Há um ano, Marcelo Arruda era vítima da política contaminada pelo ódio

O servidor público de Foz do Iguaçu e militante do PT foi assassinado na própria festa de aniversário, em 9 de julho.

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Devoção cega a discursos e idolatria por personalidades engrossam o caldo de cultura que espalha ódio e violência entre o debate político. Há exatamente um ano, em 9 de julho de 2022, Marcelo Arruda, servidor público de Foz do Iguaçu, pai de quatro filhos e esposo, foi vítima desse ambiente irascível constituído no país.

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O guarda municipal, tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT), comemorava o aniversário de 50 anos em uma festa privada, com amigos e familiares. A decoração era composta de imagens do seu partido e de Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente da República. O clube em que ocorria o evento foi invadido pelo o policial penal bolsonarista Jorge Guaranho, que assassinou Marcelo Arruda a tiros.

O Ministério Público do Paraná (MPPR) enfatizou que “salta aos olhos a motivação política do crime”, ao denunciar o autor dos tiros por homicídio duplamente qualificado, devido a “motivo fútil”. Os promotores entenderam que o assassinato foi em razão de diferença político-partidária, ainda que a legislação não apresentasse a tipificação de “crime político”.

Atuante na comunidade, pai e esposo

Agente público atuante, Marcelo Arruda encampou muitas pautas, seja como dirigente sindical e partidário ou ao organizar e participar de eleições e de outros movimentos de caráter coletivo. Para a família, porém, era o pai e o esposo. Neste domingo, 9, familiares e amigos realizaram ato de memória, paz e cobrança por justiça, em uma praça central.

“É hoje! Deveríamos estar mais uma vez comemorando seu aniversário. Não há um dia que não pense em você”, escreveu em suas redes sociais Pamela Silva, esposa de Marcelo. O casal teve o filho Pedro, que acabara de nascer – tinha somente 40 dias – quando o pai foi assassinado.

Como liderança sindical, Marcelo Arruda foi um dos responsáveis pela conquista de guardas municipais iguaçuenses que obtiveram, em lei, garantia de ascensão e enquadramento funcional, reivindicações antigas da classe. Foi uma das últimas causas do servidor público, e a legislação levou o seu nome, como homenagem.

Ainda como reconhecimento, o prédio público da Guarda Municipal de Foz do Iguaçu foi denominado com seu nome. Antes, quando um membro do governo municipal sugeriu extinguir a Guarda Municipal, Marcelo Arruda foi um dos principais defensores da instituição.

Morto na frente de familiares e amigos

Ao expor detalhes das circunstâncias em que Marcelo Arruda foi morto, na conclusão da denúncia, aceita pela Justiça, os promotores exibiram imagens de câmeras de segurança e depoimentos de testemunhas. Na reconstrução daqueles momentos, Guaranho chegou ao clube perto das 23h40, sem convite ou permissão.

O servidor público federal fazia tocar no seu carro música em que o refrão celebrava o ex-presidente Jair Bolsonaro (PT). Depois de discutir com a vítima e outros convidados da festa, deixou o local com a mulher e o filho. Ele retornou cerca de 11 minutos depois, aos gritos de “Aqui é Bolsonaro”, abrindo os portões, mesmo com a negativa do porteiro.

Testemunhas narraram que Guaranho dizia, instantes antes de atirar, que petistas tinham que morrer. Ele disparou dois tiros em Marcelo Arruda, que caiu, mas ainda conseguiu revidar, acertando o algoz uma vez, ato compreendido como sendo em legítima defesa pelo MPPR.

Júri popular

O réu pelo assassinato de Marcelo Arruda está preso no Complexo Médico Penal em Pinhais (PR), perto da capital Curitiba, desde agosto. Ele será levado a júri popular, ainda sem data marcada, por determinação do juiz da 3.ª Vara Criminal, Gustavo Germano Arguello, que argumentou ser preciso garantir a ordem pública pela gravidade do crime. A defesa desistiu de recorrer contra essa decisão.

Outro lado

Em uma das audiências do caso, a mãe de Jorge Guaranho, Dalvalice Rocha, afirmou que o filho não é assassino e o que houve foi uma tragédia. “Tudo começou porque ele passou com a música do mito, o rapaz se alterou e jogou pedras”, declarou. Afirmou, também, na época, que o filho não se lembra da tragédia, só que estava no carro.

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