Acolhimento, convivência e garantia de direitos. Está na lei, mas bem deve ser compromisso ético da sociedade e prioridade do poder público. Foz do Iguaçu será um lugar melhor para se viver tanto quanto conseguir superar slogans e assegurar efetivamente a vivência nas diferenças, que são tantas.
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O H2FOZ traz, em reportagem especial, que 4.150 moradores de Foz do Iguaçu, 1,5% dos habitantes, declaram estar inseridos no diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA). Os dados são do Censo Demográfico 2022 do IBGE.
Especialistas e familiares dizem que o número oficial pode estar maior, devido à amplitude de fatores que envolvem o TEA. Certo é que os números impõem desafios à formulação e implementação de políticas públicas em nível local.
Um deles é chegar ao diagnóstico mais preciso do número de pessoas autistas no município. A reportagem mostra que o grupo etário de 5 a 9 anos concentra a maioria dos casos, 793, e mais da metade das pessoas autistas, 2.011, tem até 14 anos.
O dado sugere que a articulação entre saúde e educação pode ser uma aliada no diagnóstico, somada à conscientização da família, profissionais e comunidade. E pontua demandas na faixa da população formada de adolescentes, jovens e adultos.
“Outra dificuldade no diagnóstico de adolescentes e adultos é que, ao longo da vida, essas pessoas podem receber diagnósticos equivocados”, adverte a psicóloga clínica Luisa Burt. Essas pessoas podem ter suas características autistas confundidas com as de outros transtornos, diz.
A Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista garante diagnóstico precoce, tratamento, terapias e medicamentos pelo Sistema Único de Saúde. E acesso à educação, proteção social, trabalho e serviços que estabeleçam igualdade de oportunidades. Não é favor, repete-se: são direitos.
Essas obrigações, o poder público deve perseguir, e a sociedade precisa internalizar em suas práticas diárias, que podem começar com o respeito em uma fila no comércio, por exemplo, a interação sem estranhamentos. Persiste desinformação e falta de capacitação.
“Foz do Iguaçu ainda precisa avançar significativamente no acolhimento e garantia de direitos das pessoas autistas”, expõe a psicóloga. Uma campanha permanente para a comunidade, propõe, é imperiosa. E qualificação dos serviços, como em saúde e educação. Acolhimento e direitos devem dar passos juntos.