de 2023 a escola Al-Fakhoura na cidade de Jabalia, na Faixa de Gaza, foi bombardeada, uma escola que pertencia as Nações Unidas – ONU, a mesma que instituição que foi criada com um preâmbulo que afirmava “Nós, os povos das Nações Unidas, decidimos, preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra”. Pois até o momento na faixa de gaza, onde a maioria da população é de jovens, sendo que o número de crianças mortas já ultrapassa o número de cinco mil crianças o preâmbulo da ONU não serviu de proteção. E a cada criança morta devemos cobrar das Nações Unidas a preservação que está fazendo das gerações vindouras.

O Ex-Secretário Geral das Nações Unidas, Kofi Annan, em seu livro “Intervenções – Uma vida de Guerra e Paz”, lançado em 2012, em sua página 83, em se tratando do que acontecia em Ruanda escreve: “No entanto, um relatório da CIA datado de 23 de abril de 1994, dois dias depois de o Conselho de Segurança determinar a retirada, comprova que pelo menos naquela data o conflito era considerado “genocídio” e que os funcionários do governo americano o chamavam por esse nome. O conselho de Segurança deu as costas a Ruanda.” Na página seguinte, página 84, Kofi Annan, escreve: “Não recebemos uma só proposta séria. Foi uma das experiências que mais me marcou, em toda minha carreira, uma vez que expôs, por um lado, o descompasso entre as declarações públicas de alarme e a preocupação com o sofrimento de um povo e, por outro, a relutância em oferecer os recursos necessários para a ação. O mundo conhecia a proporção da matança em Ruanda e, mesmo assim, não conseguimos que nenhum governo fizesse alguma coisa séria para ajudar.”

“A ONU não funciona no vácuo.” 

                             (Kofi Annan) 

Seguindo com Kofi Annan, em se tratando da Bósnia, na página 85 ele relata: “‘Uma enorme lacuna entre as resoluções do Conselho de Segurança, a vontade de executar essas resoluções e os meios oferecidos aos comandantes no campo de batalha’, foi essa a amarga conclusão a que chegou o general belga Francis Briquemont ao término de seu mandato como comandante da força de paz que integrava a missão das Nações Unidas na Bósnia. Essa lacuna, mais uma vez, seria preenchida com a morte de civis, numa escala nunca vista na Europa desde a segunda Guerra Mundial”.

Apenas dois exemplos nas palavras de talvez aquele que foi o mais respeitado dos Secretários das Nações Unidas. Enquanto alguns pensam a maioria permanece vendo a televisão onde a rede globo apresenta no fantástico, no horário nobre da angústia humana do domingo à noite a equipe diplomática brasileira tentando aprovar uma resolução para um cessar fogo na Palestina, esquecem de dizer que um dos principais países membros permanente vai sempre vetar.

O atual Secretário Geral das Nações Unidas, Antonio Gutierrez, disse recentemente: “…é importante também reconhecer que os ataques do Hamas não aconteceram no vácuo. O povo Palestino foi submetido há 56 anos de ocupação sufocante. Eles viram sua terra ser constantemente devorada por assentamentos, atormentada pela violência…”. Palavras…palavras, palavras que todos que possuem uma inteligência mediana e uma humanidade normal, sabem muito bem que de nada adiantará para cessar o genocídio em Gaza.

Kofi Annan, no dia 7 de maio de 1998, perante o Parlamento de Ruanda pós genocídio reconheceu o fracasso das Nações Unidas e da Comunidade Internacional em Ruanda e disse: “Devemos reconhecer e efetivamente reconhecemos que o mundo errou com Ruanda naqueles tempos de domínio do mal. A comunidade Internacional e as Nações Unidas não conseguiram reunir a vontade política de confrontá-los. O mundo deve se arrepender profundamente desse erro”. Ele finalizou sua fala dizendo: “A tragédia de Ruanda é a tragédia do mundo.”

O domínio do mal nunca se afastou totalmente, agora ele reduz cidades inteiras a escombros, explode comboios de ambulâncias, bombardeia hospitais e escolas da ONU. O genocídio agora é em gaza, as vítimas são o povo palestino!

Pergunto eu, a ONU vai esperar o final do genocídio com o povo Palestino para simplesmente fazer um discurso emocionado e também admitir que erraram? Nesse sentido eu me adianto e peço licença ao Kofi Annan para parafraseá-lo: A tragédia de Gaza, do povo Palestino é a tragédia do mundo! E a ONU contínua não funcionando no vácuo!

Waldson de Almeida Dias é servidor público municipal em Foz do Iguaçu.


Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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1 comentário
  1. Rafael Sanches Diz

    Um olhar diferenciado, parabéns!

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