Na luta contra o coronavírus, Paraguai pode ser um dos bons exemplos

O uso progressivo de medidas restritivas à circulação de pessoas foi adotado pelo país rapidamente.

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* Cláudio Dalla Benetta I OPINIÃO

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No mundo, o quinto país mais atingido pela epidemia do novo coronavírus – a Alemanha – se destaca pelo baixo índice de mortes. Na América do Sul, o Paraguai aparece com o menor número de casos, até agora, mesmo proporcionalmente, em relação à população. O que deu certo?

O caso da Alemanha é típico de país rico e prevenido. Primeiro, antes mesmo de o vírus aparecer por lá, o governo já havia criado um comitê permanente de vigilância, já no dia 6 de janeiro.

Logo a seguir, foi ampliada a capacidade de fazer testes entre a população, para identificar o mais cedo possível os portadores do vírus. O país pode fazer até 160 mil exames por semana. Paralelamente, foram adotadas as medidas de distancimento social, com o fechamento de comércios não essenciais e outras que estão conseguindo conter a circulação do vírus no país.

Em números desta segunda, 23, registrados pelo painel on line montado pela universidade americana Johns Hopkins, a Alemanha registra 26.220 casos da doença, mas apenas 111 mortes, o que representa somente 0,4% do total. A Itália, com 59.138 casos, registra 5.476 mortes, ou seja, mais de 9% do total.

A Itália não estava preparada para a epidemia. Em menos de três semanas, o sistema de saúde foi sobrecarregado, porque o vírus não foi contido a tempo. A circulação do vírus foi detectada no dia 20 de fevereiro, no Norte da Italia, e apenas três dias depois o país já era o terceiro do mundo em número de casos. Só aí o governo decidiu adotar medidas  de restrição à circulação de pessoas.

No atendimento aos doentes, houve erros crassos e graves: pacientes com a doença foram mandados para casa; médicos decidiram não tratar os muito velhos (que também ajudaram a espalhar o vírus); e o governo demorou para adotar medidas de restrição à circulação.

América do Sul

O novo coronavírus chegou à América do Sul no final de fevereiro. No dia 29, havia dois casos confirmados, um no Brasil e outro no Equador.

Os casos se multiplicaram rapidamente. No dia 16 de março, Argentina, Peru, Colômbia e Equador fecharam suas fronteiras. No mesmo dia, o Paraguai fechou parcialmente as fronteiras com Brasil e Argentina.

O Brasil só fechou as fronteiras no dia 20 de março, excluindo a do Uruguai, por ser terrestre.

Embora fosse criticado inicialmente pelo rigor das medidas, que impediam a entrada de estrangeiros e, posteriormente, a restrição à circulação dos próprios nacionais, o Paraguai agiu firme e rápido. Era uma questão vital para o país: sem recursos para atender um número de pacientes muito elevado, a contenção do vírus tornou-se a única forma de o país enfrentar a epidemia.

Cena de Assunção. Há quem desrespeite o decreto, mas a grande maioria acata. Foto Agência IP

É, agora, o país com menos casos de novo coronavírus na América do Sul: 22, com uma morte (um médico de 69 anos que atendeu a pacientes com a doença). A Bolívia tem mais casos, 27, mas sem registro de morte.

A liderança absoluta é do Brasil, com 1.620 casos e 25 mortes. Os mortos representam 1,5% do total de casos, um índice muito superior ao da Alemanha e igual ao da Argentina, com 266 casos e quatro mortes.

O Equador, que depois do Brasil é o que tem mais casos (789) e mortes (14), tem um índice de mortalidade maior, de 1,7%.

Outros países da região também vêm aumentando rapidamente o número de casos. O Chile, com 746 e uma morte: o Peru, com 363 casos; a Colômbia, com 255 e duas mortes; e o Uruguai, com 158 casos.

Ah, sim, antes que se diga que não dá para comparar o número de casos no Brasil com o do Paraguai, já que a população brasileira é muito maior. A comparação pode ser feita, sim, proporcionalmente. Os 1.620 casos registrados no Brasil equivalem a 0,0007% da população; os 22 casos no Paraguai equivalem a 0,0003% do total de paraguaios. Mesmo proporcionalmente, portanto, o Paraguai tem menos casos que o Brasil.

Enfim, se o Paraguai pode ser considerado um exemplo, com todas as limitações que o país tem, de recursos e de disponibilidade de leitos e de equipamentos de saúde, é pela coragem de implementar restrições e de punir com multa e prisão os que não cumprirem o decreto de "isolamento total".

Vamos acompanhar os próximos números pra saber se, de fato, os vizinhos adotaram as medidas certas no momento certo. Tomara que sim.

Antes, os números totais do painel da Johns Hopkins: 351.731 casos confirmados no mundo, com 15.374 mortes.

Fontes: La Nación, Universidade Johns Hopkins Correio Braziliense e Folha de S. Paulo

* Cláudio Dalla Benetta é jornalista em Foz do Iguaçu

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