Governo argentino sofre pressões internas e externas pra reabrir fronteiras

Por enquanto, pedidos caem em ouvidos moucos na Casa Rosada, sede do governo em Buenos Aires.

Vc lê o H2 diariamente? Assine o portal e ajude a fortalecer o jornalismo!

Por enquanto, pedidos caem em ouvidos moucos na Casa Rosada, sede do governo em Buenos Aires.

Sabe o que é fazer ouvidos moucos ou ouvidos de mercador? É quando a pessoa se faz de surda pra não ouvir argumentos ou pedidos que não quer ou não pode atender.

Assim parece estar agindo o governo argentino, ante pressões de todos os lados para que as fronteiras do país sejam reabertas ao turismo internacional.

Associações ligadas ao turismo das províncias de Neuquén, Río Negro, Chubut, Santa Cruz, Córdoba, Santiago del Estero, Chaco e Santa Fe divulgaram nota pública pedindo que o governo divulgue a data em que o turista estrangeiro poderá entrar no país.

Segundo eles, isso é importante porque quem faz viagem internacional procura se programar com antecedência, conforme noticia o portal El Territorio, de Posadas, Misiones.

O setor está no desespero. Diz a nota que “depois de 18 meses de fronteiras fechadas, que provocaram quebradeiras sem precedentes na atividade turística, cremos que o turismo internacional é a ferramenta mais eficaz para a reativação em curto prazo”.

A exemplo da província de Misiones, a primeira a definir protocolos sanitários para a entrada de turistas, os empresários dessas outras províncias também admitem que sejam exigidos atestado de vacinação completa e teste negativo para covid-19, feito 48 horas antes do voo internacional ou do ingresso por fronteira terrestre, sem necessidade de quarentena.

DO PARAGUAI

Em Misiones, a vice-ministra da a Saúde do Paraguai, Lida Sosa e o chanceler Euclides Acevedo se reúnem com o governador Oscar Herrera Ahuad. Foto: Ministério de Relações Exteriores do Paraguai

O ministro de Relações Exteriores do Paraguai, Euclides Acevedo, já fez uma romaria pelas províncias argentinas, para debater e reivindicar o retorno do livre acesso entre os dois países, mas com os cuidados necessários ante a pandemia.

Ele considerou “extremamente proveitosa” a visita ao governador de Misiones, Oscar Herrera Ahuad, com quem discutiu a reativação da ponte que liga a capital da província à cidade paraguaia de Encarnación. “A vontade do governo provincial é a reabertura, claro que com as exigências sanitárias devidas”, afirmou.

Para Acevedo, a província não se nega a reabrir a fronteira com o Paraguai. “Ao contrário, têm a maior disposição. E, assim como pediram a reabertura da Ponte Tancredo Neves (entre Puerto Iguazú e Foz do Iguaçu), eles querem também a abertura da Ponte San Roque González (entre Posadas e Encarnación). Mas simplesmente dependem do Ministério do Interior e do presidente da República (da Argentina), afirmou.

NO DISCURSO

Na verdade, o chanceler paraguaio pode estar sendo otimista. A província de Misiones lucrou com a ponte fechada, já que os argentinos passaram a comprar na província o que antes buscavam em Encarnación, onde os preços sempre foram mais vantajosos.

O comércio de Posadas cresceu, houve mais investimentos em vários setores e a província foi a que mais arrecadou na Argentina, em 2020.

Mas, se conseguir a reabertura da fronteira com Foz do Iguaçu, que é vantajosa para Puerto Iguazú e a província (e é benéfica também para Foz), o governador não terá como dizer “não” aos paraguaios.

O PROBLEMA

Cristina Kirchner e Alberto Fernández: governo dividido pelas primárias. Foto Agência Télam

Além de o governo argentino ter voltado atrás na promessa de reabrir a fronteira Puerto Iguazú-Foz, hoje esta é uma preocupação que certamente nem passa pela cabeça do presidente Alberto Fernández, às voltas com uma grave crise política.

A derrota do oficialismo nas primárias, no domingo passado, provocou uma ruptura no governo, com a vice-presidente Cristina Kirchner exigindo que Fernández “honre a vontade do povo argentino”.

Ela reconheceu a “fratura” no governo e criticou duramente a política econômica de Alberto Fernández, que resultou na “catástrofe política”, na expressão dela.

As primárias foram para avaliar que partidos e candidatos podem disputar as eleições para deputados e senadores em 14 de novembro. A oposição teve mais votos e entra na disputa mais forte, o que provocou a crise no governo.

Ante a pressão política que o governo argentino vive e com as eleições para deputados e senadores a menos de um mês, quem irá se lembrar de fronteiras, turismo, apelos de regiões distantes do centro de decisão, que é Buenos Aires? Pois é.

SEM PRAZO

Ponte que liga Posadas a Encarnación. Há um ano e meio, só passam caminhões. Foto La Nación

Mas o chanceler Euclides Acevedo não desiste. Ele disse que vai iniciar imediatamente a gestão para que o presidente Mario Abdo Benítez converse com seu par argentino e explique a importância de reabrir as fronteiras, embora nunca em detrimento da saúde pública.

Da mesma forma, quase em tom de súplica, como diz a imprensa argentina, os representantes do turismo das várias províncias pedem a atenção do governo, para “não ter que fechar nossos empreendimentos”.

Diz trecho da nota: “Somos todos profissionais independentes, trabalhadores e membros de pequenas e médias empresas, que representamos a grande força produtiva do país, a grande geradora de emprego, a verdadeira indústria nacional sustentável”.

A vice-ministra de Saúde do Paraguai, Lida Sosa, que acompanhou o chanceler Euclides Acevedo na visita ao governo da província de Formosa, diz que uma das condições citadas pelas autoridades provinciais foi que o Paraguai precisa aumentar sua taxa de imunização contra a covid-19.

Ela contou que foram apresentados os números da pandemia no Paraguai, que está atualmente com baixos índices de casos e mortes por covid-19 (apenas dois óbitos registrados na quinta-feira, 17), mas é realista: “Esta abertura de fronteira não será a curto prazo”.

NA CAPITAL

De Buenos Aires pode vir mais uma pressãozinha sobre o governo nacional da Argentina. A prefeitura realiza na próxima segunda-feira, dia 20, o evento “Back to BA” (volta a Buenos Aires), com participação de profissionais argentinos e internacionais de diversas áreas.

No evento, conforme noticia o portal brasileiro Mercado e Eventos, Buenos Aires vai mostrar como está se preparando para receber de volta visitantes, estudantes, nômades digitais e investidores.

Para isso, será preciso reabrir o país ao turismo. O tema principal, provavelmente, girará em torno de datas e possibilidades.

“GUARÊ – Podcast: “Ponte da discórdia, transporte coletivo e outras surpresas mais”

Vc lê o H2 diariamente? Assine o portal e ajude a fortalecer o jornalismo!
LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.