Terra em transe: é preciso escutar os cientistas

O impacto dos eventos climáticos extremos já faz parte de nosso cotidiano.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Não dá nem tempo de acompanhar o noticiário. É uma tragédia atrás da outra. Milhares de famílias desabrigadas, pessoas desaparecidas, natureza devastada. No meio disso tudo, os animais domésticos, os silvestres. Todos padecendo. E a economia indo por correnteza abaixo, soterrada, junto com vidas e sonhos.

O Rio Grande do Sul, tem vivenciado ciclones-extratropicais nos últimos três meses. A Amazônia está ardendo em chamas, de novo. No Marrocos, o terremoto, da sexta, dia 08, até o momento aponta para 3 mil mortos. Na Líbia, o rompimento de duas barragens, após fortes chuvas, no domingo, 10, motivada pela passagem do furacão Daniel, deixou um rastro de dor e aflição. As autoridades já estimam mais de 20 mil mortos.

Quando pensei em escrever esse texto, estava muito calor. Fui buscar uma água, fechei a página e voltei algumas horas depois. E o termômetro já tinha saído do verão e saltado para o inverno. Tira a blusa faz frio, coloca a blusa faz calor! Parece mesmo que está tudo virado do avesso.

Já sabemos que as vítimas que mais sofrem diante das tragédias ambientais, são as comunidades mais pobres. Mas dependendo da intensidade, não há classe social que passe ilesa.

No caso da Líbia, não foi Daniel, o furacão, o único culpado. Estamos falando de uma cidade chamada Derna, que abrigava duas barragens e que, diante da quantidade de chuva avassaladora na região, tiveram suas estruturas abaladas. Assim, um verdadeiro tsunami de lama, com 7 metros de altura varreu a cidade de 100 mil habitantes.

Moradores de Derna afirmam que já havia o alerta sobre a necessidade de reforçar as estruturas das barragens. Assim como os meteorologistas brasileiros chamavam a atenção para a intensidade das chuvas no Rio Grande do Sul. Do mesmo como os cientistas do mundo todo destacam com insistência os efeitos das mudanças climáticas.

O que aconteceu em Derna lembra nossas tragédias mais recentes, como Mariana, 2015 e Brumadinho, em 2019. Tragédias que tiveram a mão pesada da natureza, mas em muitos casos com a participação direta dos homens também.

Quando as chuvas de verão alagam áreas centrais ou quando um andarilho morre de frio, congelado na rua, o problema é atribuído ao tempo, quando na verdade muitas vezes é questão estrutural. Aliás, o impacto das interferências humanas é tão grande, que não tem como dizer que o excesso ou falta de chuva é por conta da natureza também.

Os gestores públicos e a população, mais especificamente, enfrentarão cada vez mais problemas com relação aos impactos que as intercorrências da natureza provocarão. Além de tentar se reerguer dos prejuízos nos locais devastados, há que se pensar que o problema poderá se repetir nas mesmas áreas, como quando o En Niño interfere na intensidade das chuvas.

No caso do RS, o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais), emitiu o primeiro alerta em 31 de agosto. Ainda sob o impacto da tragédia, o IPH – UFRG (Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), lançou nota em 11 de setembro, questionando os motivos pelos quais a população permaneceu nas regiões, mesmo com os alertas de perigo eminente.

Por que, então, as pessoas tiveram que subir nos telhados das casas? Por que estas pessoas
não foram encaminhadas, previamente, para locais seguros, de preferência com pelo menos
alguns dos seus pertences? O que aconteceu é que a cadeia de ações de prevenção,
preparação e alerta dos impactos da inundação não funcionou adequadamente. As pessoas
permaneceram nas suas casas até o instante em que já era tarde demais para sair. Isso pode
ter acontecido por uma série de motivos. Talvez as pessoas não soubessem que moravam
em local perigoso, ou permaneceram porque não foram avisadas, ou ainda porque
consideraram que os avisos não tinham credibilidade. (IPH-UFRG)

Se não há mais tempo para evitar determinadas tragédias anunciadas, como em áreas ocupadas muito próximas a regiões com frequentes deslizamentos, há que se pensar na contenção de danos. E não há dano maior que a perda de vidas. Gestores públicos precisam usar as tecnologias e o conhecimento científico disponíveis para evitar as tragédias ou no mínimo, reduzir sua magnitude.

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