A arte da falcoaria no céu de Foz do Iguaçu

Centro de Falcoaria recebe visitantes e trabalha com educação ambiental e resgate histórico dessa prática milenar.

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Centro de Falcoaria recebe visitantes e trabalha com educação ambiental e resgate histórico dessa prática milenar.

Rubi voa esbanjando leveza, como uma pluma no ar. No vaivém, abre as asas para o mundo. A ave segue um rumo certeiro, na trajetória dos falcoeiros. Rubi e outras seis aves de rapina fazem parte de um seleto plantel que pode ser visto no Centro de Falcoaria Mautone, um atrativo turístico singular situado no bairro Porto Belo, em Foz do Iguaçu.

Inaugurado em fevereiro do ano passado, o Centro de Falcoaria recebe visitantes para observar os voos das aves. Faz também um trabalho de educação ambiental e resgate histórico da falcoaria, uma prática milenar cultivada por nobres no passado.

VÍDEO – Produção Marcos Labanca

No plantel há dois falcões-saker, um falcão-peregrino, um falcão-de-coleira, uma águia-chilena, dois gaviões-asa-de-telha, além de um gavião-carijó e dois urubus-de-cabeça-preta que foram resgatados do tráfico e levados ao centro. Apesar de não serem aves de falcoaria, os urubus respondem bem às técnicas aplicadas e sentem-se acolhidos.

Falcão-peregrino, Considerado o símbolo da falcoaria – Foto: Marcos Labanca

Rubi integra a família dos gaviões. Sirius, que também faz parte do plantel, é um falcão-peregrino (Falco peregrinus), de 2 anos de idade, da subespécie cassini. Considerado o símbolo da falcoaria, o falcão-peregrino é o ser vivo mais rápido do mundo, explica o biólogo e falcoeiro Bruno Nogueira.

A caça com os falcões é chamada de altanaria. Eles são animais de alto voo que caçam outras aves que estejam voando e utilizam o bico para fazer o abate de presas.

Gaviões, águias e corujas são aves de baixo voo, cujo instinto é caçar animais que estejam caminhando sobre o solo. O abate das presas é feito com os pés.

As aves de rapina também são utilizadas para a vigilância do espaço aéreo de aeroportos e de outras estruturas. Em Foz do Iguaçu, o Centro de Falcoaria Mautone presta um serviço para a empresa Furnas Centrais Elétricas. As aves são levadas diariamente ao local para espantar pombos, protegendo assim os equipamentos utilizados para a transmissão de energia. A atividade é chamada de controle sinantrópico.

Biólogo Bruno Nogueira: a visão é o principal sentido dos falcões, gaviões e águias – Foto Marcos Labanca

O idealizador do centro é o falcoeiro sênior Leandro Mautone, brasileiro que viveu durante 15 anos na Itália, onde aprendeu a arte da falcoaria e trouxe a expertise para Foz do Iguaçu. Também fazem parte da equipe os biólogos Bruno Nogueira e Larissa Vasconcelos, que contam com o auxílio da estagiária de biologia Michelle Ibanez, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), que fará uma pesquisa envolvendo as atividades do centro.

Resgate histórico

A arte da falcoaria não é recente; surgiu há cinco mil anos, quando o homem caçava usando aves de rapina. Mereceu menção na obra Divina Comédia, de Dante Alighieri. A falcoaria foi criada a partir da necessidade de subsistência, mas na era cristã passou a ser uma prática esportiva e de consumo.

Bióloga Larissa Vasconcelos durante treinamento no Centro de Falcoaria – Foto: Marcos Labanca

Naquela época, a nobreza e a aristocracia aderiram à falcoaria porque era considerada um símbolo de prestígio e poder, ganhando dimensão na Europa. Um dos entusiastas foi Federico II, imperador do Sacro Império Romano-Germânico. É dele a autoria do primeiro livro de ornitologia e falcoaria publicado na história: De Arte Venandi cum Avibus, no ano de 1240. Referência na falcoaria, a obra traz o ensinamento, prática e experiência do imperador quando se trata de lidar com as aves de rapina.

Toda essa história é contada quando os visitantes passam pelo pequeno museu existente no centro, onde está exposta uma cronologia sobre falcoaria, livros, luvas dos falcoeiros e capuzes usados por diferentes espécies.

Urubu-de-cabeça-preta que foi resgatado do tráfico e levado ao centro – Foto: Marcos Labanca

As luvas de couro são utilizadas para fazer o manejo das aves de rapina, que têm garras afiadas. Os capuzes, feitos artesanalmente, também em couro, são os acessórios que mais representam a falcoaria. Criado pelos árabes, antes da era cristã, o capuz limita a visão do animal, evitando assim algum tipo de estresse, mantendo-o concentrado para obter êxito na caça. Também é usado quando a ave faz exames veterinários, para que o animal não veja o procedimento, e quando é necessário transportá-lo. “A visão é o principal sentido dos falcões, gaviões e águias, tudo que eles veem podem interpretar de maneira negativa e ameaçadora”, diz Bruno.

Outro equipamento de falcoaria criado pelos árabes foi o lure, usado nos voos dos falcões para simular a caça. No centro há também a jesse, tirinha de couro que funciona para a condução da ave, os guizos, que permitem localizar a ave de rapina, e a alcândara, uma estrutura para fixar as aves, como se fosse um poleiro – que vem dos tempos da falcoaria antiga.

Entre os equipamentos modernos, há radiotransmissor – usado para saber a localização das aves – e balança digital.

Serviço: Centro de Falcoaria
Visitas guiadas de terça a domingo, às 9h30, mediante agendamento
WhatsApp: +55 45 9828-2015
Instagram: centrodefalcoariafoz
Estudantes pagam meia, e portadores de necessidades especiais têm passe livre.

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