A raiz do problema: os tocos de árvores

Arborização e mobilidade urbana chocam com tocos de árvores pelas vias públicas

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

O tocos de árvores estão por todos os lados e lembram que ali já existiu uma vida. Árvores cortadas ou mortas, espalhados pelas calçadas das cidades como se fossem  espécies de mausoléus. Mostram que ali um dia teve uma galhada verde, talvez flores e frutos, abrigou animais, deu sombra a um carro ou ser vivo, ajudou a infiltrar a água no solo, embelezou, refrescou, filtrou o ar. E agora virou um estorvo.

Se manter uma árvore para muita gente é um incômodo, porque elas sujam, tiram a vista das placas de publicidade, entre outros motivos, pode ser que o molho saia mais caro que o peixe, para quem deseja tirá-la dali. E boa parte dos casos resulta em calçadas intransitáveis e devastação das árvores urbanas.

Normalmente, os municípios têm equipes de podas e cortes e regulamentam quem é que pode mexer na arborização urbana; se quem planta e corta é só o município, por meio de empresas terceirizadas, ou se o proprietário do imóvel pode fazer a contratação. Enfim, é tudo regulamentado. Se é fiscalizado? Aí já são outros quinhentos. Também, cada município regula se é obrigatória ou não a retirada do toco após o corte. Bom, agora a coisa descamba para terra de ninguém.

Gostaria de que quem cuida desse setor nas cidades e recebe bons salários transitasse pelas calçadas ou andasse de cadeira de rodas, muletas, bengalas  ou com carrinho de bebê. Se para quem não tem dificuldade alguma de locomoção já é difícil, imagine para quem necessita de mais atenção!

As calçadas, salvo raras exceções, parecem pistas de obstáculos. Além de todos os penduricalhos, mesas, lixeiras, painéis publicitários, bancas, carros, entulhos… estão os tocos secos. Algumas vezes até são usados como banco ou para pôr lixo em cima.

Ocorre que para justificar o corte de uma árvore, muitas vezes, alega-se que as raízes estouraram a calçada, que a árvore causa risco, blablablá… Porém, em muitos casos, as mesmas raízes que motivaram o corte continuam no local. Nem todo mundo está disposto a pagar uma média de R$ 400 para a retirada do tronco e, ainda por cima, custear as despesas para refazer a calçada.

Para ajudar, muitos tocos são colônias ativas de cupins subterrâneos que vão tomando conta das cidades. E quando uma outra mudinha é plantada perto do toco podre, essa já estará condenada a ser fonte de comida e abrigo. E mais: as raízes da árvore nova vão competir com aquelas velhas, irão entrelaçar-se em material decomposto – e, quando os ventos chegarem com força, teremos o resultado.

Arborização urbana é coisa séria. Toda cidade deveria ter uma secretaria para pensar nisso dia e noite. Quer cortar a árvore? É obrigado a retirar o tronco e plantar outra. Plantar, regar e cuidar. Vai plantar outra? Tem de ser espécie adequada para local com ou sem fiação. Com passagem intensa ou não de pedestres e assim sucessivamente.

Cidade sem árvore é uma coisa sem vida. Eu não sei como tanta gente é indiferente à importância das árvores e não se incomoda com a quantidade de tocos que denunciam o descaso com as árvores. Mas pior ainda que os tocos à vista é quando a pessoa faz todo o trabalho de retirada e, em vez de plantar uma nova espécie, tapa o buraco onde havia uma vida. Aí é jogar a pá de cal mesmo e enterrar a tal da sustentabilidade.

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