Brasil inicia guerra contra carros usados importados pelo Paraguai

Se não atender exigência, Paraguai não poderá exportar autopeças ao Brasil sem impostos.

H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Começou uma polêmica no Paraguai: é possível atender à reivindicação do Brasil, que pede pro país impedir a importação de carros usados? 

O argumento brasileiro é simples: se o Paraguai não fizer isso, imporá impostos sobre as maquiladoras que vendem autopeças. Um bom argumento, porque elas empregam nada menos que 10 mil pessoas. E o mercado brasileiro é o maior comprador das autopeças produzidas no país vizinho.

O problema é que não existe com o Paraguai um acordo automotivo como o que há com a Argentina e o Uruguai. 

O motivo é que, quando foi assinado o Tratado de Assunção, em 1991, que criou o Mercosul, o Paraguai não produzia autopeças ou componentes para veículos. Isso mudou com a Lei de Maquilage, que trouxe ao país inclusive filiais de empresas brasileiras.

Para o Brasil, a condição é inegociável: ou o Paraguai deixa de trazer carros usados, via Chile, ou não poderá mais vender autopeças ao Brasil sem pagar impostos, o que inviabilizaria a exportação.

Importadores

Mas existe o outro lado: a Câmara de Importadores de Veículos e Maquinários Usados do Paraguai rechaça a exigência brasileira.

O presidente da entidade, Rolando Álvarez, diz que há no Paraguai cerca de 3.200 importadores de carros usados, que atuam dentro do que prevê a legislação do país.

O mercado

No ano passado, dos 116.019 carros importados pelo Paraguai, 73.925 eram usados (64% do total), dos quais 67.601 com mais de dez anos de uso.

O Paraguai é o único país da América Latina qe importa veículos com mais de dez anos de uso, o que é um bom negócio para japoneses e norte-americanos: carros que virariam sucata são vendidos a um preço bem atraente para o exportador. 

Mesmo com campanhas do governo e financiamentos a juros baixos e prazo de 60 meses, o total de venda de carros zero no Paraguai aumentou apenas quatro pontos, de 32% para 36% das importações.

Embora o mercado paraguaio seja muito pequeno, em comparação com o argentino, as montadoras instaladas no Brasil querem vender mais, e, por isso, pressionam o governo a exigir do Paraguai a proibição da compra de usados. 

É que, pequeno ou não, o Paraguai torna-se interessante especialmente depois que a Argentina reduziu drasticamente a importação de carros brasileiros, devido à crise que o país atravessa, uma das maiores das muitas que o país enfrentou ao longo de sua história.

Há um terceiro elemento nesta história: o Chile. A importação é um bom negócio para os chilenos, que cobram taxas portuárias e, ainda, lucram com toda a movimentação de caminhões-cegonhas.

Nas redes sociais do Paraguai, as opiniões se dividem. Há os que simplesmente falam que o Paraguai não deve se submeter a pressões do Brasil; há os que criticam os preços e a qualidade dos carros brasileiros; e há, também, os que são contra a importação de carros velhos, por considerar que seus preços também são elevados, até mais do que o de carro velho no Brasil.

Enfim, um problema a mais para o governo do presidente Mario Abdo Benítez, o Marito. 

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