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Reportagem Especial

Óleo de cannabis

Associação cultiva cannabis e fornece óleo medicinal em Foz do Iguaçu

Objetivo é democratizar o uso do medicamento complementar, com qualidade e preço acessível; assista à reportagem em vídeo.

7 min de leitura
Associação cultiva cannabis e fornece óleo medicinal em Foz do Iguaçu
O óleo é extraído da flor da planta - foto: Marcos Labanca/H2FOZ
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Ao passo que a informação aumenta e remove conceitos preestabelecidos, o uso da Cannabis sativa contra doenças, a “maconha medicinal”, ganha terreno e diversifica a sua aplicação à saúde humana. Em Foz do Iguaçu, uma associação de pacientes cultiva a planta e fornece óleos, à espera de decisão da Justiça para ampliar a produção e chegar a mais pessoas.

ASSISTA:

A Sentir (Associação Cannabica de Estudo e Terapias Integradas) foi formalizada em 2023 e conta com 70 associados que são moradores iguaçuenses e de outras cidades do país. A equipe técnica, por ora toda voluntária, é formada de profissionais de saúde, de múltiplas disciplinas, e operadores de direito.

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Por que advogados? Assim como fornece os óleos medicinas compostos a partir da planta, a associação Sentir elabora pedidos de habeas corpus (HC) à Justiça, mediante instrução técnica e prescrição médica, para que os pacientes possam produzir a cannabis e o seu próprio medicamento.

“O óleo à base de cannabis é usado como tratamento complementar, não é um substituto das demais prescrições médicas”, enfatiza o idealizador e consultor da associação Sentir, Geraldo Brito. “Ele oferece qualidade de vida, sem os efeitos colaterais de outros fármacos, muitas vezes agressivos à saúde das pessoas”, sublinha.

O medicamento é extraído somente da flor da planta. As sementes usadas pela Sentir são importadas de países como Holanda, Estados Unidos, Colômbia e Israel, adquiridas em dólar. Na associação, vão às estufas para crescer sob rigoroso controle de temperatura e umidade, para então passar pelo fabrico dos óleos, atestados em análises laboratoriais.

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Cannabis como remédio

Diferentes pesquisas apontam resultados dos óleos à base de Cannabis sativa para dores crônicas, lesões musculares, Alzheimer, Parkinson, epilepsia, depressão e ansiedade, enumera Geraldo Brito. A lista segue com fibromialgia, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e transtorno do espectro autista (TEA), entre outras.

A Sentir atua para democratizar a cannabis medicinal, disponibilizando óleo mais barato, ante essa gama de possibilidades. “A associação tem um viés social, que é o de oferecer medicamento de qualidade e a preço baixo, cerca de 30% do custo médio praticado no mercado brasileiro”, informa o consultor da entidade.

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Associação de pacientes cultiva a planta e fornece óleo de cannabis – foto: Marcos Labanca

Os principais canabinoides usados são o CBD (canabidiol), CBG (canabigerol) e THC (tetra-hidrocanabinol). Conforme Geraldo, seu uso medicamentoso também é uma forma de resgate. “Há oito mil anos, se cultiva essa planta, a maconha, que foi proibida apenas no século passado. Sempre houve o seu uso para fins medicinais ou ritualísticos”, exemplifica.

A associação só dispõe os produtos para associados — pessoas com mais de 18 anos podem ser sócias — e com receita. Hoje, oito médicos indicam os óleos ofertados pela entidade. Quem não tem a prescrição pode ser encaminhado ao setor médico da Sentir, em que os profissionais parceiros farão uma avaliação, podendo receitar o medicamento feito com Cannabis sativa.

Dores crônicas

Integrante da Sentir, o fisioterapeuta Edson Kurtz recomenda o composto feito da planta para seus pacientes, principalmente para tratar dores crônicas. Ele argumenta que os óleos atuam no sistema endocanabinoide, uma rede complexa como se fosse uma placa de sinalização para as células de mamíferos, como humanos, que já têm registros biológicos da cannabis.

“Temos obtido resultados muito bons com o óleo, por exemplo, em pacientes com dores crônicas, insônia e ansiedade”, elenca. “Acreditamos que a associação Sentir é um instrumento para quebrar tabus, ampliando o uso terapêutico dessa planta, que é uma das mais estudadas no mundo e presente na história da humanidade”, expõe o profissional da saúde.

Informação vence o preconceito

“Eu vivia de arrasto, usava vários medicamentos”, conta Daise Cristina Gonçalves (40), que há dois anos passou a usar os compostos de Cannabis sativa fornecidos pela Sentir. Ela sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) há 14 anos e, além disso, desde então o TDAH — diagnosticado faz cinco anos — era confundido com sequelas do derrame.

“Tenho muitos benefícios com o uso do óleo de cannabis, como qualidade de vida que antes não tinha”, relata. Ela utiliza o medicamento para dores, ansiedade e TDAH, sempre sob o acompanhamento do médico. “Agora, consigo me concentrar e não tenho dor. Se for escrever todos os benefícios, vai tomar conta da matéria. Superindico os óleos”, frisa.

Daise revela que tinha preconceitos quanto à cannabis medicinal, e o esposo era ainda mais refratário. Mas foi ele quem deu o primeiro passo e decidiu pesquisar, com o casal chegando à decisão de usar o produto. “Tive esse progresso porque a informação venceu o preconceito. Já trabalho em cima de telhados, instalando placa solares. Minha vida mudou nos últimos dois anos”, conclui a moradora de Foz do Iguaçu.

Plantas crescem na estufa da entidade para posterior produção do medicamento – foto: Marcos Labanca

Mãe e filho

A estudante de fisioterapia Gilmara de Souza Duarte Gomes (47) recorreu ao óleo de Cannabis sativa para si e para o filho, Samuel, de 14 anos, diagnosticado com TDHA, com laudo desde os 3 anos, e transtorno opositor desafiador (TOD). Há dois anos e meio, utiliza o produto extraído da flor de maconha contra a ansiedade.

“Houve muita melhora, mais foco”, realça. “Meu filho não tem tantas crises e não teve mais convulsões, quando as crises eram muito fortes, e a qualidade de vida de todos em casa melhorou muito com o uso correto do óleo. Eu indicaria para outras pessoas, pois foi de muita importância para mim e para meu filho como um tratamento complementar”, recomenda.

O médico acompanha o uso do composto, trimestralmente, adequando a quantidade e horário da aplicação do óleo com outras medicações, explica Gilmara, que reside em Foz do Iguaçu.

Cannabis na rede pública

Conforme Geraldo Brito, a associação Sentir hoje está restrita em termos de cultivo e produção do óleo de cannabis. A expectativa é quanto à avaliação de matéria pelo Supremo Tribunal Federal (STF), pautada para setembro, que poderá permitir a ampliação do número de plantas para fins medicinais.

A espera tem razão de ser: com a Lei Pétala, estadual, a rede pública de saúde deve fornecer, gratuitamente, remédio à base de canabidiol e tetra-hidrocanabinol aos pacientes que fizerem a solicitação à Farmácia Paraná. A norma surgiu com uma lei de autoria do deputado estadual Goura (PDT).

“Queremos ampliar a produção dos óleos medicinais de cannabis para suprir essa demanda na rede pública, para que um maior número de pessoas possa ter acesso aos seus benefícios”, projeta o integrante da Sentir. A entidade, sem fins lucrativos, já promove arranjos em seus planos de ações, começando a fortalecer a comunicação com a comunidade, principalmente nos meios online, para difundir informações.

Acompanhe: @instagram.com/sentircannabis (informações em breve).

Estudos da Unila

Em Foz do Iguaçu, a Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) é um centro avançado de pesquisas, por meio do Laboratório de Cannabis Medicinal e Ciência Psicodélica. São realizadas pesquisas clínicas com intervenção farmacológica com derivados da Cannabis sativa em doenças neurológicas, por exemplo.

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