
A qualidade da infraestrutura rodoviária do Paraguai é tão precária que o país ficou em 126º lugar entre 141 países avaliados pelo Fórum Econômico Mundial, em 2019. Mas isso está mudando.
O Paraguai finalmente se virou para a região do Chaco, "a metade ocidental seca e desolada do Paraguai", o que representou "uma reversão da geopolítica regional de longa data, (já que) Assunção historicamente olhou para o leste", pelos negócios com seus vizinhos Brasil e Argentina.
E esta "virada histórica" do Paraguai não passou despercebida pelos especialistas internacionais. A organização Global Americans, que reúne especialistas do setor privado e da academia, publicou em seu site (https://theglobalamericans.org) um artigo com a resposta à pergunta do título: "Pavimentando um novo Paraguai?"
No artigo, assinado pelo historiador Greg Ross, que é assistente do Centro para a Abertura e Desenvolvimento da América Latina (Cadal), ele conta que equipes de trabalhadores estão asfaltando uma rodovia "com os olhos no oceano". A rodovia é o trecho central do corredor bioceânico, uma estrada transnacional que ligará os oceanos Atlântico, no Brasil, e Pacífico, no Chile.
"O presidente paraguaio Mario Abdo Benítez está apostando que a rota se tornará a espinha dorsal da nova geopolítica regional – com o Paraguai na vanguarda", diz o articulista.
Ele lembra que, no ano passado, Brasil e Paraguai acertaram a construção de uma ponte para conectar Porto Murtinho e Carmelo Peralta. A ligação entre essas duas cidades, no alto Rio Paraguai, vai se tornar um cruzamento internacional ao longo da primeira fase de 277 quilômetros do Corredor Bioceânico.
As obras nesta fase estão em andamento entre Carmelo Peralta e o centro de Chaco, em Loma Plata; a partir daí, a rota de quase 2.000 quilômetros continuará para as províncias argentinas de Jujuy e Salta e, finalmente, para os portos chilenos de Antofagasta e Iquique.
O projeto transnacional, lembra ainda o historiador, foi iniciado em 2015, quando o então presidente paraguaio Horacio Cartes e seus colegas da Argentina, Brasil e Chile, se reuniram em Assunção para coordenar a construção.
No Paraguai, o corredor promete uma nova saída para os oceanos Atlântico e Pacífico para as exportações de soja e carne do Chaco, que atualmente dependem do Rio Paraguai para alcançar mercados internacionais. Os embarques da fronteira Brasil-Paraguai para Antofagasta levam em média dez dias por água, mas, segundo o Ministério das Relações Exteriores do Brasil, a nova rota terrestre reduzirá a viagem para três dias, beneficiando a integração comercial sul-americana.
Investimentos

"Há muito negligenciado por Assunção, o Chaco se tornou central na agenda econômica do presidente Abdo. A nova rodovia é o primeiro metro pavimentado no Departamento do Alto Paraguai, e a ponte internacional será apenas a terceira a atravessar o Rio Paraguai em seu percurso de mais de mil quilômetros pelo país. O corredor é a peça central de uma campanha governamental mais ampla, de US$ 2,5 bilhões, para investir no Chaco, número pequeno para um país com um PIB de US$ 40 bilhões."
Para garantir a melhoria de sua infraestrutura rodoviária, o Paraguai recorreu recentemente a investidores privados para financiar projetos en larga escala. O governo removeu obstáculos legais que bloquearam as licitações privadas para projetos públicos com a aprovação da "Lei Chave na Mão" em 2016. Os financiadores internacionais tornaram-se cada vez mais confiantes nos fortes fundamentos macroeconômicos do país.
As obras no Corredor Bioceânico, que têm suporte num título de US$ 433 milhões emitido no mercado internacional, terão sua primeira fase concluída em 2023, segundo a previsão.
Mais ao sul, um consórcio de empresas paraguaias recentemente finalizou os planos de construir uma ponte que liga Assunção a Chaco'i. A ponte, esperam os planejadores, conterá a expansão urbana da capital, redirecionando o desenvolvimento de leste a oeste, do outro lado do rio para o Chaco. Os investidores já estão comprando grandes extensões de terra ao longo da margem oeste do rio, apostando muito no Chaco como uma nova frente para o crescimento econômico e demográfico.
Outros projetos no Chaco contam com meios mais tradicionais de financiamento: instituições multilaterais de empréstimos e o governo paraguaio estão por trás de um projeto de reconstrução em andamento de US$ 560 milhões da Rota da Transchaco, um trecho de 559 quilômetros de Assunção em direção à fronteira com a Bolívia.
Laços com a Bolívia
O Chaco paraguaio, devido a sua grande extensão escassamente povoada, "representa um obstáculo formidável para uma maior integração bilateral", diz Greg Ross. "No entanto, como o desenvolvimento promete chegar mais longe no Chaco, o presidente Abdo pressionou por laços mais fortes com a Bolívia. Ele visitou La Paz em junho passado para comemorar o aniversário do tratado de paz da Guerra do Chaco e, em novembro, expressou a disposição do Paraguai de oferecer asilo político a Evo Morales, apesar da divisão ideológica entre os dois líderes."
A Bolívia também encontrou motivos crescentes para abraçar a fronteira paraguaia. Depois que o Tribunal Internacional de Justiça decidiu em 2018 que o Chile não tem obrigação de negociar com a Bolívia, na campanha deste país por acesso soberano ao Pacífico, as exportações bolivianas olham o Chaco e o alto rio Paraguai como pontos de vista cada vez mais viáveis para os mercados internacionais.
Antes de sua queda, Morales chamou a década de 2020 de "Década do Atlântico", conclui o historiador.
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