Empresária conta como o álcool devastou a sua vida

Alcoolismo entre mulheres aumenta a cada ano e causa impacto na saúde pública e nas famílias.

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A vida de Mônica (nome fictício) deu uma guinada para baixo por volta dos 35 anos. Foi nessa época que ela começou a beber, tornando-se dependente de álcool. Começou com cerveja, passou para vodka e encontrou o fundo do poço. 

Depois de muitas ressacas e uma noite em que dormiu bêbada com o portão de casa aberto, ela começou a recuperar a lucidez e decidiu procurar ajuda. Hoje, frequenta o grupo Alcoólicos Anônimos (AA), em Foz do Iguaçu, e ajuda muita gente a superar o mesmo drama que viveu (Ver vídeo abaixo).


A história de Mônica é apenas a ponta do iceberg de um problema bastante comum e banalizado na sociedade: o alcoolismo, doença que gera brigas, acidentes, mortes e vem crescendo principalmente entre as mulheres.

Conforme levantamento do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), o uso abusivo de álcool entre as mulheres aumenta cerca de 4,25% ao ano.

Os dados foram coletados entre 2010 e 2020 com informações disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), relativos a 12 capitais brasileiras e Distrito Federal, e publicados no Jornal da Universidade de São Paulo (USP).

Em Foz do Iguaçu, os atendimentos realizados pelo Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps AD), referentes a transtornos mentais e comportamentais por uso de álcool, aumentaram nos últimos anos, conforme as estatísticas abaixo:

2023 – 161;

2022 – 177;

2021 – 154.

Fonte: prefeitura/Caps AD

Doença psiquiátrica

A reação do metabolismo feminino ao álcool é diferente da observada no masculino. Em entrevista ao Jornal da USP, o professor Erikson Felipe Furtado, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), especialista em álcool e drogas, diz que as mulheres tendem a ter um perfil metabólico distinto em relação ao álcool.

Reação do metabolismo feminino ao álcool é diferente da observada no masculino – foto: Marcos Labanca


Ele explica que as enzimas de digestão do álcool das mulheres apresentam uma eficiência menor, algo em torno de 60%. Por isso, uma quantidade maior de álcool chega até o sangue e cérebro, fazendo as mulheres serem mais vulneráveis à embriaguez com menor consumo de álcool.

Médico psiquiatra em Foz do Iguaçu, Wanderlúcio Andrade chama atenção para a gravidez e dependência química. As gestantes dependentes do álcool, informa, correm risco de desenvolver um quadro psiquiátrico, o que prejudica os bebês. “O etilismo é uma doença psiquiátrica”, alerta.

Além dosdistúrbios mentais e comportamentais, o álcool aumenta a ocorrência de doenças cardiovasculares e câncer, que são enfermidades crônicas não transmissíveis.

Wanderlúcio acrescenta que álcool é uma substância estressora e, quando somado ao estresse da pessoa, pode desencadear um quadro psiquiátrico. “Muitas vezes o paciente que tem um quadro de agitação e ansiedade, e sob o estresse, busca álcool como uma forma de sentir prazer.”

O médico ainda diz que as substâncias que geram dependência mexem no sistema de recompensa e na dopamina, e assim é preciso uma quantidade maior de álcool. Isso vai alterando as condições cerebrais e acaba gerando um quadro mais depressivo. Mecanismo semelhante ocorre com a maconha.

O álcool gera um alívio inicial porque libera uma quantidade de dopamina, mas depois vem a ressaca, acentuando-se certos comportamentos. Quem já é deprimido fica mais ainda. O mesmo acontece com pessoas agitadas. 

“Vivemos em uma sociedade onde há uma cobrança excessiva para se ter um excelente desempenho. A pessoa naturaliza isso e tem uma tendência de ficar em estresse”, enfatiza o médico.  

Com o tempo, essa condição leva a uma adaptação do corpo em um estado disfuncional gerando continuadamente o cortisol, hormônio que mede a resposta ao estresse, e às vezes desenvolve um quadro de ansiedade continuada e depois deprime. “A pessoa aprende a viver acelerada.”

O álcool, explica, em um primeiro momento, alivia, mas com o tempo muda a configuração cerebral da pessoa, que não consegue viver sem a bebida. Outro prejuízo é o cognitivo, com a possibilidade de desenvolver-se um quadro de encefalopatia de Wernicke – doença que provoca confusão, problemas nos olhos e perda de equilíbrio.

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