RS de joelhos diante da tragédia climática

Algum aprendizado precisa ocorrer, em meio a uma lição tão cruel.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

O que estamos presenciando no Rio Grande do Sul, através do conforto de nossas casas, não é a mínima fração do que a água e lama encobrem, transmitidos pelas telas.

Os relatos são impressionantes, mas eles ainda nem tiveram tempo de ganhar visibilidade porque há uma luta contra o tempo para buscar sobreviventes.

Pessoas que não saíram de casa porque foram pegas de surpresa. Outras que, surpreendidas,  não queriam abandonar os animais. Aquelas, que tiveram que dar a vez para que os filhos fossem salvos. Outras, que jamais serão encontradas. Crianças separadas dos pais. Filhos sem notícias dos pais. Milhares de pessoas isoladas, áreas que nem imaginamos como a situação esteja, porque estão sem comunicação.

O cenário devastador ainda não foi revelado, e a tendência é piorar. Apesar de não estar chovendo, as águas continuam transbordando o Guaíba e a previsão é de que, em Porto Alegre, seja necessário no mínimo uma semana para diminuir cerca de três metros de altura de água que  engole a área central. Até o momento, 385 de 497 municípios, já tiveram decretado o Estado de Calamidade Pública. Porém, a meteorologia indica queda da temperatura, aumento do índice pluviométrico, com tempestades e granizo para os próximos dias.

Cidades inteiras, escolas comprometidas, hospitais, presídios, pontes, estradas. O aeroporto de Porto Alegre está fechado até, no mínimo, o final do mês. Falta de água, de comida, roupas, de remédios. Falta de combustíveis, de material humano e hospitalar,  para salvar vidas humanas e outras.

O Brasil inteiro está chocado e mobilizado para ajudar os irmãos gaúchos. Não é a primeira vez, é a terceira em menos de dois anos. Mas este é sem dúvida, até o momento, o evento climático mais extremo presenciado no Sul.

Há uma onda de solidariedade tomando conta do Brasil, com campanhas de arrecadação de donativos e envio de ajuda humanitária, equipamentos, cães farejadores, entre outros. Todas as agências dos Correios de São Paulo, Paraná e parte do RS irão entregar gratuitamente os donativos. Influencers das mais variadas correntes ideológicas estão estimulando que seus seguidores doem em dinheiro e produtos. Governo Federal, presidências do Senado e Congresso, atém do Tribunal de Contas da União (TCU), estiveram presentes no RS e devem liberar, sem limites,  recursos emergenciais para o Estado.

De outro modo, saqueadores e bandidos tentam se aproveitar da situação de casas que foram abandonadas, extremistas espalham mentiras de que a Receita Federal estaria impedindo de realizar donativos e até jogador de futebol, dizendo que é proibido entregar marmita. Sendo que a orientação é evitar comida perecível, mas nada que se proíba.  É uma espécie de Torre de Babel, que precisa ser interpretada para que o caos não prevaleça.  Houve até boataria interligando o show de Madonna com a crise climática, que acabou ficando de lado com a notícia de que a diva do pop teria doado R$10 milhões para ajudar os gaúchos.

Quando eu era criança, perguntava na escola, para a professora de ciências, como é que as formigas não morriam, quando choviam. Como é que não alagava as casas delas, no chão. Elas criam estratégias de sobrevivência. E o que aprendemos com elas? Praticamente nada. Estamos degradando nosso ambiente e só resta, na hora das tragédias, buscar as gambiarras e não planos estratégicos de sobrevivência.

Não temos dimensão do que significa essa tragédia para a economia e muito menos para a sustentabilidade.  Se a cadeia produtiva foi alterada, imaginem então, o impacto dessa catástrofe ambiental para a biodiversidade. Áreas alagadas, áreas de reprodução de espécies da fauna e flora, impactadas de forma jamais vista.

Quando tudo isso passar e olharmos para trás, teremos que ter aprendido algo. Se o meio ambiente continuar sendo devastado, as cidades impermeabilizadas, os rios assoreados, e sucessivamente,  todo o sofrimento, todas as vidas, todas as histórias, todas as lutas terão sido em vão.

Os eventos climáticos extremos precisam ser enfrentados, e não recepcionados por uma legislação ambiental cada vez mais branda, cujo sopro da ganância reflete em horas como esta. Um estado derrubado, consumido, pela força da natureza violentada pelo homem.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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