As cidades áridas

Nem sempre nos damos conta de como a cidade engole o verde e o cimento toma conta de nosso entorno.

Apoie! Siga-nos no Google News

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Nestes dias de inverno, temperados com pitadas de eventos climáticos extremos, estamos sentindo na pele e no corpo inteiro o que é em um dia fazer muito frio e no outro um calor terrível. Do frio, de um jeito ou de outro, ainda dá para escapar. Casas calafetadas, não temos. Roupas apropriadas, quase poucos as têm. Mas ainda assim, penso que é menos difícil se livrar do frio que do calor.

Qual é a qualidade de vida que um trabalhador braçal tem em trabalhar sob sol escaldante, sem conforto térmico, com hidratação desregulada, sob temperaturas que seriam desejáveis somente para quem está pegando uma praia?

Ande pelas ruas de qualquer cidade e observe. Os carros disputam as vagas cada vez mais concorridas de estacionamentos. As galhadas das árvores, são cortadas de tal modo a não incomodar as fachadas, cabos de energia e telefonia, caminhões. É possível contarmos cada vez mais nos dedos das mãos as árvores que sobrevivem em meio ao caos organizado da cidade.

Faça a experiência. Caminhe por uma quadra ou quarteirão e conte quantos tocos de árvores sinalizam o caminho. Repare que há clarões, onde antes brotava o verde.

A maioria da população não se dá conta da dinâmica de uma cidade, que cresce desordenadamente, em virtude da especulação imobiliária, da verticalização das habitações, também na falta que o sol faz quando os edifícios tomam contam de tudo.

Nem todo mundo percebe que nossas cidades foram planejadas para uma certa quantia de moradores. Mas que esse número vai sendo extrapolado e a natureza é forçada a gerar mais água, mais energia, absorver o lixo, o volume da galerias pluviais, entre outros.

Nossas cidades estão cada vez mais superlotadas de pessoas apressadas, dirigindo de um lado para o outro, e dispersas em suas telas de celulares. Quando não, tudo ao mesmo tempo.

A nossa comida viaja nas costas dos entregadores de aplicativos, enquanto que um mar sem fim de embalagens descartáveis acumulam-se pelas esquinas em sacolas de mercado que fazem as vezes de lixeiras. Aliás, quem realmente consegue viver sem essas sacolinhas tão terrivelmente versáteis?

Apesar de tudo, os ipês ainda insistem em nos presentear com suas cores… Nem sei mais qual floresce primeiro, sei que tem uma ordem natural, mas já vi brancos, amarelos e outros que nunca mais nos brindarão com suas cores, porque foram cortados.

As nossas cidades estão cada vez mais pavimentadas, o gramado verde engolido pelo sombrio do sintético. Os painéis publicitários nos convidam para o Dia da Árvore, 21 de setembro. Muitas campanhas, muito marketing, distribuição de mudinhas. E aquelas que foram entregues nos anos anteriores? Que fim levaram?

Precisamos de cidades menos áridas, menos compactadas, mais permeabilizadas. Precisamos de flores. Que não sejam de plástico.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

Quer divulgar a sua opinião. Envie o seu artigo para o e-mail portal@h2foz.com.br

LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.