Popeye e as memórias do Rio Paraná 

Marinheiro e pescador de Foz do Iguaçu fala sobre as cheias, secas e histórias de um dos rios mais importantes do país  

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H2FOZ – Denise Paro 

As memórias de Moacir Zimermam fluem no ritmo das águas de um rio. Mais conhecido em Foz do Iguaçu como Popeye, o marinheiro de 65 anos cresceu à beira do Rio Paraná e tem histórias de cor para contar sobre cheias e secas desse gigante das águas.

Popeye nasceu em São Jorge do Oeste (PR) e aos 2 anos de idade chegou a Foz do Iguaçu. Fez cursos na Marinha, tornou-se marinheiro fluvial e piloto de barcos. Foi aí que ganhou de turistas estrangeiros o apelido do personagem de quadrinhos criado em 1929 nas tirinhas de quadrinhos Thimble Theatre (Teatro em Miniatura), o Marinheiro Popeye. Na época, 1989, Moacir trabalhava de piloto de barco no Macuco Safari. A caracterização do personagem e a vida envolta nas águas lhe renderam até participação em filmes e gravações.

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Ao longo do tempo, Popeye acompanhou a construção de Itaipu e as transformações do Rio Paraná provocadas pela barragem. Quanto à seca atual, ele conta que nunca viu algo semelhante: “Já deu umas duas baixas grandes, mas não tanto como essa”.

Quando as águas do Rio Paraná ficaram em nível baixo para construção da barragem, ele lembra de ter se deparado com o mastro de um barco inglês naufragado. Também recorda o cenário do rio antes da Itaipu, bem diferente do atual. “Há 50 anos isso aqui era um areial só e hoje tem somente pedra [referindo-se à areia que não é vista mais no rio].”

Legenda

Entre os anos 1970 e 1990, Popeye dedicou-se à pesca profissional. Com a construção de barragens que influenciaram no curso do Rio Paraná, resolveu deixar a atividade e tornar-se marinheiro.

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Mas ele ainda relembra bem o que chama de “tempos bons de peixes”, nos quais era possível pescar surubi, dourado, pacu, jaú, corimba, entre outras espécies. Muitos desses peixes chegam à usina de Yacyretá, no Paraguai, mas não conseguem mais acessar essa porção do Paraná, diz.

A seca 

Uma das secas mais drásticas dos últimos anos, com a baixa das águas o Rio Paraná revelou segredos escondidos nas profundezas. Apareceram carros abandonados, jet skis, relógios contrabandeados e barcos. O cenário, inédito para muita gente, atrai a atenção de muitos curiosos.

Conforme a Itaipu, o mês de abril ficou marcado por uma vazão de 6,3 milhões de litros por segundo, acima da barragem da usina, a menor registrada desde o início do monitoramento hidrológico feito pela hidrelétrica, em 1983. A segunda menor vazão é de agosto de 2001 – 6,7 milhões de litros por segundo. Para se ter uma ideia da diferença, em maio a média é de 11 milhões de litros por segundo.

O caminho do Rio Paraná

Oitavo do mundo em extensão, o Rio Paraná (“como o mar” ou “parecido com o mar”, em tupi) tem 4.480 quilômetros. Nasce na divisa entre Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul, a partir da junção dos rios Grande e Paranaíba. Tem como principais afluentes os rios Tietê, Paranapanema, ambos no estado de São Paulo, e o Iguaçu, cujo berço fica na região de Curitiba.

Antes de encontrar o Rio Iguaçu em Foz do Iguaçu, as águas do Paraná fluem pelos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, onde marcam a divisa dos dois estados, na parte mais alta. Quando chega ao estado do Paraná, o rio demarca a fronteira com o Paraguai até encontrar o Rio Iguaçu no Marco das Três Fronteiras.

Até chegar à Argentina para formar a Bacia do Prata, o Paraná passa por quatro hidrelétricas: Jupiá, Ilha Solteira e Porto Primavera, em São Paulo, e Itaipu.

HISTÓRICO DAS 5 PRINCIPAIS SECAS NO RIO PARANÁ

Menores valores (m³/s)   Mês/Ano
1  6.310 abr/20
2  6.729 ago/01
3 7.115 out/88
4 7.297 set/01
5 7.350 ago/19

HISTÓRICO DAS 5 PRINCIPAIS CHEIAS NO RIO PARANÁ

Maiores valores (m³/s)   Mês/Ano
1 31.834 jun/83
2  30.174 fev/83
3 28.296 mar/83
4 26.110 fev/97
5 25.014 jan/90

Fonte: Itaipu Binacional

 

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