Capivara Filó: assessoria do Ibama precisa se coçar

O apelo emocional do caso Filó necessita ser convertido em educação ambiental.

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Por AIDA FRANCO LIMA | OPINIÃO

A história da capivara Filó viralizou nas redes sociais em fevereiro deste ano, depois que Agenor Tupinambá, de 23 anos, passou a mostrar sua rotina, junto de outros animais silvestres, na fazenda onde reside em Autazes, no interior do Amazonas.

Não é raro que quem mora em regiões onde a biodiversidade ainda é um pouco mais preservada tenha mais proximidade com animais silvestres do que as pessoas dos grandes centros. E também pode acontecer de os próprios órgãos de fiscalização recorrerem à ajuda de pessoas físicas, que tenham condições de garantir qualidade de vida a animais resgatados, que não podem ser reintroduzidos na natureza. São os fiéis depositários, responsáveis pela vida do animal durante o tempo necessário.

Filó não teria pautado o noticiário recente se Agenor tocasse sua vidinha, como muitas outras pessoas daquela região e similares o fazem, quando acolhem algum animal silvestre que se deixado na natureza não teria chances de lutar para não virar comida, de acordo com a cadeia alimentar. Mas quando Filó passa a ser tratada como animal de estimação e ganha as redes sociais, a história muda de contexto.

Filó deixa de ser um animal silvestre resgatado, tratado com amor, para transformar-se em objeto de cobiça por parte de quem também quer ter um silvestre para chamar de seu. E não importa a sua origem, se foi encontrado atropelado ou retirado do ninho. E isso alimenta o tráfico de animais, que só fica atrás do tráfico de drogas e armas, no mundo todo!

Diante dessa situação, nada mais esperado que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) agir. E foi fazer o papel que lhe cabe, garantir que o animal silvestre esteja em seu habitat. Porém, estamos em tempos de redes sociais. Estamos diante de um cenário em que o Ibama tem incomodado muita gente que não está nem um pouco preocupada com a Filó! Que quer mais atingir a imagem de um órgão que incomoda quem atua ilegalmente no garimpo, pesca, extrativismo e desmatamento. O Ibama caiu em uma espécie de cama de gato! E por fazer o correto, está dando com os burros n’água.

De acordo com comunicado da instituição, “Agenor foi autuado em R$ 17 mil por diversos crimes ambientais, entre eles matar espécie da fauna silvestre (preguiça real), praticar abuso (capivara) e manter em cativeiro para obter vantagem financeira (capivara e papagaio)”. Uma vaquinha virtual arrecadou R$ 83.702,60 para pagar a multa. Até o momento, tem dois milhões de seguidores no Instagram.

Isso tudo gerou uma série de capítulos, lembrando uma novela mexicana: devolução de Filó; cobertura fotográfica da despedida; protesto em frente ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), para onde Filó foi levada; invasão do local pela deputada estadual Joana Darc fazendo live e incendiando os ânimos dos defensores de Agenor; brigas nas redes sociais; diretoria do Instituto Luísa Mel excomungando-a, mudando o nome para Instituo Caramelo; juiz deferindo que até o término do processo Filó volte para os braços de Agenor.

A história ganhou proporções que deviam ser imaginadas pela assessoria de comunicação do Ibama! Isso tem a ver com previsão de cenários, e estamos diante de uma situação de crise enorme! E esse caso da capivara Filó poderia ser revertido, como foi no Projeto Tamar. Os pescadores que matavam as tartarugas e seus ninhais foram contratados para ajudar a cuidar dos animais. Agenor deveria ser levado para o outro lado da causa. O lado de esclarecer e combater o tráfico de animais silvestres. E mostrar como isso impacta a biodiversidade e que o Ibama não é o bicho-papão da floresta.

Não é fofo transformar um animal silvestre em bichinho de estimação, porém também sabemos que há a figura do fiel depositário, como citado anteriormente. Aliás, foi com essa condição que Agenor teve o direito temporário de levar Filó do Cetas para a fazenda onde mora. Em alguns anos já houve até um chamamento para que as pessoas que tivessem animais silvestres regularizassem a situação. Mas naqueles tempos não tinha TikTok pra ficar mostrando a rotina com os bichos.

Está havendo um massacre ao Ibama porque o órgão está cumprindo a lei. E uma comoção social, forçada inclusive por aqueles que lucram com a destruição dos habitats naturais e tráfico de animais (como se o criminoso da história fosse o Ibama), para que Filó volte a viver na região em que estava.

Cuidar de um animal silvestre, seguindo as normas legais, não dá o direito de humanizar o bicho, como dar banho com xampu, como exibido em vídeos. Muita gente nem sabe, mas animais silvestres podem transmitir doenças aos humanos e vice-versa. E o grande problema desse caso está centrado na megaexposição nas redes sociais, que pode influenciar outras pessoas.

Quando houve o lançamento do filme “101 Dálmatas”, lá em 1996, um tempo depois o índice de animais abandonados, dessa raça, era gigante nos EUA. Só para exemplificar o impacto da mídia na tomada de decisão das pessoas…

O Ibama, ao longo de anos, foi sucateado e teve sua imagem arruinada, sem concursos, sem estrutura. Inclusive os Centros de Triagem de Animais Silvestres, para onde a Filó foi levada. Mesmo sem autorização, a deputada entrou e denunciou as más condições, também reflexo do desleixo dos governantes com os órgãos que deveriam preservar nossa biodiversidade. Inclusive de deputados que muitas vezes não destinam um centavo para a manutenção.

A assessoria de comunicação do Ibama precisa se coçar, tomar medidas para reverter a situação. Quem é da área de comunicação sabe que isso é uma situação de crise que precisa ser imediatamente controlada.

Pesam contra Agenor muitos pontos negativos (peão de rodeio, morte de uma preguiça, outros animais silvestres, monetização de vídeos, etc.), contudo, queira ou não, ele salvou a vida do bicho (conta que a mãe foi morta por caçadores), mora na região em que o bichinho vive (que é muito diferente de morar na cidade), tem milhares de seguidores e muita projeção, e poderia ser um aliado na tão necessária “educação ambiental”.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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6 Comentários
  1. Juarez Diz

    Perfeitas colorações. Agora tá na moda ter animais silvestres como Pet. Tem um americano que publica filmes de uma capivara criada dentro de um apto ou casa, totalmente privada da vida na natureza. Perderam a noção.

  2. Evellyn Diz

    Ah para né!? Que discursinho! Todo mundo sabe que não pode ter animais silvestres em casa e a filó perdeu a mãe enquanto filhote por causa de CAÇADORES que o Ibama não multa e nem prende. Ademais, quando ela foi retirada do Agenor, ela ficou em um ambiente INSALUBRE e PRECÁRIO, qualquer animal teria se estressado vivendo em uma situação daquelas dentro de um cativeiro IMUNDO!. Tanto que ela não deixar de estar no habitat dela, perto de um rio e se alimento corretamente. Já que o Ibama se preocupa tanto com a saúde dos animais Silvestres, e os garimpeiros? E a caça ilegal? E o comércio ilegal a céu aberto de animais silvestres por ai? E os sem terra/grileiros que queimam florestas por ai?. Já tá bom desse disrcursinho defendendo um orgão que nunca multou a Mirella e o Latino por terem animais silvestres em CASA/APARTAMENTO!. Se a Filó tiver que ser reintroduzida na natureza e treinada para isso, que seja longe daquele ambiente horrível do Ceta onde ela foi colocada, que tinha até remédio vencido e carne apodrecida. Mas isso o Ibama não se responsabiliza né?!.

  3. Raphael Diz

    O animal estava bem cuidado pelo dono, ai o IBAMA jogou numa jaula. Da pra ver quem é errado nessa história. O erro do dono da capivara foi mostrar pro mundo como ele e seus animais são felizes. Mas sempre tem alguêm querendo estragar a felicidade alheia.

  4. Jorge Diz

    O IBAMA simplesmente surgiu do nada para aparecer. E aplicar uma multa de R$ 17.000,00 q um rapaz e ainda fez ele pagar o transporte até a capital, e ao invés de aliado, está buscando a “capivara” da família inteira do rapaz para jogá-lo na inquisição pública que eles querem.

    O IBAMA resolveu punir o cara, mas é os milhões de turistas que acham em todo o canto diversos animais silvestres para tirar fotos, na maioria animais sem o menor cuidado. E fora que se o IBAMA não foi buscar k animal, indica que eles nem se deram ao trabalho de verificar a condição que o animal era tratado, fez o julgamento pela internet.

  5. João Batista de Souza Diz

    Esse Ibama é uma vergonha tiram um animal que estava sendo bem cuidado para uma situação de maus tratos no seta , num ambiente imundo até a água para a filó beber era imunda, suja, nojenta o Ibama com viés de esquerda, pura hipocrecia.

  6. João souza Diz

    Que vergonha esse Ibama, agora todo nós ficou conhecendo a verdadeira face, dessa instituição esquerdista pura hipocrisia.

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