Relato: “Andei no ônibus com ar-condicionado. E eles?”

Desde sábado (28), o transporte coletivo de Foz do Iguaçu já tem a primeira linha com ônibus climatizados.

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RESUMO:
Por que a linha “245 – Três Lagoas/Praia”?
O ar-condicionado funciona?

E este negócio de só parar em alguns pontos?
Com quais critérios foram escolhidos os pontos?
Com menos pontos no trajeto, os ônibus estão rodando mais rápido?

Lista de problemas/soluções

Por Guilherme Wojciechowski*

A foto que ilustra o texto foi tirada em 29 de março de 2019, pela comitiva da Prefeitura de Foz do Iguaçu, e amplamente repercutida nas redes sociais.

Nela, é possível ver o prefeito Chico Brasileiro, o vice-prefeito Nilton Bobato, vereadores e representantes da prefeitura e do Consórcio Sorriso anunciando a grande notícia do momento: a chegada de 15 ônibus novos, com ar-condicionado, ao transporte coletivo iguaçuense.

De lá para cá, foram seis meses até que, em 28 de setembro de 2019, os dois primeiros ônibus na cor azul, climatizados, começassem a rodar na primeira linha, a “245 – Três Lagoas/Praia”.

Não cabe a mim analisar as questões políticas, econômicas e tributárias que levaram a essa demora. O objetivo deste texto é avaliar situações ocorridas nos três primeiros dias de operação e contribuir apontando soluções.

Fora o dia da apresentação, os personagens da foto não voltaram a subir nos “ônibus azuis”. Eu andei duas vezes, em horários de pico, e tenho recados para eles.

Por que a linha “245 – Três Lagoas/Praia”?

A “Três Lagoas/Praia” é uma das linhas mais extensas do transporte coletivo local. Seu itinerário começa no Porto Dourado, às margens do Lago de Itaipu, passa pelo bairro Três Lagoas, e, ao contrário dos outros itinerários que cobrem a região, vai “por dentro”, pela Avenida Gramado, até a região da Vila A.

Em seu trajeto, atende bairros como Três Bandeiras, Lancaster e Vila A, saindo no trevo do Charrua e seguindo até o centro via Avenida Costa e Silva. Na área central, passa pela JK, Jorge Schimmelpfeng e Almirante Barroso, de onde segue até a República Argentina e reinicia o caminho rumo ao bairro.

Entre as linhas de Três Lagoas, é a menos usada pelos moradores de lá, já que demora mais que as que vão ao centro via BR-277 e marginais. Além disso, conta com apenas dois carros e passa só de hora em hora, na faixa entre 6h e 19h, deixando de operar no período noturno.

A 245 foi escolhida, portanto, por ser mais “tranquila” para alterações de trajeto, além de levar a um atrativo considerado turístico, a Prainha de Três Lagoas, atualmente fechada para reformas.

Para deixar a linha mais atrativa, além dos ônibus com ar-condicionado, o Instituto de Transportes e Trânsito de Foz do Iguaçu (Foztrans) mudou o itinerário, que não desvia mais da João Ricieri Maran para o Jardim Colombelli e foi esticado até a praça central do bairro Três Lagoas, para pegar mais passageiros.

O ar-condicionado funciona?

Eis a primeira e inevitável pergunta. Andei duas vezes nos “ônibus azuis”, ambas no calor do meio-dia. E a verdade é que sim, funciona, embora tenha faltado uma avaliação com o veículo lotado.

No primeiro dia, o ônibus estava com a lotação abaixo da normal, mesmo para um sábado, com bancos sobrando. Passageiros próximos às saídas de ventilação chegaram a relatar frio. Já no primeiro dia útil, segunda-feira, com lotação quase normal (mas ainda abaixo), a climatização também deu conta do recado.

E este negócio de só parar em alguns pontos?

O Foztrans argumenta que, para que a climatização funcione, os ônibus não podem parar e abrir as portas em todos os pontos. Alega também que a compra de equipamentos do tipo “cortina de ar”, ao custo de R$ 22,5 mil para cada veículo com três portas, não resolveria o problema.

Assim sendo, a opção foi por retirar pontos do trajeto, com os “ônibus azuis” parando apenas naqueles identificados com o adesivo de “ar condicionado”, normalmente grudado na beirada da cobertura.

A marcação dos pontos da linha 245, porém, começou a ser feita menos de 72 horas antes da entrada em operação dos “ônibus azuis”, terminando na véspera.

Na quinta-feira, o ponto da Avenida Silvio Américo Sasdelli, esquina com ruas Guariba e Rio Claro, onde só a 245 passa no sentido centro, estava adesivado. Horas mais tarde, foi excluído da lista. No centro, a adesivagem ocorreu na sexta. Nos pontos desativados, nenhum cartaz ou informação sobre a mudança.

A lista com os locais de embarque e desembarque também não foi divulgada previamente aos passageiros, que foram descobrindo do pior jeito: quando faziam sinal, mas o ônibus passava direto; ou quando puxavam a campainha para descer e não eram atendidos.

A primeira divulgação de um mapa com os pontos de parada, nos canais oficiais da prefeitura e Foztrans, ocorreu somente na tarde dessa segunda-feira, terceiro dia de operação. Dentro dos ônibus, ainda não há qualquer placa ou cartaz informando aos passageiros quais são os pontos de desembarque.

Com quais critérios foram escolhidos os pontos?

Critérios geográficos, para dar maior espaçamento entre uma parada e outra. Faltou, entretanto, levantamento mais detalhado sobre quais pontos são realmente utilizados pelos passageiros da linha.

Ao longo da Avenida Costa e Silva, são só três pontos (shopping, rodoviária e rotatória da Jules Rimet). Quem estiver vindo do centro e puxar a campainha para descer no ponto da TV Naipi será obrigado a desembarcar 1,3 quilômetro adiante, na esquina da rodoviária, e voltar caminhando.

Na Avenida Silvio Américo Sasdelli, todos os quatro pontos entre a UPA e a Vila A foram retirados, deixando um “vazio” de 1,3 quilômetro, e com um agravante: a 245 é a única linha que trafega pelo trecho no sentido centro (as demais, 210 e 250, apenas cruzam esquinas da avenida em seu itinerário).

Com menos pontos no trajeto, os ônibus estão rodando mais rápido?

A resposta para essa pergunta, incrivelmente, é… não. Isso porque a tabela de horários da linha não foi alterada. O motorista que sai do Porto Dourado às 11h10 continua tendo de chegar ao centro às 12h, com 50 minutos de trajeto cronometrado. Para não chegar adiantado, a opção é andar mais devagar.

O passageiro está, inclusive, demorando mais. Nessa segunda, primeiro dia útil, embarquei no ponto da Almirante Barroso (Caesp) às 12h14, horário de sempre. Desci no ponto da UPA/Santa Inês às 12h39, horário de sempre. Cheguei em casa às 12h48, bem depois do horário, por caminhar três quadras a mais.

Os benefícios do ar-condicionado no ônibus “derretem” à medida que o passageiro precisa andar distância extra, sob o “Sol iguaçuense”, até uma das paradas habilitadas.

Abaixo, minha colaboração para que ajustes sejam feitos e o sistema efetivamente funcione, algo que é do meu total interesse, já que sou passageiro:

Lista de problemas/soluções:

Passageiros não foram informados previamente sobre a lista de pontos habilitados

Correr atrás para reverter o tempo perdido, divulgando nos canais oficiais da prefeitura/Foztrans mapas atualizados e tabelas de horário (na tarde dessa segunda foi feita a primeira publicação). Disponibilizar, na parte envidraçada dos pontos (onde houver), lista de locais de parada e horários dos “ônibus azuis”. Atualizar o site do Foztrans, que segue com a tabela antiga. Recarregar o aplicativo Moovit.
 

Nos pontos desativados, não há nenhuma placa ou cartaz informando sobre as mudanças

Afixar cartazes informando sobre a mudança e indicando quais são os pontos mais próximos.
 

Dentro do ônibus, não há nenhuma informação sobre quais são os pontos de desembarque

Disponibilizar em local visível, preferencialmente próximo às portas, cartaz ou placa com os locais onde o ônibus está parando. Orientar cobradores e motoristas para que perguntem aos passageiros qual o destino e informem, em caso de dúvida, qual é o ponto mais próximo para descer.

 

Pontos com grande movimento de passageiros foram excluídos do itinerário da linha

Reinserir os pontos da Costa e Silva (TV Naipi), Costa e Silva (Foztrans/Ginásio Costa Cavalcanti) e Silvio Américo Sasdelli (fundos do Colégio Ayrton Senna), além de outros que se façam necessários.

Em vias como a Costa e Silva e a Silvio Sasdelli, a distância entre os pontos ficou muito grande

Reabilitar pontos intermediários, como sugerido na resposa anterior.

Pontos em locais onde a linha 245 é a única no sentido centro que foram desativados

Reabilitar pelo menos um dos pontos excluídos, como na Silvio Américo Sasdelli, entre a UPA e a Vila A, no trecho de 1,3 quilômetro que ficou descoberto; ou aumentar a frequência dos ônibus de linhas que passam próximo, como a 200 (Gleba Guarani), 210 (Parque Imperatriz) e 250 (Três Bandeiras).

Velocidade média do trajeto não aumentou, pois os horários de saída do bairro e de passagem no TTU continuam os mesmos

Modificar as tabelas considerando a nova realidade, reduzindo o intervalo médio de 60 minutos entre um ônibus e outro. Com isso, a cada seis voltas, por exemplo, seria possível fazer uma a mais, encurtando o tempo de espera no ponto e beneficiando o passageiro.

Como poderia ter sido feito?

Muitos dos problemas poderiam ter sido evitados com ações simples, como diálogo prévio com os passageiros e análise detalhada de quais são os pontos efetivamente usados na linha. Faltou, ainda, comunicação (a adesivagem dos pontos sequer estava pronta no dia anterior à entrada dos “ônibus azuis”).

Em vez de alterar o trajeto já existente, o Foztrans poderia ter optado por criar uma linha “Expresso Três Lagoas/Centro”, adicionando algo novo e positivo ao sistema. Bastaria readequar linhas similares, para que “cedessem” os carros necessários, sem precisar aumentar a frota em circulação.

Importante: os demais coletivos climatizados devem entrar em operação nos próximos dias, cobrindo as regiões do Parque Nacional (3/10), Morumbi (5/10), Porto Meira e Vila C (10/10), completando os primeiros 15 veículos. Até o fim de janeiro de 2020, outros dez devem ser incluídos entre os 150 da frota.

* Guilherme Wojciechowski é radialista, passageiro das linhas 210, 245 e 250 e pesquisador de temas ligados ao transporte. Foi um dos organizadores, em 2016, do 1º Fórum de Mobilidade Urbana de Foz do Iguaçu (Mobifoz 2016), que deu origem e nome ao atual plano municipal de mobilidade.
 

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