
Se a cidade ganhasse o desenho de um rosto, traços de quais povos e/ou etnias ela teria?
Cazuza, cantor e compositor referência no rock brasileiro dos anos 80, aconselhou em uma de suas canções: Brasil, mostra a sua cara!. Uma tarefa nada fácil para um país de dimensões continentais como o nosso.
Esse verso levantou a seguinte questão: considerando que Foz do Iguaçu é mundialmente conhecida no setor turístico e possui localização geográfica privilegiada ao fazer fronteira simultaneamente com três países (Brasil, Paraguai e Argentina), se a cidade ganhasse o desenho de um rosto, traços de quais povos e/ou etnias ela teria?
O Programa H2FOZ foi buscar a resposta para essa pergunta. Segundo André Zaca Furquim, delegado da Polícia Federal, um levantamento recente demonstrou que existem aproximadamente 11 mil estrangeiros registrados vivendo em Foz, sendo as três grandes peças do mosaico de nacionalidades iguaçuense os libaneses, os paraguaios e os chineses, respectivamente.
Diferentes motivos levaram libaneses e chineses a atravessarem o oceano e se espalharem em diferentes partes do mundo: a imigração para Foz do Iguaçu – e a imigração do Líbano para o mundo – sempre se dava após um conflito: Primeira Guerra Mundial, Segunda Guerra Mundial, depois o conflito árabe-israelense. Além disso, Líbano também viveu o conflito interno que durou de 1975 até 1990, explica Mohamad Barakat.
Os constantes conflitos aumentam a sensação de insegurança e medo, o que tira a liberdade para as pessoas irem trabalhar e seguirem com suas vidas. Por isso, para muitos, imigrar é a única opção que resta. E nas tranquilas terras iguaçuenses libaneses como o senhor Barakat encontraram o lugar ideal para recomeçarem suas vidas.
Já para Tsun Shing Tao as razões para se estabelecer na tríplice fronteira foram diferentes. Para entender é preciso conhecer um pouco da história deste chinês que fala português sem o mínimo de sotaque estrangeiro devido aos 52 anos que vive no Brasil.
Voltamos para os anos 80, quando o então jovem Tsun Shing resolve viajar para a China em busca de suas origens. Estando em Pequim conhece e se casa com a jovem Mei Zhen Tang. Vindo para o Brasil, o casal desembarca em São Paulo onde Tsun Shing viveu a infância, a juventude e na época morava seu pai além de outros familiares.
Ainda nessa época, alguns meses mais tarde, Tsun Shin trouxe a esposa e a filha Eliana Louise Tao, nascida em São Paulo, para a terra das Cataratas devido ao surgimento de oportunidades de trabalho na região: a minha história em Foz do Iguaçu começou que eu vim convidado da Loja Americana (Ciudad Del Este, Paraguai). Na época, o senhor Jonny (conterrâneo chinês) tinha em mente o projeto de transformar a loja em um shopping, edificar, organizar e me convidou. Inclusive, eu posso dizer que na época eu receei de vir, não quis vir, não. Mas aí ele insistiu, falou com meu pai. Meu pai me aconselhou ‘vai até lá, pelo menos para ver como é, dá uma satisfação e vem embora’, relembra.
Mas Foz tem uma energia diferente, um carinho com as pessoas que aqui visitam ou vivem. É o que sente o senhor Barakat: para mim, Foz do Iguaçu é a cidade sagrada. Aqui estão enterrados meus pais, meus tios, meus parentes e aqui eu vou morrer e aqui eu vou ser enterrado, diz. E para a Família Tao é algo parecido com coração de mãe, que recebe e acolhe todos os filhos – naturais ou não – com a mesma alegria e amor: eu vim para ficar uma semana e acabei ficando 27 anos. Gosto de Foz do Iguaçu porque eu trabalho em Ciudad Del Este que é um movimento que parece para mim um bairro de São Paulo e, quando eu volto para a minha casa, estou no interior. E gosto, eu gosto muito dessa vida. Não penso em sair daqui, já estou enraizado, conclui Tsun Shing.
(Portal H2FOZ)
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