Pandemia obriga guias de turismo a se reinventar

Alguns profissionais mudaram de atividade; outros se mantêm com iniciativas do poder público.

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Alguns profissionais mudaram de atividade; outros se mantêm com iniciativas do poder público.

Atividade que depende essencialmente da interação com pessoas, o trabalho de guia de turismo foi duramente atingido pela pandemia da covid-19. Com a queda do movimento de turistas, principalmente estrangeiros, os 600 guias atuantes em Foz do Iguaçu precisaram reinventar-se. Alguns migraram de área, enquanto outros criaram passeios.

Presidente da Liga Independente dos Guias de Turismo de Foz do Iguaçu (Liguia), Carlos Alberto Silva considera a situação da categoria bastante complicada porque a maioria dos colegas está há muito tempo na profissão e não tem facilidade de se adaptar a outras atividades. Acostumados a trabalhar diariamente, alguns guias passam por dificuldades, enquanto outros faleceram, incluindo óbito por AVC. “Isso afeta a gente sobremaneira. A maioria dos guias está esperando a vacina”, afirma.

Na tentativa de superar a falta de trabalho, muitos profissionais começaram a trabalhar como motoristas por aplicativos ou entraram no ramo de alimentação. Nesse período também, pelo menos 150 guias receberam bolsas por três meses, a partir de um projeto da Itaipu, e outros se beneficiaram com o auxílio emergencial, que já foi encerrado. Em julho, os guias fizeram algumas edições de uma feira livre no Calçadão da Rio Branco com alimentos e artesanatos para conseguirem manter-se.

Outra alternativa que surgiu recentemente foi o projeto Conhecendo Foz, o qual atualmente absorve 200 guias e outros cerca de 200 motoristas, porque o passeio inclui transporte. Por meio do Conhecendo Foz, os moradores podem fazer passeios gratuitos nas Cataratas, Itaipu e Marco das Três Fronteiras. Os guias são remunerados pelo município, conforme o número de atendimentos realizados – não podendo superar um total de nove durante o projeto.

Para Carlos Alberto, a iniciativa é positiva, no entanto a lentidão do serviço público atrapalha. A prefeitura teve de se adaptar e montar uma espécie de agência de turismo para receber os pedidos pelo telefone 156. Contudo, a equipe é pequena para dar conta da demanda de reservas que chega.

Apesar de ser voltado a moradores de Foz, que em tese já conhecem os atrativos, o Conhecendo Foz está tendo bastante receptividade da comunidade porque o passeio acompanhado por guias causa um impacto diferente no morador em razão das informações que são repassadas sobre os locais.

Delivery de alimentos sustenta guia e família

Tamara: o menu, inicialmente com três opções, hoje tem 15 – Foto: Marcos Labanca

A rotina de Tamara Susan da Cruz era atender, de segunda a segunda, turistas brasileiros e estrangeiros, principalmente norte-americanos, afinal ela é fluente em inglês. De repente, a pandemia chegou e interrompeu mais um ano de trabalho. Depois de alguns meses tentando organizar a vida, em outubro do ano passado, ela recebeu a proposta de tocar um delivery de alimentos e assim conseguiu reestabelecer-se.

No começo tudo foi muito difícil, até porque Tamara estava aventurando-se em uma área nova, mesmo já tendo um pouco de prática com venda de geleias caseiras. Com o tempo, pegou o ritmo e hoje trabalha com a família em uma pequena cozinha nos fundos de casa para preparar as porções que chegam aos clientes via entrega.

O negócio começou a caminhar tão bem que o menu, inicialmente com três opções, hoje tem 15, entre duetos, trios, quartetos e porções de carne, batata, polenta e mandioca. “A gente está se segurando em cima disso”, diz.

Tamara informa que recebe muitos elogios nas redes sociais pelo trabalho e que não desistiu do turismo. Neste ano, ela atuou apenas três vezes como guia e pretende levar as duas atividades em paralelo.

Criatividade foi a saída para Juliane

Para alguns guias que se mantêm na atividade, a criatividade foi fundamental. Passeios surgiram nos últimos meses, atraindo em especial os moradores de Foz do Iguaçu. Entre as atrações estão andar de bike no Parque Nacional do Iguaçu e o Iguazú Welness, que compreende vários atrativos, entre banho de cachoeira e café da manhã com ioga.

O Iguazú Welness é uma criação da guia Juliane Ebling. Em 2018, ela começou a trabalhar com produtos dermocosméticos termais e pensou em uma nova maneira de atender os turistas. Em 2019, a ideia amadureceu. Quando chegou 2020, o ano da pandemia, foi a hora de acelerar o projeto, até porque Juliane passou a ter mais tempo livre. Antes ela vivia com a agenda cheia atendendo principalmente turistas franceses e ingleses, que começaram a cancelar os primeiros pacotes em fevereiro de 2020, em razão da intensidade da pandemia na Europa.

Juliane fez parcerias com alguns espaços, incluindo hotéis e reservas com mata. E aí colocou em prática um dos passeios, o Banho de Floresta – no qual, além de trilha, há momentos para se trabalhar os cinco sentidos do corpo, experimentar práticas bioenergéticas e respiratórias, tomar banho de cachoeira no Rio Iguaçu e, para quem quiser, passear de caiaque. Outro passeio envolve ionterapia nas Cataratas, com foco na liberação de cargas negativas de energia junto às revigorantes quedas d’água.

Casada com um indiano e fluente no inglês e francês, Juliane conta que o empreendimento está ganhando força, e ela investe na divulgação de acordo com o retorno que tem. Para a guia, a vacina é uma maneira de conter a pandemia, mas mais importante que isso é o ser humano manter-se em harmonia com a natureza e, consequentemente, com o sistema imunológico forte. “Precisamos viver em uma harmonia com o todo”, frisa.

Mais informações sobre o Iguazú Welness
https://www.instagram.com/iguazuwellness?r=nametag

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