Há 40 anos, Brasil e Paraguai perdiam as Sete Quedas de Guaíra

Represamento do Rio Paraná para a formação do lago de Itaipu foi concluído em 27 de outubro de 1982.

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Moradores de Guaíra (PR) e Salto del Guairá (Paraguai) não esquecem a data. Em 27 de outubro de 1982, há exatos 40 anos, o enchimento do lago de Itaipu inundou as Sete Quedas do Rio Paraná, maior conjunto de cachoeiras do planeta em volume de água.

Também conhecidas como Saltos del Guairá, as Sete Quedas eram, na verdade, um conjunto de 19 saltos, com até 40 metros de altura, reunidos em sete grupos. Um dos destaques era a força das águas, com o Paranazão despejando nas quedas, em média, vazão de sete a nove vezes maior que a do Rio Iguaçu no cânion das Cataratas.

Material compilado pelo jornalista José Wille sobre as Sete Quedas

A contagem para o fim das Sete Quedas começou em 1966, com a assinatura da Ata do Iguaçu entre Brasil e Paraguai. Em 1973, foi firmado o Tratado de Itaipu, que previa o “aproveitamento hidrelétrico dos recursos hídricos do Rio Paraná, pertencentes em condomínio aos dois países, desde e inclusive o Salto Grande de Sete Quedas ou Salto de Guaíra até a Foz do Rio Iguaçu”.

Em 1974, foi constituída a Itaipu Binacional, entidade responsável pela construção da barragem que represaria o Rio Paraná no trecho de 180 quilômetros entre Foz do Iguaçu e Guaíra. As obras tiveram início, efetivamente, no ano de 1975, dando corpo à futura maior hidrelétrica do mundo em produção de energia.

Em 13 de outubro de 1982, com a barragem já pronta, o canal que permitia a passagem do Rio Paraná foi fechado para a formação do lago. O enchimento foi rápido e durou apenas 14 dias. No dia 27, o reservatório chegou à Cota 220 [nota da redação: 220 metros de altitude sobre o nível do mar], cobrindo o último salto com pelo menos seis metros e deixando para fora apenas as copas das árvores.

Para os moradores de Guaíra e Salto del Guairá, além da perda em si, um dos efeitos do desaparecimento dos saltos foi o silêncio. À noite, quando o barulho das cidades diminuía, era normal ir para a cama ouvindo o som das Sete Quedas. Nos dias finais, conforme a água do lago subia, o rugido amenizava, até sumir para não mais voltar.

Documentário da TV Sinal Paraná sobre as Sete Quedas

Tragédia

Nos meses que antecederam a extinção do Parque Nacional de Sete Quedas (decretada pelo governo militar em 19 de setembro de 1982), Guaíra foi invadida por turistas desejosos por conhecer ou ver pela última vez a paisagem.

A grande procura, somada à manutenção cada vez menos frequente das passarelas, provocou uma tragédia: a queda da ponte pênsil sobre o Salto 14, provocando a morte de 32 visitantes, arrastados pela correnteza. Notícias veiculadas à época relatam que um dos cabos rompeu, ocasionando o colapso da precarizada estrutura.

Documentário de Adriel Marcelo com a história de João Mandi, herói do resgate

Literatura

O sepultamento das cachoeiras fronteiriças levou o escritor Carlos Drummond de Andrade a escrever um de seus poemas mais conhecidos: “Adeus a Sete Quedas”, cuja primeira estrofe o H2FOZ reproduz abaixo:

Sete quedas por mim passaram,
E todas sete se esvaíram.
Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele
A memória dos índios, pulverizada,
Já não desperta o mínimo arrepio.

Poema de Drummond declamado no canal Educa Play
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